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PolíticaMédio Oriente

Israel-Hamas: A posição delicada do Egito

Jennifer Holleis
10 de novembro de 2023

O Egito tem sofrido pressão externa consequente da proximidade geográfica ao conflito Israel-Hamas. A fronteira de Rafah é fundamental para levar ajuda humanitária a Gaza, mas a sua abertura preocupa o Governo egípcio.

Gazastreifen Zehntausende Palästinenser flohen vor den Kämpfen und Bombardierungen in Gaza
Foto: Hatem Moussa/AP Photo/picture alliance

O atual conflito entre Israel e o Hamas conduziu a um difícil equilíbrio para o Egipto. A nação vizinha é o principal facilitador para a entrada de ajuda humanitária em Gaza, mas traça uma linha vermelha quando se trata de acolher palestinianos deslocados.

"O posicionamento do Cairo é cada vez mais informado pelo alarmante e crescente número de mortes de civis, à medida que a invasão terrestre [em Gaza] prossegue, bem como pela pressão relatada da Europa e dos EUA para abrir a passagem da fronteira de Rafah aos palestinianos que desejam atravessá-la”, afirma Michelle Pace à DW, investigadora do Think Tank Chatham House, em Londres, e professora da Universidade Roskilde, na Dinamarca.

O presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, deixou claro que a passagem da fronteira de Rafah – a única passagem para Gaza não controlada por Israel – não se tornará uma entrada para os palestinianos vindos de Gaza.

"O Egito confirma clara e estritamente que nunca aceitará o deslocamento de qualquer palestiniano para o território egípcio”, afirmou o presidente egípcio.

"O Egito nunca aceitará o deslocamento de qualquer palestiniano para o território egípcio", disse Abdel Fattah el-Sissi, Presidente egípcioFoto: Egypt's presidency media office/AP/picture alliance

El-Sissi repetiu isto de várias formas desde a eclosão do conflito, após o ataque do Hamas, a 7 de Outubro.

Michelle Pace explica que "o Egipto recorda muito bem o que aconteceu em 1948, quando após a Nakba [catástrofe em árabe], os palestinianos que tinham sido forçados a abandonar as suas casas e aldeias não foram autorizados a regressar quando a guerra terminou”.

"O Egito acredita que esse padrão se possa repetir”, acrescenta Pace.

No entanto, Timothy Kaldas, vice-diretor do Instituto Tahrir para Políticas do Médio Oriente, diz à DW que "os civis em Gaza têm o direito de procurar asilo e só eles podem decidir como e quando exercer esse direito”.

"O Egipto é obrigado a permitir a entrada de civis, se estes o desejarem. Dito isto, os parceiros de Israel devem deixar bem claro que os habitantes de Gaza têm o direito de regressar a Gaza quando as hostilidades terminarem e os líderes de Israel devem ser avisados de que impedi-los de o fazer constituiria uma limpeza étnica”, acrescenta.

Refugiados palestinianosFoto: Hatem Moussa/AP Photo/picture alliance

Potencial ameaça à segurança egípcia

Outro argumento do Egito, contra a entrada de palestinianos, é que provavelmente seria impossível distinguir membros do Hamas de refugiados civis, explica Michelle Pace.

"Se os grupos jihadistas palestinianos estabelecerem ligações logísticas, ideológicas e operacionais com [homólogos] baseados no Sinai, o Egito teme que esses militantes possam tentar lançar ataques contra alvos israelitas a partir do território egípcio, convidando à retaliação de Israel e perturbando as suas relações com o Egito", acrescenta a professora da Universidade Roskilde.

El-Sissi também expressou esta preocupação durante uma recente conferência de imprensa no Cairo.

"O Sinai tornar-se-ia uma base para operações terroristas contra Israel, e nós, no Egito, assumiríamos a responsabilidade por isso. A paz que criamos [em 1979, quando um tratado de paz com Israel foi assinado] escaparia das nossas mãos”, afirmou o líder egípcio. 

Kenneth Roth, ex-diretor executivo da Human Rights Watch e agora professor convidado na Universidade de Princeton, nos EUA, diz que el-Sissi também é "particularmente solidário com as tentativas de Israel de esmagar o Hamas porque ele próprio usou uma violência horrível para esmagar a Irmandade Muçulmana, um homólogo, mais pacífico, do Hamas, incluindo o massacre de 817 manifestantes em 2013 na Praça Rabaa, no Cairo".  

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Repressão aos manifestantes

O último mês de conflito também teve impacto na relação entre o governo egípcio e o povo do país.

"As diferenças devido às dificuldades económicas no país, mas também devido ao autoritarismo, diminuíram um pouco", segundo Nathan Brown, professor de ciência política e relações internacionais na Universidade George Washington. 

"A atenção concentrou-se, em vez disso, na proteção das fronteiras nacionais do Egito”, acrescenta Brown.

O financiamento internacional em troca de assistência em Gaza também poderia ajudar a resolver a crise económica no Egipto. A moeda local perdeu mais de metade do seu valor desde março de 2022 e as reservas de moeda estrangeira estão quase esgotadas. O conflito em Gaza também terá impacto no turismo, um pilar da economia egípcia.

Kenneth Roth duvida que o conflito mantenha a população egípcia e o seu governo alinhados a longo prazo.

"À medida que a opinião pública passa da simpatia por Israel, após o horrível massacre de civis israelitas, a 7 de Outubro, pelo Hamas, para o horror face ao número muito maior de civis palestinianos que estão agora a ser mortos sob o bombardeamento israelita, serão inevitavelmente colocadas questões sobre a razão pela qual o governo egípcio continua a parceria com Israel", explica Roth à DW.

O governo egípcio tem tentado mitigar o descontentamento e atos de apoio à palestina no país. 

Na semana passada, as forças de segurança egípcias detiveram cerca de 70 pessoas no Cairo e em Alexandria durante comícios pró-palestinos. 

De acordo com um relatório recente da Human Rights Watch, 16 manifestantes foram acusados de "juntar-se a um grupo terrorista” e "cometer um ato terrorista”.

 

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