Itália investiga morte de jovem de origem cabo-verdiana
Rafael Belincanta (Roma)
9 de setembro de 2020
Os acusados de espancar até a morte o ítalo-cabo-verdiano Willy Monteiro negam as agressões. Esta quarta-feira, realiza-se a autópsia ao corpo da vítima. Justiça valiou a prisão em flagrante dos acusados.
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A Justiça italiana validou na manhã desta quarta-feira (09.09) a prisão em flagrante dos quatro acusados do homicídio do jovem ítalo-cabo-verdiano Willy Duarte Monteiro.
Os irmãos Gabriele e Marco B. e Marco P. permanecem detidos na penitenciária de Rebibbia, em Roma, enquanto a Francesco B. foi concedida a prisão domiciliária. No decorrer do depoimento preliminar desta terça-feira (08.09), Francesco afirmou ter visto um dos irmãos Bianchi golpear Willy.
Diante do juiz, na audiência preliminar, os acusados disseram ter apenas "apartado" uma briga na qual Willy teria se envolvido. Domenico Marzi, o advogado da família Monteiro falou em "piada" de mau gosto. "Eles decidiram fazer essas declarações, quase como se quisessem dar a entender que Willy tenha feito mal a si mesmo; é uma piada de mau gosto diante da gravidade do episódio".
Mas o advogado questionou: "Como esses jovens, que dizem não ser responsáveis pelo espancamento, ao verem um garoto caído no chão, não o levaram imediatamente ao hospital? Aqui vemos que muitas vezes algumas estratégias de defesa objetivamente não têm credibilidade alguma".
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Crime comoveu a Itália
Os irmãos Gabriele e Marco B., além de Mario P. e Francesco Belleggia foram presos em flagrante na manhã seguinte ao crime, que aconteceu por volta das 2h da madrugada de domingo, na cidade de Colleferro, a cerca de 50 quilómetros ao sul de Roma, capital italiana.
Alemanha: Organizações realizam censo sobre dia a dia da população negra no país
02:58
Willy Duarte Monteiro nasceu em Roma, filho de cabo-verdianos da ilha de São Nicolau, que há muitos anos vivem na pacata cidadezinha de Paliano. Aos 21 anos, Willy trabalhava num hotel e sonhava em jogar futebol na Roma. O crime comoveu a Itália e desencadeou uma série de protestos nas redes sociais.
O embaixador de Cabo Verde em Roma, Jorge de Figueiredo Gonçalves, declarou à DW que mantém contato frequente com os pais de Willy e que confia plenamente nas autoridades italianas.
"Esta embaixada confia no adequado processo subsequente e estará atenta, devendo simplesmente acompanhar a evolução da situação e dela dar conta às autoridades de Cabo Verde, para além de se disponibilizar em dar todo o apoio à família enlutada lá onde se vier a mostrar necessário", disse.
O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte telefonou aos pais de Willy e disse ter ficado chocado com a notícia. Já o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, numa mensagem publicada no Facebook, disse que "a morte brutal do jovem conterrâneo Willy Duarte Monteiro causa dor, mas, igualmente, indignação e revolta".
A autópsia ao corpo de Willy está marcada para esta quarta-feira (09.09). A família da vítima pediu justiça nas únicas declarações feitas aos jornais italianos.
Artigo atualizado no dia 10 de setembro às 12h44 do Tempo Universal Coordenado
Protesto contra o racismo nos cinco cantos do mundo
A morte de George Floyd move pessoas em todo o mundo. Apesar das restrições devido à pandemia da Covid-19, centenas de milhares de manifestantes decidiram sair às ruas e protestar contra o racismo sistémico.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Hadebe
Lisboa: Agir agora!
