Jatropha moçambicana adquirida pela Lufthansa cresceu em terras férteis
18 de janeiro de 2012![Jatropha](https://static.dw.com/image/4073559_800.webp)
Depois da companhia aérea alemã Lufthansa ter obtido sucesso nos testes que fez usando biocombustíveis em suas aeronaves, crescem agora as especulações de como a empresa pretende agir daqui por diante.
Este mês a Lufthansa anunciou que com o biocombustível à base de óleos vegetais e animais evitou a emissão de 1,5 mil toneladas de dióxido de carbono. Este resultado incentiva ainda mais ao uso da mistura, uma vez que a nova lei da União Europeia é clara: a partir deste ano, todas as companhias aéreas com voos de origem ou destino na Europa precisam comprovar emissão de CO2 por meio de créditos de carbono. Quanto mais CO2 o avião liberar, mais cara se torna a viagem para a companhia aérea.
Mas não é só isso
Por enquanto a Lufthansa ainda enfrenta outro problema: não existe matéria-prima suficiente no mercado para a produção de bioquerosene. Por isso a companhia alemã voltou a fazer uso do querosene fóssil.
Mas além do problema de logística de mercado, a empresa enfrenta as críticas de organizações ambientalistas. Recorda-se que quando a Lufthansa precisou, importou parte da planta jatropa de Moçambique.
Para Evelyn Bahn, da ONG alemã INKOTA especializada na África Austral, a iniciativa da Lufthansa não muito sábia: "a Sun Biofuels que forneceu a jatropha à Lufthansa cultivou a planta em solos férteis. E antes da Sun Biofuels, esta terra era utilizada por agricultores para o cultivo de verduras e ainda antes disso, a mesma área era usada para o cultivo de tabaco".
Evelyn Bahn ressalta que ao contrário do que defende a Lufthansa, de que a jatropha cresce em solos menos férteis, a planta utilizada pela companhia áerea foi cultivada em terras bastante férteis. "Num país como Moçambique, onde 35% da população passa fome, não se entende porque se cultiva uma área para a produção de biomassa em vez de alimentos", questiona a ambientalista.
Para a INKOTA, a Lufthansa não respeitou as diretrizes sociais e ecológicas, defendidas pela própria companhia nos numerosos discursos. "A jatropha pode ser cultivada em solos menos férteis, mas neste caso a renda também será parcial. Por isso que empresas como a Lufthansa ou a Sun Biofuels apostam no cultivo da jatropha em solos férteis".
Mas isso ainda não é tudo. Evelyn Bahn enfatiza que o fato desta planta necessitar de água, "poderá levar a ainda outros conflitos em Moçambique."
Lufthansa se defende
Sobre as acusações da INKOTA, o porta-voz da Lufthansa Peter Schneckenleitner disse que a empresa conhece "muito bem as exigências éticas" e que a própria Lufthansa tem metas a cumprir no que se refere à sustentabilidade da biomassa utilizada.
Peter Schneckenleitner relatou que companhia aérea está ciente das críticas e das discussões ambientais em torno da utilização de biocombustíveis e não descartou a responsabilidade da Lufthansa: "nossa matéria-prima precisa ser cultivada de modo sustentável, bem como precisa ser certificada. Esta deverá ser a base na qual queremos trabalhar no futuro".
Jatropha em Moçambique
Ao ser questionado quanto ao futuro da jatropha, Peter Schneckenleitner disse que a empresa está analisando diferentes tipos de biomassa bem como outras variações de matéria-prima.
Na entrevista à DW, mencionou, por exemplo, um tipo de alga, rica em energia, mas ressaltou que ainda é cedo para dizer de quais regiões virá o material ou até mesmo qual será a próxima matéria-prima usada em uma nova mistura de biocombustível.
Diferente do que se acreditava há alguns anos, a jatropha parece não ser tão rentável. A empresa britânica Sun Biofuels responsável por fornecer a jatropha à Lufthansa já anunciou falência.
Para Peter Schneckenleitner, a jatropa é com certeza uma planta interessante para a produção de biocombustível, mas usá-la ou não irá depender das condições nas quais a planta é cultivada. "Primeiro precisamos ter certeza de que a planta foi cultivada em condições de sustentatibilidade", esclarece.
Autora: Bettina Riffel
Edição: António Rocha