Já está na rua campanha para as autárquicas em Moçambique
Leonel Matias (Maputo)
25 de setembro de 2018
Começou a campanha para as eleições de 10 de outubro. 22 partidos, coligações e grupos de cidadãos disputam os cargos de presidentes dos Conselhos autárquicos e de membros das Assembleias locais em 53 cidades e vilas.
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A campanha arrancou às zero horas desta terça-feira (25.09) com a afixação de panfletos das formações políticas concorrentes em vários locais públicos. Não foram reportados incidentes.
Os concorrentes têm agora 13 dias, até às zero horas de 7 de outubro, para divulgar os seus manifestos eleitorais. Depois serão observados dois dias de reflexão antes da data de votação.
O presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Abdul Carimo, apelou a todos os intervenientes no processo para realizarem uma campanha pacífica, ordeira e sem distúrbios. "Fomentem a colaboração institucional e circulação de informação sobre os programas de cada dia, as trajetórias das caravanas e locais de realização dos eventos como forma de garantir a segurança e a proteção dos actos da campanha", lembrou.
Na véspera do arranque da campanha, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, também pediu aos partidos políticos que pautem pelo civismo e cumprimento da lei.
"Showmícios" e marchas
As formações políticas concorrentes saem agora à rua, destacando-se a realização de contactos porta a porta e interpessoais assim como "showmícios" e de marchas. Os concorrentes dispõem igualmente a partir desta terça-feira de espaços de antena gratuitos na rádio e televisão publicas para divulgarem os seus programas.
Apenas três partidos, as três formações políticas atualmente com assento no Parlamento, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) vão concorrer em todas as 53 autarquias.
Já está na rua campanha para as autárquicas em Moçambique
A FRELIMO afirma estar confiante em recuperar as quatro autarquias que se encontram nas mãos da oposição. "A FRELIMO vai para este processo eleitoral com um espírito tranquilo, a FRELIMO está mais coesa, mais unida", afirma o porta-voz do partido, Caifadine Manasse.
A RENAMO também garante estar "preparada" desde há muito. "Sempre que há eleições a RENAMO já vem preparada para este desafio, dis Manuel Zacarias, do maior partido da oposição.
Manuel de Sousa, do MDM, afirma igualmente que estão criadas as condições para que o partido participe nestas eleições: "Resta-nos trabalhar na nossa campanha com vista a participar nestas eleições no dia 10."
Código de conduta e civismo
As formações políticas concorrentes têm vindo a apelar aos seus apoiantes para pautarem pelo civismo e para não responderem a eventuais provocações. Adoptaram também um código de conduta.
O analista Alexandre Chiure espera uma campanha normal e tranquila, à semelhança do que aconteceu nas recentes eleições intercalares em Nampula. "De uma forma geral, as pessoas já começaram a perceber que as coisas não são feitas como vinham sendo feitas em que havia mesmo confrontações físicas entre brigadas e entre simpatizantes de concorrentes adversários. Penso que houve algum crescimento no país", destaca.
Questionado pela DW África sobre o que o eleitorado espera ouvir dos concorrentes, Alexandre Chiure afirma que "aqueles mais esclarecidos esperam ouvir mensagens e ver o que é que este partido vai fazer por nós, mas a maior parte não olha para isso, olha só para as cores políticas."
Maputo sem Mondlane e Samito
A campanha eleitoral na cidade de Maputo não vai contar com Venâncio Mondlane, da RENAMO, nem com Samora Machel Júnior, da AJUDEM, que foram afastados pela CNE da corrida ao cargo de presidente do Conselho Autárquico por alegadas irregularidades.
Para Chiure, este facto vai retirar alguma competitividade na capital. "Se tivessem entrado estes dois candidatos, aí sim diria de viva voz que as eleições seriam muito renhidas. Mas agora o partido no poder vai provavelmente ganhar sem muitas dificuldades", prevê o analista.
Alexandre Chiure espera, no entanto, eleições muito disputadas na segunda cidade do país, Beira. "É o único município em que o MDM ainda é capaz de ganhar", diz.
Nova lei eleitoral
Há uma incógnita quanto às restantes autarquias onde a RENAMO vai igualmente participar nestas eleições, depois de ter boicotado o último escrutínio em 2013.
As presentes eleições realizam-se num contexto diferente após a recente aprovação de uma nova lei eleitoral. Alexandre Chiure observa que a lei ainda não é do domínio nem dos eleitores nem dos partidos concorrentes.
"Poderemos ter alguns problemas de interpretação dessa lei perante situações que vão ocorrer ao longo do processo", acredita o analista. "Só espero que as pessoas que estão à frente deste processo eleitoral saibam amainar os ânimos, controlar a situação, de forma a que não se embarque numa confusão pós-eleitoral".
