JLo: Corruptos não representam "fatia grande" do MPLA
Lusa | DW (Deutsche Welle)
29 de novembro de 2022
O Presidente angolano, João Lourenço, assegura que a luta contra a corrupção não está terminada e rejeita que as pessoas envolvidas nestes atos representem uma fatia grande do MPLA, partido que governa Angola há 47 anos.
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Em entrevista à Televisão Pública de Angola (TPA), na segunda-feira (28.11), João Lourenço sublinhou que a luta contra a corrupção, que elegeu como bandeira do seu primeiro mandato, não está terminada e lembrou que "muitos se beneficiaram deste processo" que o país "viveu muitos anos e vive ainda de alguma forma".
Destacou que este processo exigiu "coragem" e que teve consequências. "Há quem tenha interpretado isso como seu tivesse criado uma divisão no seio do partido, não foi isso que aconteceu. Não se pode aceitar que as pessoas que estão envolvidas em corrupção representem uma fatia grande do partido, não representam", salientou João Lourenço, notando que houve também quem visse nessa luta uma derrota previsível do MPLA.
O procurador-geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, prometeu esta segunda-feira (28.11) que o processo contra Isabel dos Santos vai avançar, mesmo que a empresária não preste declarações no âmbito do mandado de detenção internacional pedido pelas autoridades angolanas.
O procurador disse ainda que foram feitas várias tentativas para ouvir a empresária, que tem insistido estar disponível para esclarecer "inverdades" a seu respeito.
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Recuperação de ativos
O chefe do executivo angolano e presidente do MPLA sublinhou que podia ter ficado numa situação cómoda de dar continuidade ao que encontrou, "mas se assim o fizesse teria prestado muito mau serviço ao país uma vez que os dinheiros da corrupção não serviriam para o desenvolvimento do país".
Com os ativos recuperados, afirmou, foi possível avançar com um Programa Integrado de Intervenção nos Municípios no valor de 2 mil milhões de dólares, que permitiu fazer importantes investimentos.
Admite que hoje continua a existir corrupção em Angola, mas em menor dimensão, já que as pessoas que sabem que não existe impunidade e se são descobertas têm de prestar contas a justiça.
Derrota eleitoral desvalorizada
João Lourenço desvalorizou, por outro lado, a derrota sofrida pelo MPLA em Luanda, província mais populosa e capital do país, no último ato eleitoral, porque se tratava de eleições gerais e não contavam os resultados que teve em cada província ou cada município.
Em Berlim, João Lourenço fala sobre corrupção e a RDC
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"Só se perde numa província se as eleições forem locais, não foi o caso", observou.
Afirmou ainda que o MPLA não receia ter maus resultados quando forem instituídas autarquias locais porque "o partido vai ter de lutar para ter bons resultados em todos os municípios onde as autarquias locais tiverem lugar"
"Ainda esta por definir se vamos fazer nos 164 municípios do país ou se vai ser por fases, mas o partido tem de lutar por ganhar o maior número possível de autarquias. Vamos lutar por igual por cada autarquia que estiver em disputa", afirmou o governante.
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Fortalecer parceria com EUA
João Lourenço afirmou que gostaria de fortalecer a parceria estratégica com os EUA com maior investimento direto, para ajudar a diversificar a economia e a industrializar o país, mensagem que pretende levar ao presidente Biden em dezembro, por altura da próxima Cimeira de Líderes EUA-África, que terá lugar em Washington D.C.
Sobre a iniciativa, espera que esta "não seja mais uma, e sim uma cimeira diferente com resultados a médio e longo prazo".
"Vamos dizer ao Presidente Biden que a América deve apostar mais no nosso continente, que tem um potencial muito grande. Com a situação que a Europa vive hoje penso que seria o momento ideal para olhar com outros olhos para o nosso continente", frisou o chefe de Estado angolano.
Angola: 16 polémicas que marcaram a governação de João Lourenço
Com o fim do mandato de cinco anos à espreita, passamos em revista algumas das polémicas que têm marcado a governação do Presidente João Lourenço, da corrupção ao desemprego, com centenas de exonerações pelo caminho.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Images/J.-F. Badias
"Operação Caranguejo"
Nesta operação, a justiça apreendeu milhões de dólares, euros e kwanzas na posse de oficiais da Casa de Segurança do PR, suspeitos de peculato, retenção de moeda e associação criminosa. Mais de 10 oficiais, incluindo o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente, Pedro Sebastião, foram exonerados. Pedro Lussaty, chefe das finanças da banda musical da Presidência, foi detido.
