João Lourenço diz que não há perseguição religiosa em Angola
Rafael Belincanta (Roma)
12 de novembro de 2019
O Presidente angolano foi recebido pelo Papa Francisco esta terça-feira, no Vaticano. João Lourenço diz que "ninguém persegue minorias em Angola" e o Estado "deve promover a harmonia entre as religiões".
"O Estado é laico e deve promover a harmonia entre as religiões", afirmou João Lourenço esta terça-feira (12.11) no Vaticano.
Islão
Entre as minorias religiosas num país maioritariamente cristão, a religião muçulmana continua a não ser reconhecida oficialmente pelo Estado e, por isso, é proibida a abertura de novas mesquitas. Mas há tolerância no país, assegura João Lourenço.
"A tolerância em Angola com todas as religiões é grande, inclusive com a muçulmana. A religião muçulmana nunca foi perseguida, nem molestada por ninguém", afirmou o chefe de Estado.
João Lourenço diz que não há perseguição religiosa em Angola
"Não há casos de detenção, não há casos de expulsão. Portanto, não sei ao que se referem. Isso é alguma insinuação, que, pelo facto de não ser concreta, também não posso dar uma resposta ainda mais concreta como gostaria de fazer", acrescentou.
Angola tem 12,3% de cidadãos que se declaram ateus, enquanto os muçulmanos representam 0,4% da população. 41,1% dos cidadãos identificam-se como católicos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes ao Censo Geral de 2014.
"É de conhecimento público que os fiéis muçulmanos em Angola, nos momentos de culto, até fecham as ruas, impedindo a circulação de pessoas, e nem por isso as autoridades tomam medidas no sentido de impedir que isso aconteça", afirmou o Presidente angolano à DW África.
JLo: Reformas são para continuar
João Lourenço foi recebido em audiência pelo Papa Francisco na manhã desta terça-feira (12.11), no Vaticano. A reunião teve lugar dois meses depois da assinatura do acordo bilateral que regula as relações diplomáticas entre a Santa Sé e Luanda.
Em entrevista oficial à Rádio Vaticano após a audiência com o Papa, o Presidente angolano afirmou que o acordo trata sobretudo do "campo social".
Esta é a minha cidade: Luanda
06:00
"A Igreja Católica está presente em todo o país e, mesmo nos momentos mais difíceis, soube manter as relações com a autoridade", pontuou João Lourenço.
Ainda aos microfones da emissora oficial do Vaticano, o chefe de Estado angolano sublinhou que as reformas no país são para continuar e que o momento é de "apertar os cintos".
"Chegámos a um ponto de não retorno com as reformas, e, mesmo com algumas turbulências, temos que seguir em frente. Enfrentamos mau tempo na realidade económica e a garantia que podemos dar agora é que o avião chegará ao seu destino em segurança. Temos que apertar os cintos, mas tenho certeza que o fim da turbulência vai chegar", declarou Lourenço.
Na tarde desta terça-feira, o Presidente angolano prestou homenagens póstumas diante do túmulo do primeiro embaixador do Reino do Congo no Vaticano. Para quarta-feira estão agendadas visitas do Presidente aos Museus Vaticanos e à Biblioteca Apostólica. O retorno a Luanda está previsto para quinta-feira (14.11).
Africanos muçulmanos no Vaticano
No comércio em torno do centro da fé católica mundial também trabalham africanos muçulmanos. A sua presença é tolerada pela polícia. Porém, após os ataques em Paris, eles passaram a ser vistos com desconfiança.
Foto: DW/R. Belincanta
Lembranças de África
Um migrante da Guiné vende acessórios africanos a turistas na principal avenida do Vaticano, a Via da Conciliação. Muitos dos migrantes africanos que vivem em Itália são muçulmanos, mas isso não impede que frequentem a área do centro da fé católica mundial em busca de turistas que possam querem algumas lembranças de África.