Figuras socialistas e marxistas imortalizadas nas avenidas de Maputo
Várias avenidas de Maputo têm nomes de personalidades estrangeiras de ideologia socialista e marxista. Muitas apoiaram a luta da independência moçambicana. Os seus nomes são homenageados em vários locais da capital.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Julius Nyerere – o amigo da Tanzânia
Liga o sul, na zona de cimento, aos bairros periféricos do norte. Julius Nyerere foi presidente da Tanzânia entre 1961 a 1985. Em 1967, defendeu o socialismo, inspirado pela antiga União Soviética. Foi amigo de Moçambique e chegou a ceder o seu território à FRELIMO, durante a luta pela independência, o que lhe valeu a atribuição desta avenida.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Vladimir Lenine- inspiração marxista-leninista
Vai da baixa da capital até à Praça dos Combatentes, numa extensão de quase quatro quilómetros. Vladimir Lenine, Presidente da URSS, é um dos rostos da criação e disseminação do comunismo pelo mundo. Depois da independência, Moçambique adotou um socialismo de inspiração Marxista-Leninista e muitos moçambicanos viajaram para a URSS para formações de ideologia marxista-leninista.
Foto: DW/R. Da Silva
Avenida Ho Chi Minh - "o que dá luz"
Começa na atual sede da Comissão Nacional de Eleições, na parte centro-este, e termina na escola Secundária Francisco Manyanga, na parte ocidental. Ho Chi Minh, que significa para os vietnamitas “o que dá a luz”, foi o nome que Nguyen Ai Quoc adotou. Também amigo de Moçambique, valeu-lhe atribuição desta avenida por ter inspirado a FRELIMO a adotar os ideais comunistas.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Kim Il Sung - apoio norte-coreano
Começa no Hospital Central de Maputo e termina perto da Embaixada da Alemanha, numa extensão de cerca de 1500 metros. Kim Il Sung é avô do atual presidente Kin Jung-un. O nome da avenida recorda o apoio da Coreia do Norte na luta pela independência moçambicana. Samora Machel visitou várias vezes a Coreia do Norte de Sung e ainda hoje Moçambique mantém boas relações políticas com o país.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Olof Palme - da Suécia para Moçambique
Localiza-se no bairro central, no centro da cidade de Maputo. Olof Palme é considerado uma das figuras maiores da social-democracia sueca. Justiça social, igualdade e paz eram seus ideais mais acalentados. Levou a Suécia para a arena internacional moderna, dedicando-se a temas como o socialismo, a paz e a solidariedade. É dos poucos governantes europeus que constam da lista das avenidas de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Nkwame Nkrumah – primeiro presidente da África Negra
Localiza-se no centro da capital, na zona nobre de Maputo. Nkrumah foi Presidente do primeiro Estado independente da África Negra, o Gana. Em 1952, ainda no período da colonização, no seu primeiro discurso como primeiro-ministro, Nkrumah proclamou-se socialista, marxista e cristão. Não tardou a ter uma avenida em Maputo, pois a FRELIMO também era um partido de orientação socialista.
Foto: DW/R. da Silva, Getty Images/Express/T. Fincher
Avenida Salvador Allende - defensor do marxismo
Esta avenida tem localização central na zona nobre da capital e conta com um único sentido. Salvador Allende foi Presidente do Chile e o primeiro Presidente com ideais comunistas, eleito em eleições livres, a assumir o cargo num país latino-americano. Allende era marxista e atuou politicamente defendendo os valores característicos dessa ideologia.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Mao Tse Tung – símbolo de uma longa amizade
Mao Tse Tung defendia uma visão revolucionária do comunismo, em que todos os aspetos da sociedade, cultura, economia e política deveriam estar a serviço de causas ideológicas. Depois da independência, Moçambique inspirou-se nos ideais do Partido Comunista Chinês. Os dois países são amigos de longa data, tendo os chineses ajudado a FRELIMO na luta contra o colonialismo.
Foto: Dw/R. da Silva
Avenida Karl Marx – motor da mudança ideológica
É uma das avenidas mais frequentadas na capital. De nacionalidade alemã, Karl Marx foi um influente pensador na questão da luta de classes. Em 1977, o partido FRELIMO deixou de ser uma frente armada para ser um partido de ideologia marxista-leninista, com monopólio exclusivo do poder político e instaurando o partido único. Para imortalizar a influência de Marx, foi-lhe atribuída esta avenida.
Foto: picture alliance/Glasshouse Images, DW/R. da Silva
Avenida Friederich Engels – inspiração contra injustiças sociais
Nesta avenida, pode contemplar-se uma bela paisagem marítima. Engels, amigo próximo de Marx, desenvolveu a sua teoria sobre as classes trabalhadoras, ao observar a miséria e as condições dos operários que viviam dentro do regime capitalista. Em algumas das suas obras, denunciou as injustiças sociais. Inspirou Samora Machel e a FRELIMO a adotarem uma política em defesa das classes sociais.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Patrice Lumumba – o herói congolês
Patrice Lumumba lutou contra o imperialismo europeu. O seu partido, o Movimento Nacional Congolês (MNC), identificava-se como comunista. Após a independência do seu país, em 1960, Lumumba foi eleito primeiro-ministro. Um ano depois, foi preso, e, em janeiro de 1961, foi barbaramente assassinado. Como homenagem, a FRELIMO atribui o seu nome a uma avenida e a um bairro na Matola.