Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) pediu hoje intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, para mediar o conflito em relação aos mais de 100 templos, além de uma "atenção especial" aos milhares de fiéis.
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A solicitação da mediação do Presidente angolano foi apresentada nesta terça-feira (19.04) em conferência de imprensa pelo bispo Alberto Segunda (ala brasileira), recordando que a restituição dos templos da IURD tem respaldo num acórdão de 31 de março passado, proferido pelo Tribunal da Comarca de Luanda (TCL).
"Povo esse que durante dois anos estava impedido de cultuar e povo esse que entende que uma das pessoas, se não a única, que pode ajudar na mediação desse conflito é a sua excelência Presidente Manuel Gonçalves Lourenço", afirmou.
"Gostaríamos que desse uma atenção especial aos mais de 500 mil fiéis que a igreja comporta em todo o território nacional, esse povo clama que justiça seja feita e o senhor [Presidente] bem colocou quando disse que deixa justiça fazer o seu trabalho", salientou o bispo da IURD.
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Reabertura dos templos
A IURD em Angola reabriu os seus mais de 100 templos, espalhados nas 18 províncias angolanas, na quarta-feira passada, na sequência de uma sentença do TCL que absolveu os seus pastores e "determinou a restituição imediata dos templos".
Segundo Alberto Segunda, a reabertura dos templos da IURD foi seguida de alegadas "ameaças e intimidações" por parte de responsáveis do Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos (INAR) angolano e de agentes da polícia contra os seus fiéis.
Na sua intervenção, o bispo recordou que os pastores da IURD foram absolvidos dos crimes que vinham sendo acusados e o acórdão de 31 de março "determinou o levantamento das apreensões dos templos e a restituição aos seus possuidores".
Neste momento, observou, "devem as autoridades públicas, policiais e o INAR respeitarem a decisão judicial, que restituiu os templos que é uma decisão soberana, sob pena de estarmos diante de ilegalidade que põem em causa do Estado do direito e democrático".
A direção da IURD reconhecida pelo INAR é encabeçada pelo bispo Valente Bizerra Luís, que coordenava a comissão de reforma que entrou em conflito com a liderança brasileira da IURD em 2019.
Ambas as alas - a de origem brasileira, liderada agora pelo angolano Alberto Segunda, e a ala dissidente, angolana, dirigida por Bizerra Luís - reclamam ser as legítimas representantes da igreja fundada por Edir Macedo.
"Visão muito diferente"
Para Alberto Segunda, a ala que dirige tem uma "visão muito diferente" da outra parte, porque, realçou, "percebe-se claramente que os nossos irmãos estão mais interessados no património do que noutra coisa".
"Repito que o nosso interesse aqui não é a questão de divisão de património, porque nós ainda que tivéssemos que começar do zero, nós começaríamos, o que está a ser discutido aqui é a questão de justiça, nós estamos a ser injustiçados, não é questão de património", respondeu.
O bispo angolano da IURD diz estar a "lutar por uma causa justa", mas, assinalou, "se o Estado (angolano) decidir que fiquemos sem o património, mas que não nos retirem a marca, que pertence a um homem chamado bispo Edir Macedo".
"O que está em jogo aqui não é o património, mas sim uma questão de justiça, o que tem que ser colocado em pauta é como esses indivíduos tomaram os templos de forma violenta, com esbulho e ninguém fala nada", atirou.
"É fácil falar em divisão do património, é fácil falar em reconciliação, tudo isso é fácil, vamos no mérito da questão, vamos em como começou essa temática, as pessoas pensam, têm cérebro e não podem aceitar serem manipuladas", defendeu.
A Igreja Universal "são mais de 500 mil fiéis e eles é que são os donos desse património, eles não vão aceitar abrir mão daquilo que é deles, eu sou simplesmente um missionário, hoje estou aqui e amanhã vou para um outro país e os fiéis?", questionou.
Trâmites legais
Por seu lado, o advogado da ala brasileira da IURD, Marcelo Mendes, disse, na ocasião, que mais de 30 ações cíveis, entre providências e ações principais sobre a IURD correm trâmites legais junto das secções do cível e administrativo das províncias de Angola.
