"Tambor vazio faz muito barulho", diz o adágio popular que parece ser bem conhecido por Ivone Soares. É que nos últimos tempos, optou por um silêncio sepulcral - mesmo diante dos "terramotos" que atingiram o seu partido. Mas em contrapartida, fez questão de se tornar cada vez mais visível nas resdes sociais. Parece ter esperado o momento certo para dar um passo gigante e deixar que o seu currículo fizesse barulho.

Alex Vines é pesquisador da Chatham House, um instituto de assuntos internacionais baseado em Londres, e reconhece que "Ivone Soares é bem conhecida em Moçambique, tem seguidores na RENAMO. No entanto, não goza do apoio dos antigos guerrilheiros da RENAMO. Contudo, isto tornará o próximo congresso da RENAMO animado e é um passo bem-vindo."

Quem poderá ficar com as calças na mão é a FRELIMO, caso Ivone Soares seja eleita candidata do maior partido da oposição para as presidencias de outubro. É que Daniel Chapo não tem um histórico político tão sólido quanto o dela, nem igual popularidade.

"Ivone Soares teria uma relativa vantagem"

A imagem imaculada de Chapo e a máquina ao dispor da FRELIMO bastariam para colocá-lo em vantagem na corrida pela Ponta Vermelha? 

O politólogo Ricardo Raboco não tem dúvidas que "numa situação de Ivone Soares e Daniel Chapo concorrerem em pé de igualdade, em termos de circunstâncias e ponto de partida, quero acreditar que - pelo capital político, pela exposição mediática e pela sua capacidade de comunicação - a Ivone Soares teria uma relativa vantagem em relação a Daniel Chapo".

Mas lembra que a FRELIMO é quem tem a faca e o queijo na mão: "Agora, em virtude das máquinas partidárias, a FRELIMO tem uma enorme máquina partidária, tanto é que tem a capacidade de tornar um ilustre desconhecido numa figura central em contextos eleitorais."

O único fator em comum entre os dois é a juventude. Mas Ivone Soares destaca-se da maioria dos concorrentes: É a única mulher, carrega uma bagagem política de respeito, sem falar no seu tato diplomático e na sua astúcia política. A título de exemplo, nunca entregou o peito às balas, como Venâncio Mondlane, uma atitude que quase o leva à "morte interna" no partido.

Agora, a provável ausência de Mondlane na corrida, uma vez que não reúne os requisitos estipulados pela RENAMO, deixará o caminho mais aberto a Ivone Soares.

RENAMO: Primeira mulher na corrida

Rafael Savimbi, membro da UNITA, maior partido da oposição em Angola e amigo da RENAMO, exalta um diferencial de Soares: "Tenho a considerar que é a primeira vez na história da RENAMO que há uma mulher que se candidata ao cargo de presidente. E no caso de uma vitória da Ivone, significa que teremos uma mulher em Moçambique [pela primeira vez] a ser candidata."

"Penso que este congresso também encerra essa dimensão histórica e muito interessante", acrescentou, referindo-se ao evento do partido marcado para 15 de maio, onde deverá ser eleito o candidato presidencial do partido.

Outro aspeto a realçar é que a sobrinha do líder histórido da RENAMO, Afonso Dhlakama, nunca demonstrou publicamente qualquer sentimento antagónico em relação a Ossufo Momade, mesmo quando acusado de incapaz ou invisível ou quando vaiado pelo povo. Pelo contrário, mostrou respeito, reconhecimento da sua liderança e até gentileza. Com que cartas joga Ivone Soares?