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IURD pede intervenção de JLo para mediar conflito

Lusa
19 de abril de 2022

Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) pediu hoje intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, para mediar o conflito em relação aos mais de 100 templos, além de uma "atenção especial" aos milhares de fiéis.

Angola Universal do Reino de Deus - IURD, Kirche
Templo da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Luanda.Foto: Borralho Ndomba

A solicitação da mediação do Presidente angolano foi apresentada nesta terça-feira (19.04) em conferência de imprensa pelo bispo Alberto Segunda (ala brasileira), recordando que a restituição dos templos da IURD tem respaldo num acórdão de 31 de março passado, proferido pelo Tribunal da Comarca de Luanda (TCL).

O bispo da IURD, cujos templos foram reabertos na quarta-feira passada, dois anos depois de encerrados, pediu ao Presidente angolano que "olhe para a aflição do povo da Igreja Universal".

"Povo esse que durante dois anos estava impedido de cultuar e povo esse que entende que uma das pessoas, se não a única, que pode ajudar na mediação desse conflito é a sua excelência Presidente Manuel Gonçalves Lourenço", afirmou.

O Presidente angolano João Lourenço.Foto: Alexander Nemenov/AFP/Getty Images

"Gostaríamos que desse uma atenção especial aos mais de 500 mil fiéis que a igreja comporta em todo o território nacional, esse povo clama que justiça seja feita e o senhor [Presidente] bem colocou quando disse que deixa justiça fazer o seu trabalho", salientou o bispo da IURD.

Reabertura dos templos

A IURD em Angola reabriu os seus mais de 100 templos, espalhados nas 18 províncias angolanas, na quarta-feira passada, na sequência de uma sentença do TCL que absolveu os seus pastores e "determinou a restituição imediata dos templos".

Segundo Alberto Segunda, a reabertura dos templos da IURD foi seguida de alegadas "ameaças e intimidações" por parte de responsáveis do Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos (INAR) angolano e de agentes da polícia contra os seus fiéis.

Na sua intervenção, o bispo recordou que os pastores da IURD foram absolvidos dos crimes que vinham sendo acusados e o acórdão de 31 de março "determinou o levantamento das apreensões dos templos e a restituição aos seus possuidores".

Neste momento, observou, "devem as autoridades públicas, policiais e o INAR respeitarem a decisão judicial, que restituiu os templos que é uma decisão soberana, sob pena de estarmos diante de ilegalidade que põem em causa do Estado do direito e democrático".

A direção da IURD reconhecida pelo INAR é encabeçada pelo bispo Valente Bizerra Luís, que coordenava a comissão de reforma que entrou em conflito com a liderança brasileira da IURD em 2019.

Ambas as alas - a de origem brasileira, liderada agora pelo angolano Alberto Segunda, e a ala dissidente, angolana, dirigida por Bizerra Luís - reclamam ser as legítimas representantes da igreja fundada por Edir Macedo.

O bispo Alberto Segunda.Foto: DW/B. Ndomba

"Visão muito diferente"

Para Alberto Segunda, a ala que dirige tem uma "visão muito diferente" da outra parte, porque, realçou, "percebe-se claramente que os nossos irmãos estão mais interessados no património do que noutra coisa".

"Repito que o nosso interesse aqui não é a questão de divisão de património, porque nós ainda que tivéssemos que começar do zero, nós começaríamos, o que está a ser discutido aqui é a questão de justiça, nós estamos a ser injustiçados, não é questão de património", respondeu.

O bispo angolano da IURD diz estar a "lutar por uma causa justa", mas, assinalou, "se o Estado (angolano) decidir que fiquemos sem o património, mas que não nos retirem a marca, que pertence a um homem chamado bispo Edir Macedo".

"O que está em jogo aqui não é o património, mas sim uma questão de justiça, o que tem que ser colocado em pauta é como esses indivíduos tomaram os templos de forma violenta, com esbulho e ninguém fala nada", atirou.

"É fácil falar em divisão do património, é fácil falar em reconciliação, tudo isso é fácil, vamos no mérito da questão, vamos em como começou essa temática, as pessoas pensam, têm cérebro e não podem aceitar serem manipuladas", defendeu.

A Igreja Universal "são mais de 500 mil fiéis e eles é que são os donos desse património, eles não vão aceitar abrir mão daquilo que é deles, eu sou simplesmente um missionário, hoje estou aqui e amanhã vou para um outro país e os fiéis?", questionou.

Foto: Borralho Ndomba/DW

Trâmites legais

Por seu lado, o advogado da ala brasileira da IURD, Marcelo Mendes, disse, na ocasião, que mais de 30 ações cíveis, entre providências e ações principais sobre a IURD correm trâmites legais junto das secções do cível e administrativo das províncias de Angola.

"A nossa interpretação genuína que decorreu da leitura do acórdão do TCL é que a restituição não carecia da intervenção de terceiros e essa interpretação que nós retiramos", vincou o advogado.

A IURD, reconhecida em Angola desde 1992, já teve um património de 307 templos, maioritariamente alugados e depois foram devolvidos aos proprietários na sequência dos conflitos, e conta atualmente com mais de 100 templos próprios em todo o território angolano.

Centenas de fiéis lotaram por completo a catedral da IURD no Maculusso, em Luanda, onde decorreu a conferência de imprensa, com cânticos, jejum e orações a marcarem os momentos iniciais do encontro à entrada da catedral.

"O nosso líder espiritual é o bispo Alberto Segunda", "Devolvam as nossas igrejas, o Estado é laico" e "O caso IURD já foi resolvido no tribunal" eram alguns dizeres estampados nos cartazes à entrada da catedral.