O Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, cedeu à pressão do seu partido, o ANC, e demitiu-se "com efeitos imediatos". Cyril Ramaphosa deverá agora assumir a Presidência.
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"Decidi demitir-me do cargo de Presidente da República com efeitos imediatos, apesar de discordar da direção do meu partido", afirmou Jacob Zuma num discurso televisivo de mais de 30 minutos.
A declaração foi feita horas depois de, numa entrevista ao canal público SABC, Zuma ter recusado ceder à pressão do partido para se demitir, sublinhando que não fez "nada de mal".
"Não aceitei servir para sair da Presidência com acordos e benefícios. É o meu partido que me coloca acima dos representantes do povo", frisou Jacob Zuma na quarta-feira à noite (14.02).
O agora ex-Presidente, de 75 anos de idade, antecipou-se a uma moção de censura, prevista para esta quinta-feira, no Parlamento.
África do Sul: Fim da era Zuma
Escândalos de corrupção
Zuma está envolvido em várias acusações, incluindo quase 800 por corrupção relativa a contratos de armas do fim dos anos 1990, e em investigações por ter utilizado o Estado para favorecer empresários com concessões públicas milionárias.
Na quarta-feira de manhã, uma unidade de elite da polícia sul-africana fez buscas na casa da família Gupta, aliada de Zuma, nos arredores de Joanesburgo, no âmbito das alegacões sobre tráfico de influências que envolvem o Presidente. Tanto Zuma como os Gupta têm negado as acusações, afirmando-se vítimas de uma "caça às bruxas".
Jacob Zuma, que se alistou no Congresso Nacional Africano (ANC) aos 17 anos de idade, lutando na clandestinidade ao lado de Nelson Mandela, deixa a Presidência sul-africana após nove anos no poder. Após a demissão, o vice-Presidente, Cyril Ramaphosa, deverá assumir a chefia do Estado, até às eleições marcadas para 2019.
Artigo atualizado a 15 de fevereiro de 2018, às 07h34 (CET).
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.