Foto: DW/R. Belincanta
Em busca de turistas
Carregado com itens de origem africana, este migrante segue em direção ao Vaticano. O fluxo intenso de turistas durante o ano inteiro atrai os vendedores ambulantes para a zona da Praça de São Pedro, no Vaticano.
Foto: DW/R. Belincanta
Orações diárias
Um vendedor ambulante do Senegal encara a lente do fotógrafo. Ao fundo, a cúpula da Basílica de São Pedro. Os migrantes africanos muçulmanos evitam rezar em direção a Meca diante da Basílica. As ruas adjacentes, mais vazias, são o lugar preferido para as orações diárias.
Foto: DW/R. Belincanta
Documentos no fim da oração
A poucos metros da Basílica de São Pedro, uma religiosa passa por dois migrantes africanos muçulmanos em plena hora de oração. Os polícias aguardam o fim da oração para pedir os documentos aos africanos.
Foto: DW/R. Belincanta
Controlo policial
A polícia italiana tem a orientação de aguardar o fim da oração para abordar os migrantes. Sendo a Itália um país democrático, a intenção dos polícias não é coibir a prática religiosa. O objetivo é controlar a documentação dos migrantes para saber se estão em condições regulares no país.
Foto: DW/R. Belincanta
Rezar e comer juntos
Roma é conhecida pelas suas fontes de água potável espalhadas por toda a cidade. Este migrante africano aproveita uma delas, localizada a poucos metros da Praça São Pedro, para se lavar antes de rezar. Os migrantes que vendem artigos africanos na zona do Vaticano costumam reunir-se para rezar e comer juntos num local pouco movimentado nas imediações da Basílica de São Pedro.
Foto: DW/R. Belincanta
Ataques mudam rotinas
Os ataques em Paris mudaram o quotidiano dos refugiados muçulmanos em Roma. Os polícias esperaram o fim da oração para pedir os documentos a estes dois africanos muçulmanos. Um do Senegal, com visto de refugiado, e outro da Argélia, ainda à espera de documentação.
Foto: DW/R. Belincanta
Dependente de esmolas
Este migrante da Eritreia representa uma parte dos africanos que chegam à Europa e não conseguem integrar-se na sociedade. Sentado à beira da escadaria de uma loja diante da Basílica de São Pedro, passa o dia dependendo de esmolas. Dorme sob algumas marquises durante a noite. Às vezes, utiliza os serviços de dormitório e lavatório para os sem-abrigo oferecidos pelo Vaticano.
Foto: DW/R. Belincanta
"Último dia em Roma"
Samba sorri. Diz ter 15 anos. Em italiano, diz que quer voltar para o Quénia, que seria "o seu último dia em Roma" e insiste em vender-me uma bracelete. Na verdade, confessa, só queria algum dinheiro. Digo-lhe para escolher uma sanduíche. Samba evita respostas sobre quem seria o seu patrão. Fala em inglês agora. O seu smartphone toca. É o sinal. Despeço-me.
Foto: DW/R. Belincanta
Presença tolerada
Um migrante africano fala ao telemóvel numa das ruas adjacentes à Praça São Pedro. Ao fundo, a cúpula da Basílica. A região é disputada pelos vendedores ambulantes devido ao grande fluxo de turistas. Ao contrário dos vendedores de artigos falsificados, como bolsas de marca, produzidos pelas máfias italianas, a presença dos vendedores de artigos artesanais africanos é tolerada pela polícia.
Foto: DW/R. Belincanta
Sinal da cruz em Meca?
Um dos imigrantes improvisa e cobre com um pedaço de papelão o chão sagrado onde fará a sua oração. O seu amigo, contudo, faz questão de estender um tapete antes de elevar as suas orações a Alá. A polícia italiana é tolerante com os migrantes muçulmanos. Um dos polícias pergunta: "E se fossemos nós, em Meca, a fazer o sinal da cruz?"