"A nossa interpretação genuína que decorreu da leitura do acórdão do TCL é que a restituição não carecia da intervenção de terceiros e essa interpretação que nós retiramos", vincou o advogado.
A IURD, reconhecida em Angola desde 1992, já teve um património de 307 templos, maioritariamente alugados e depois foram devolvidos aos proprietários na sequência dos conflitos, e conta atualmente com mais de 100 templos próprios em todo o território angolano.
Centenas de fiéis lotaram por completo a catedral da IURD no Maculusso, em Luanda, onde decorreu a conferência de imprensa, com cânticos, jejum e orações a marcarem os momentos iniciais do encontro à entrada da catedral.
"O nosso líder espiritual é o bispo Alberto Segunda", "Devolvam as nossas igrejas, o Estado é laico" e "O caso IURD já foi resolvido no tribunal" eram alguns dizeres estampados nos cartazes à entrada da catedral.
Angola: 16 polémicas que marcaram a governação de João Lourenço
Com o fim do mandato de cinco anos à espreita, passamos em revista algumas das polémicas que têm marcado a governação do Presidente João Lourenço, da corrupção ao desemprego, com centenas de exonerações pelo caminho.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Images/J.-F. Badias
"Operação Caranguejo"
Nesta operação, a justiça apreendeu milhões de dólares, euros e kwanzas na posse de oficiais da Casa de Segurança do PR, suspeitos de peculato, retenção de moeda e associação criminosa. Mais de 10 oficiais, incluindo o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente, Pedro Sebastião, foram exonerados. Pedro Lussaty, chefe das finanças da banda musical da Presidência, foi detido.
Foto: DW/B. Ndomba
Viagem polémica ao Dubai
Viagem privada de João Lourenço, em março de 2021, ao Dubai suscitou polémica. As opiniões dividiram-se, mas a visita foi vista por alguns cidadãos em Angola como oportunidade de JLo acertar as contas com o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, e uma possível negociação com a empresária Isabel dos Santos. No início do mandato, Lourenço acusou o antecessor de deixar os cofres do Estado vazios.
Foto: Imaginechina/Tuchong/imago images
Investigação Pangea-Risk
Um relatório da consultora Pangea-Risk associa João Lourenço, a mulher, Ana Dias Lourenço, e um círculo próximo a alegadas práticas de fraude, corrupção e peculato, em violação de leis e regulamentos dos EUA. Menciona subornos que teriam sido pagos pela Odebrecht a empresas ligadas ao Presidente de Angola. A construtora brasileira desmentiu o relatório e negou alegados pagamentos indevidos.
Caso Edeltrudes Costa
Segundo uma reportagem da TVI, o "braço direito" e chefe de gabinete de João Lourenço terá sido favorecido pelo Governo em contratos públicos com a sua empresa de consultoria EMFC. O negócio de prestação de serviços terá valido a Edeltrudes Costa vários milhões de euros. A seguir à denúncia, manifestantes saíram à rua pedindo a sua demissão. PGR estaria ainda a "apurar dados para investigar".
Foto: Xinhua/Imago Images
Filha na administração da BODIVA
Cristina Dias Lourenço, filha de João Lourenço, foi indigitada em 2020 pela ministra das Finanças para o cargo público de administradora executiva da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA). A nomeação foi criticada pela sociedade civil, havendo quem falasse em nepotismo e tráfico de influência que manchavam, assim, os princípios da boa governação e transparência propagados pelo Governo.
Foto: picture-alliance/W. Ying
Nomeação de Manuel da Silva "Manico"
Manuel da Silva Pereira "Manico" foi empossado como presidente da Comissão Nacional Eleitoral em fevereiro de 2020, entre muitos protestos da oposição e da sociedade civil que o acusam de "falta de idoneidade moral e legal" ao cargo e falam num concurso pouco transparente. A tomada de posse foi aprovada apenas pelo MPLA, sem os partidos da oposição. O jurista estaria arrolado em caos de corrupção.
Foto: DW
Caso Manuel Vicente | "Operação Fizz"
Conhecido como "Operação Fizz", assenta na acusação de que o ex-vice-Presidente, Manuel Vicente, corrompeu o ex-procurador português Orlando Figueira com o pagamento de 760 mil euros para que arquivasse dois inquéritos em que estava a ser investigado. Acusado dos crimes de corrupção ativa e branqueamento de capitais, tem estado protegido pela imunidade dada a antigos governantes por cinco anos.
