A líder parlamentar da RENAMO e sobrinha do presidente do partido, que morreu na quinta-feira (03.05), lança o apelo aos moçambicanos para seguirem os passos de Afonso Dhlakama.
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"Agora todos temos de ser Dhlakama", disse Ivone Soares aos jornalistas, no final de uma celebração religiosa que juntou, neste sábado (06.05), centenas de pessoas numa das sedes da RENAMO, na cidade da Beira - onde as cerimónias fúnebres públicas vão decorrer, na quarta-feira.
Foram as primeiras declarações públicas de Ivone Soares, uma das figuras próximas de Dhlakama, após a morte do líder da RENAMO.
"Peço à sociedade para não continuar a acobardar-se", porque "Dhlakama já não está aqui connosco para endireitar a FRELIMO", acrescentou. Ivone Soares disse que os moçambicanos não podem continuar a ser governados como "escravos" ou "acéfalos".
A líder parlamentar recordou os últimos assuntos tratados com o tio, por telefone, relacionados com o acordo de descentralização do poder negociado entre Afonso Dhlakama e o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi.
"Não sei como vai ser agora. O partido precisa de discutir esta questão em profundidade", referiu. Ivone Soares disse que o tópico que está a "emperrar" as conversações entre RENAMO e FRELIMO é a nomeação dos administradores distritais - que o partido da oposição quer ver nomeados pelos governadores eleitos em cada província, em vez de indicados pelo Governo, a partir de Maputo.
"Precisamos de achar um meio termo", acrescentou, caso contrário, Moçambique pode vir a ter "uma descentralização centralizada", no que classificou como "um doce envenenado".
Além do pacote de descentralização, ficou por anunciar antes da morte de Dhlakama um outro entendimento relativo à desmilitarização, desmobilização e reintegração do braço armado da RENAMO. Um novo acordo para a paz em Moçambique depende dos dois dossiês, conforme foram anunciando Filipe Nyusi e o líder da oposição, nos últimos meses, num tom geralmente otimista sobre o decorrer das negociações.
"Perdi o meu herói”
"Ele já tinha ultrapassado a dimensão de ser nosso parente. Tornou-se um líder respeitado além-fronteiras", referiu. Ivone Soares disse ainda estar a tentar aceitar a realidade. "Ainda não acredito que o meu tio morreu. Não acredito que ele não vai voltar a telefonar", a partir da Serra da Gorongosa, onde estava refugiado, "e a perguntar o que dizem os jornais aí", na capital moçambicana, Maputo.
A sobrinha disse ter uma grande cumplicidade com Afonso Dhlakama. "Não sei se houve alguém de quem me sentisse tão próxima", sublinhou.
"Ele disse várias vezes que não ia ser morto pelas balas da FRELIMO", acrescentou Ivone Soares, recordando um desabafo do tio, que admitiu morrer um dia "com uma doença qualquer".
Afonso Dhlakama morreu na quinta-feira pelas 08:00, aos 65 anos, na Serra da Gorongosa, devido a complicações de saúde. O Presidente da República, Filipe Nyusi, referiu à Televisão de Moçambique (TVM) que foram feitas tentativas para o transferir por via aérea para receber assistência médica no estrangeiro, mas sem sucesso.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.