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"Já não precisamos da guerra"

Romeu da Silva (Maputo)8 de fevereiro de 2016

Psicólogos moçambicanos lamentam a "falta de aceitação" entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO. E dizem que é urgente avançar com propostas para resolver um conflito que não precisa de desencadear violência.

Local de ataque a líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, em setembro de 2015Foto: DW/A. Sebastião

A psicologia pode ajudar a orientar os políticos e a sociedade em geral a resolver a crise político-militar em Moçambique, afirmou, na sexta-feira (05.02), a psicóloga Alexandra Melo durante uma conferência em Maputo subordinada ao tema "Psicologia da Paz".

Há meses que Moçambique vive momentos de instabilidade política. O líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, ameaça, a partir de março, governar em seis províncias do centro e norte do país, onde a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) reivindica ter vencido nas eleições gerais de 2014.

Tem havido confrontos constantes entre as forças governamentais e homens armados da RENAMO. Por isso, é urgente avançar com propostas para resolver um conflito que, segundo Alexandra Melo, "é natural, mas que não queremos que desencadeie violência."

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"Falta de aceitação"

"Qual é o problema? O que reparamos é que há falta de aceitação", afirma o psicólogo Hermenegildo Correia.

A crise político-militar "é um jogo" entre o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a RENAMO. Mas esse jogo tem de terminar para se "criar um país melhor", conclui.

A chave para a tensão político-militar está nas mãos do Governo moçambicanos, segundo Correia. "Eu acho e tenho fé que temos um partido FRELIMO bastante maduro e com dirigentes competentíssimos. E sabem como terminar esta instabilidade."

Já o psicólogo Leonardo Ediesse considera que, para resolver a tensão é necessário ter em conta um outro fator - interesses económicos de terceiros devido à abundância dos recursos naturais.

"Muitos dos recursos que temos não somos nós, moçambicanos, que consumimos. Será que esses outros podem intervir na eclosão dos próprios conflitos? É uma questão aberta em que todos nós devíamos pensar."

Os "estrangeiros" lucrariam, pois, com a instabilidade no país ao invés de lucrar com a estabilidade?, questiona Ediesse.

Diálogo entre Governo da FRELIMO e RENAMO foi suspenso; conflito continua sem mediaçãoFoto: DW/L. Matias

Auto-estima

Por outro lado, psicólogos entendem que muitos políticos moçambicanos continuam a não prestar atenção aos traumas que a guerra civil, entre 1976 e 1992, causou em vários grupos sociais, sobretudo em crianças.

"Há necessidade de os psicólogos tentarem trabalhar com as pessoas, para as ensinar que já não precisamos da guerra", afirma o psicólogo Nataniel Moela.

Seria necessário, principalmente, superar problemas de auto-estima no seio da população. Segundo este psicólogo, a razão principal da origem dos confrontos militares tem sido a inferiorização das pessoas. "Quando a pessoa perde a sua auto-estima, fica violenta. E o que se espera de uma pessoa violenta são percursos incalculáveis, decisões impensáveis", diz.

Porém, a tarefa dos psicólogos não é fácil, pois as pessoas que sofrem com os traumas estão em zonas de conflito. "Entrar no campo de trabalho" é difícil.

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