Foto: Getty Images
Caso IURD Angola
O conflito interno na IURD Angola começa quando um grupo de dissidentes angolanos decide afastar-se da direção brasileira da igreja com alegações de crimes como evasão de divisas e racismo. Na justiça angolana tramitam vários processos judiciais e missionários brasileiros foram deportados do país. Em maio de 2021, a direção da IURD anunciou nova liderança apenas composta por cidadãos angolanos.
Foto: DW/J.Beck
Lixo em Luanda
O problema do lixo na capital angolana não é novo e parece não ter fim à vista. No período das chuvas, a situação agrava-se colocando em "guerra aberta" moradores descontentes e a governadora Joana Lina, acusada de má gestão. João Lourenço criou uma comissão multissectorial para apoiar o Governo de Luanda a resolver os problemas inerentes à acumulação, recolha e tratamento do lixo.
Foto: Manuel Luamba/DW
Cafunfo e o silêncio do Presidente
Um "massacre" na vila de Cafunfo, na Lunda Norte, chocou o país, a 30 de janeiro de 2021. Violentos confrontos entre a polícia e manifestantes resultaram em dezenas de feridos e mortes. Com a região debaixo de fogo, o incidente mereceu atenção internacional enquanto João Lourenço se remetia ao silêncio - que não passou despercebido. O PR falou pela primeira vez sobre o caso a 2 de março.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Protestos e repressão policial
Um pouco por todas as províncias, os protestos têm pintado as ruas do país com cartazes e palavras de ordem. Muitos ficaram marcados por forte repressão das forças de segurança e terminaram em detenções, feridos e até mortes como foi o caso do jovem Inocêncio de Matos, que perdeu a vida na sequência de ferimentos graves durante protestos na capital em novembro de 2020, ou do médico Sílvio Dala.
Foto: DW/Borralho Ndomba
Desculpas públicas pelo 27 de Maio
Volvidas mais de quatro décadas do massacre de 27 de Maio de 1977, Luanda quebrou o silêncio. João Lourenço reconheceu que a resposta do Estado ao que considerou ser uma tentativa de golpe foi desproporcional e vitimou inclusive inocentes. Pediu desculpas públicas às vítimas e aos familiares e encorajou outros atores que participaram nos conflitos políticos a terem o mesmo procedimento.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Adiamento das autárquicas
Na primeira reunião do Conselho da República depois das eleições de 2017, João Lourenço levou a proposta aos conselheiros: realizar as primeiras eleições autárquicas do país em 2020. Mas tal não aconteceu e não existe, até então, previsão de uma data. Os motivos alegados vão desde a Covid-19 à falta de conclusão do Pacote Legislativo Autárquico. Analistas falam em falta de vontade política.
Foto: António Domingos/DW
Desemprego
A criação de 500 mil postos de trabalho foi uma das promessas eleitorais de JLo em 2017 e os angolanos não se esquecem disso. Apesar da aprovação, em abril de 2019, do Plano de Ação para Promoção da Empregabilidade, com um fundo de 58 milhões de euros, os números do desemprego no país geram descontentamento no povo que sai às ruas para exigir mais oportunidades e melhores condições de vida.
Foto: DW/M. Luamba
Envolvimento no caso "Dívidas Ocultas"
O Presidente viu o seu nome associado ao escândalo das "Dívidas Ocultas" de Moçambique pela EXX Africa. A consultora denunciou a alegada ligação entre a empresa Privinvest e o Governo de Angola quando João Lourenço era ministro da Defesa. O Ministério da Defesa de Angola terá feito um contrato de 495 milhões de euros para comprar barcos e capacidade de construção marítima à Privinvest.
Foto: Privinvest
"Exonerador implacável"
Na sua "cruzada contra a corrupção", João Lourenço ficou conhecido como o "exonerador implacável". Logo no primeiro de cinco anos de mandato, 2017, afastou governantes, chefias militares, gestores de empresas públicas e antigas figuras associadas ao anterior regime de José Eduardo dos Santos. Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos, filhos do antigo Presidente, foram dois dos muitos visados.