Embora a manifestação não tenha sido autorizada, a polícia permitiu que os participantes avançassem. Em Portugal, também há violência policial contra a população negra. Em janeiro de 2019, quando centenas de pessoas se manifestaram espontaneamente, após um incidente no bairro da Jamaica, a polícia disparou balas de borracha.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/J. Mantilla
Paris: Protesto no "Champ de Mars"
Nos últimos dias a polícia francesa tem dispersado manifestantes com gás lacrimogéneo nas manifestações nas proximidades da Torre Eiffel e em frente à embaixada dos EUA. No entanto, milhares de pessoas saíram à rua - mesmo para além de Paris - contra o racismo. A violência policial contra a população negra é particularmente generalizada nos subúrbios.
Foto: picture-alliance/Photoshot/A. Morissard
Manifestação apesar da proibição
A Bélgica, assim como a maioria dos países europeus, tem uma quota-parte na exploração e subjugação colonial de outros continentes. A atual República Democrática do Congo foi, em tempos, propriedade privada do Rei Leopoldo II, que estabeleceu um regime racista. Em Bruxelas, Antuérpia e Liège, houve manifestações contra o racismo, apesar das proibições impostas devido à Covid-19.
Foto: picture-alliance/abaca/B. Arnaud
Munique: Baviera colorida
Uma das maiores manifestações da Alemanha teve lugar em Munique, onde se reuniram 30.000 pessoas. Colónia, Frankfurt e Hamburgo também foram palcos de grandes manifestações. Em Berlim, a polícia teve de bloquear temporariamente as estradas de acesso à Alexanderplatz, porque havia demasiadas pessoas.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Babbar
Viena: 50 mil contra o racismo
Na capital austríaca de Viena, reuniram-se 50 mil pessoas, segundo a polícia local. Esta foi uma das maiores manifestações dos últimos anos, incluindo o escândalo de Ibiza e a espetacular implosão da coligação de governo de direita em 2019.
Foto: picture-alliance/H. Punz
Sófia: Oposição ao racismo
Como a maioria dos países europeus, a Bulgária proíbe a realização de agrupamentos com mais de dez participantes. No entanto, centenas reuniram-se na capital da Bulgária, Sófia. Juntas, gritaram as últimas palavras de George Floyd antes de morrer: "Não consigo respirar", mas também chamaram a atenção para o racismo na sociedade búlgara.
Foto: picture-alliance/AA
Turim: Protesto com máscara
Esta mulher em Turim agrafou a sua preocupação política à mascára necessária num dos países mais afetados pela Covid-19: "As vidas negras também contam em Itália". As manifestações, incluindo em Roma e Milão, serão os maiores aglomerados registados desde o início das medidas de combate ao coronavírus. A Itália é um dos principais países de acolhimento de emigrantes africanos da União Europeia.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/M. Ujetto
Cidade do México: Floyd e Lopez
No México, não é apenas a morte de George Floyd que está a perturbar o país, mas também o destino semelhante do pedreiro Giovanni Lopez. Foi detido em maio, no estado ocidental de Jalisco, porque não estava a usar máscara. Presume-se que morreu vítima de violência policial. Após a publicação de um vídeo da operação, os manifestantes mexicanos intensificaram os protestos.
Foto: picture-alliance/Zumapress
Sydney: Racismo contra os aborígenes
O rali em Sydney começou com uma cerimónia tradicional de fumo. Aqui, a solidariedade dos pelo menos 20.000 participantes foi dirigida não só a George Floyd, mas também aos australianos da população aborígene, que também foram vítimas de violência policial racista. Os manifestantes exigem que ninguém continue a morrer sob custódia policial.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/I. Khan
Pretória: Com o punho levantado
O punho levantado no ar é um símbolo do movimento "Black Lives Matter". Mas o gesto é muito mais antigo. Quando o regime do apartheid na África do Sul libertou Nelson Mandela da prisão, em fevereiro de 1990, ele levantou o punho no seu caminho para a liberdade, tal como este manifestante em Pretória. Na África do Sul, os brancos continuam a ser frequentemente favorecidos.