Khashoggi: Guterres pede imparcialidade nas investigações
Lusa
24 de dezembro de 2019
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu nesta segunda-feira (23.12) a investigação imparcial no caso do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. Riade anunciou condenação à morte de cinco sauditas.
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"O secretário-geral da ONU continua a sublinhar a necessidade de uma investigação independente e imparcial do assassinato [do jornalista saudita Jamal Khashoggi], para assegurar uma análise e uma responsabilização por todas as violações de direitos humanos cometidas neste caso", disse numa conferência de imprensa o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.
O representante também referiu que António Guterres reitera "o compromisso da ONU para assegurar a liberdade de expressão e a proteção dos jornalistas", insistindo também na histórica oposição à pena de morte por parte das Nações Unidas.
Declarações
Estas declarações surgem depois de o procurador-geral da Arábia Saudita ter anunciado que cinco sauditas foram condenados à morte pelo assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, em outubro de 2018, no consulado saudita em Istambul, Turquia.
Nenhuma acusação foi apresentada contra Saud al-Qahtani, um assessor próximo do príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, acrescentou o procurador, dizendo que o ex-general foi absolvido, tendo o mesmo acontecido com o subdiretor dos serviços secretos sauditas, Ahmed Asiri, e com o embaixador saudita em Istambul, Mohamed Al Otaibi.
Em 02 de outubro de 2018, o jornalista saudita Jamal Khashoggi, que morava nos Estados Unidos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, para tratar de alguns documentos necessários para o casamento com uma cidadã turca.
O jornalista não voltou a sair do consulado, onde foi morto por agentes sauditas, que saíram da Turquia e regressaram à Arábia Saudita logo após o assassínio.
Julgamento
O julgamento dos 11 suspeitos começou no início de janeiro, na Arábia Saudita, e o procurador-geral pediu a pena de morte para cinco deles.
Também as organizações Amnistia Internacional e Repórteres sem Fronteiras criticaram a Justiça saudita pelas cinco condenações à morte pelo assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, e de afastar as acusações ao príncipe herdeiro e a um conselheiro.
"A sentença serve para branquear [as acusações] e não faz justiça nem mostra a verdade a Jamal Khashoggi e aos seus familiares", disse em comunicado a diretora da unidade da Amnistia Internacional para o Médio Oriente, Lynn Maalouf, classificando o julgamento como "um processo injusto".
"Esta sentença não aborda o envolvimento das autoridades sauditas no crime", acrescentou, lembrando que o julgamento foi realizado à porta fechada.
Raízes africanas na Turquia
São descendentes de africanos trazidos pelo Império Otomano como escravos e trabalhadores domésticos. Estima-se que sejam mais de 100 mil. Identificam-se como Afro-Turcos e vivem principalmente no oeste da Turquia.
Foto: Bradley Secker
Raízes turcas
Esat Sezar, à esquerda, está sentado com o amigo na sua aldeia perto de Izmir. Esat, que trabalhou na Turquia na indústria hoteleira, considera-se turco. Ele desenha a sua árvore genealógica, recuando à aldeia onde nasceu. A aldeia de Köyü é uma mistura de afro-turcos e não afro-turcos, onde a sua mãe, de 106 anos de idade, diz lembrar-se da declaração da República da Turquia em 1923.
Foto: Bradley Secker
Parte da comunidade
Sabriye Sınaiç e a sua família são agricultores e trabalhadores na sua aldeia e áreas circunvizinhas. Ela não sabe nada sobre a sua ancestralidade, mas acredita que vieram para a Turquia via Damasco, na Síria. Até à criação da Associação Afro-Turca disse que não sabia que existiam outros como ela. Só depois percebeu que havia muitos espalhados à sua volta.
Foto: Bradley Secker
Ambiente de trabalho
Şakir (no meio) passa o tempo com os seus ex-colegas de trabalho da fábrica perto de Izmir. Agora Şakir é o responsável da Associação Afro-Turca depois da morte do seu fundador, Mustafa Olpak em 2016.
Foto: Bradley Secker
Sacola de misturas
Şükriye İletmış, de 70 anos de idade, está no seu jardim na aldeia de Hasköy, perto de Izmir, na Turquia. Şükriye identifica-se como uma afro-turca e viveu toda a sua vida em Hasköy.
Foto: Bradley Secker
Vida familiar
Şakir tem uma fotografia da família na sua aldeia. Şakir está na foto, veste uma camisa azul, atrás do lado direito. Criada há uma década, a Associação Afro-Turca está sediada em Izmir. A associação tem por objetivo destacar a comunidade e os problemas que ela enfrenta. Ela serve também como centro cultural para a comunidade que está dispersa, principalmente na costa ocidental da Turquia.
Foto: Bradley Secker
Recuperando tradições
Uma Godya fala com as pessoas e tenta prever o seu futuro durante o festival anual Afro-Turco de Dana Bayram (Festival dos Bezerros). Tradicionalmente, as Godyas eram mulheres que chefiavam as comunidades Afro-Turcas no Império Otomano e eram muito respeitadas e poderosas. Elas já não existem, mas, para o festival, uma mulher local é escolhida para fazer este papel em nome da tradição.
Foto: Bradley Secker
Origem misturada
O filho de Şakir, de 32 anos de idade (dir.), o neto Yağız Efe e a sua nora Aysel na casa da família Şakir num suburbio de Izmir. Casamentos mistos são muito comuns entre a comunidade Afro-Turca, o que torna difícil estimar números exatos da população afro-turca.
Foto: Bradley Secker
Ajudando os outros
Gülşen Ergüven, de 35 anos de idade (de vermelho no centro), trabalha numa cantina na escola da sua aldeia em Yeniçiftlik. Gülşen tem dois filhos na escola e trabalha em tempo parcial e também ajuda a mãe com tarefas domésticas.
Foto: Bradley Secker
Novamente em casa
Fehmi Yavaşer, de 85 anos de idade, na sua aldeia natal de Belevi, na parte oriental da Turquia. Fehmi viveu na Alemanha como trabalhador convidado por 18 anos antes de ser deportado. Ele era pugilista quando regressou à Turquia e não tinha ideia sobre as suas heranças para além da sua aldeia.