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ReligiãoPortugal

JMJ em Portugal: Onde estão os jovens dados como "ausentes"?

6 de agosto de 2023

Há peregrinos cabo-verdianos e angolanos "em parte incerta". Autoridades tratam o caso com prudência, porque os jovens têm visto válido de permanência em território português. JMJ termina este domingo em Lisboa.

Portugal | Weltjugendtag 2023 in Lissabon
Foto: João Carlos/DW

São 168 os jovens de Cabo Verde que não compareceram nas dioceses de acolhimento, em Fátima, segundo fontes oficiais. A notícia não surpreendeu Viviane Rodrigues, peregrina dos Salesianos de São Vicente.

"Estão encantados, porque em Cabo Verde é muito difícil conseguir um visto. Nas últimas semanas, o Centro Comum de Vistos cancelou (os serviços) e não havia agendamento através da Internet", disse, explicando que alguns cidadãos encontaram na peregrinação "uma oportunidade para sair do país."

Peregrinos de Cabo Verde na JMJFoto: João Carlos / DW

Jovens cabo-veridanos "encontraram janela de oportunide"

Mesmo antes da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), reafirma Viviane, já havia uma grande apetência para sair de Cabo Verde por falta de emprego, sobretudo por parte dos jovens.

"Está difícil, principalmente por causa da Covid-19, da guerra (na Ucrânia), os preços estão a aumentar. O salário mínimo já não dá para nada. Eu acredito que seja por isso mesmo", afirmou.

A peregrina cabo-verdiana, que integra um grupo de professores da Escola Salesiana de São Vicente, assegura que no seu seio não há ninguém com a pretensão de ficar em Portugal. Pelo contrário, o grupo trouxe como expectativa o desejo de "aprendizagem” e partilha da "morabeza” de Cabo Verde.

Outro país dos PALOP representado na JMJ em Portugal é Angola, que conta com a participação de 1.500 jovens, na sua maioria residentes do país português. Segundo fonte oficial, entre os angolanos que viajaram para Lisboa, 27 não compareceram na Diocese de Porto Mós, destinado ao seu acolhimento.

Angolanos avisados sobre "imigração ilegal"

Entretanto, o bispo de Cabinda, Dom Belmiro Chissengueti, responsável pela delegação de Angola, confirmou à Rádio Renascença serem apenas seis os peregrinos angolanos que estão em parte incerta e não 106 como foi antes veiculado pela imprensa portuguesa.

Num encontro eucarístico esta semana no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, que congregou a comunidade católica angolana, Dom Belmiro Chissengueti advertiu sobre as consequências da imigração ilegal.

O bispo de Cabinda afirmou durante a homilia, que "as pessoas são livres de emigrar”, para "procurarem melhores condições de vida”, mas avisou que é aceitável "que oportunistas se aproveitem de momentos ou ocasiões” como este "que nada têm a ver com a emigração”.

Peregrinos angolanos na JMJFoto: João Carlos / DW

São-tomenses fizeram o trabalho de casa

Também havia receios de fuga de jovens de São Tomé e Príncipe, mas até então não há registos de qualquer ocorrência do género, segundo Frei Gilson Patrick. O pároco, responsável pela delegação de cerca de 600 são-tomenses, assegura à DW que houve previamente, em São Tomé, um amplo trabalho de preparação dos peregrinos.

"Mesmo na seleção dos candidatos tivemos algumas exigências de critérios de modo a evitar [isso]. Mas são coisas que, muitas vezes, não conseguimos (controlar), porque não sabemos o que se passa na cabeça de cada um. Um jovem pode simplesmente dizer-nos ‘eu vou e regresso' e depois não regressar", afirmou.

Vendo a realidade em Portugal, onde viver também não está fácil, o jovem pode mudar de ideia e voltar ao país de origem mesmo tendo um visto de um ou dois meses – prevê o responsável. Embora seja prematuro, Frei Gilson Patrick admite que, depois da Jornada e com a abertura dada por Portugal ao abrigo do acordo de mobilidade, alguns poderão decidir ficar por cá devido à conjuntura sócio-económica difícil em São Tomé e Príncipe.

"Fica difícil, mesmo para quem está a coordenar, controlar tudo isso. Daqui a nada vou partir para São Tomé. Alguns vão ficar. Agora vamos continuar a sensibilizá-los da necessidade de regressarem, até para partilharem o que viverem aqui", disse.

A comitiva de São Tomé e Príncipe trouxe para a JMJ uma mensagem de paz, fraternidade, solidariedade e ecologia. Este sim, é o "principal legado que fica em Portugal", assegura Frei Gilson. 

SEF "prudente e atento"

Tanto a organização da JMJ, como o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) estão a acompanhar a situação com a devida prudência. Clara Rocha, inspetora do SEF, assegurou que, em princípio, a situação não é irregular.

"Estamos em articulação com todos, quer com a diocese respetiva quer com as outras forças de segurança no sentido de identificar o lote em concreto, saber quem são as pessoas, a idade que têm; portanto, sabemos quem são elas. Essas pessoas entraram de forma regular à partida. Estamos a partir desse pressuposto. Portanto, não estão em situação irregular neste momento".

A Jornada Mundial da Juventude decorre em Portugal até este domingo (06.08).

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