Foto: DW/B. Ndomba
Viagem polémica ao Dubai
Viagem privada de João Lourenço, em março de 2021, ao Dubai suscitou polémica. As opiniões dividiram-se, mas a visita foi vista por alguns cidadãos em Angola como oportunidade de JLo acertar as contas com o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, e uma possível negociação com a empresária Isabel dos Santos. No início do mandato, Lourenço acusou o antecessor de deixar os cofres do Estado vazios.
Foto: Imaginechina/Tuchong/imago images
Investigação Pangea-Risk
Um relatório da consultora Pangea-Risk associa João Lourenço, a mulher, Ana Dias Lourenço, e um círculo próximo a alegadas práticas de fraude, corrupção e peculato, em violação de leis e regulamentos dos EUA. Menciona subornos que teriam sido pagos pela Odebrecht a empresas ligadas ao Presidente de Angola. A construtora brasileira desmentiu o relatório e negou alegados pagamentos indevidos.
Caso Edeltrudes Costa
Segundo uma reportagem da TVI, o "braço direito" e chefe de gabinete de João Lourenço terá sido favorecido pelo Governo em contratos públicos com a sua empresa de consultoria EMFC. O negócio de prestação de serviços terá valido a Edeltrudes Costa vários milhões de euros. A seguir à denúncia, manifestantes saíram à rua pedindo a sua demissão. PGR estaria ainda a "apurar dados para investigar".
Foto: Xinhua/Imago Images
Filha na administração da BODIVA
Cristina Dias Lourenço, filha de João Lourenço, foi indigitada em 2020 pela ministra das Finanças para o cargo público de administradora executiva da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA). A nomeação foi criticada pela sociedade civil, havendo quem falasse em nepotismo e tráfico de influência que manchavam, assim, os princípios da boa governação e transparência propagados pelo Governo.
Foto: picture-alliance/W. Ying
Nomeação de Manuel da Silva "Manico"
Manuel da Silva Pereira "Manico" foi empossado como presidente da Comissão Nacional Eleitoral em fevereiro de 2020, entre muitos protestos da oposição e da sociedade civil que o acusam de "falta de idoneidade moral e legal" ao cargo e falam num concurso pouco transparente. A tomada de posse foi aprovada apenas pelo MPLA, sem os partidos da oposição. O jurista estaria arrolado em caos de corrupção.
Foto: DW
Caso Manuel Vicente | "Operação Fizz"
Conhecido como "Operação Fizz", assenta na acusação de que o ex-vice-Presidente, Manuel Vicente, corrompeu o ex-procurador português Orlando Figueira com o pagamento de 760 mil euros para que arquivasse dois inquéritos em que estava a ser investigado. Acusado dos crimes de corrupção ativa e branqueamento de capitais, tem estado protegido pela imunidade dada a antigos governantes por cinco anos.
Foto: Getty Images
Caso IURD Angola
O conflito interno na IURD Angola começa quando um grupo de dissidentes angolanos decide afastar-se da direção brasileira da igreja com alegações de crimes como evasão de divisas e racismo. Na justiça angolana tramitam vários processos judiciais e missionários brasileiros foram deportados do país. Em maio de 2021, a direção da IURD anunciou nova liderança apenas composta por cidadãos angolanos.
Foto: DW/J.Beck
Lixo em Luanda
O problema do lixo na capital angolana não é novo e parece não ter fim à vista. No período das chuvas, a situação agrava-se colocando em "guerra aberta" moradores descontentes e a governadora Joana Lina, acusada de má gestão. João Lourenço criou uma comissão multissectorial para apoiar o Governo de Luanda a resolver os problemas inerentes à acumulação, recolha e tratamento do lixo.
Foto: Manuel Luamba/DW
Cafunfo e o silêncio do Presidente
Um "massacre" na vila de Cafunfo, na Lunda Norte, chocou o país, a 30 de janeiro de 2021. Violentos confrontos entre a polícia e manifestantes resultaram em dezenas de feridos e mortes. Com a região debaixo de fogo, o incidente mereceu atenção internacional enquanto João Lourenço se remetia ao silêncio - que não passou despercebido. O PR falou pela primeira vez sobre o caso a 2 de março.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Protestos e repressão policial
Um pouco por todas as províncias, os protestos têm pintado as ruas do país com cartazes e palavras de ordem. Muitos ficaram marcados por forte repressão das forças de segurança e terminaram em detenções, feridos e até mortes como foi o caso do jovem Inocêncio de Matos, que perdeu a vida na sequência de ferimentos graves durante protestos na capital em novembro de 2020, ou do médico Sílvio Dala.
Foto: DW/Borralho Ndomba
Desculpas públicas pelo 27 de Maio
Volvidas mais de quatro décadas do massacre de 27 de Maio de 1977, Luanda quebrou o silêncio. João Lourenço reconheceu que a resposta do Estado ao que considerou ser uma tentativa de golpe foi desproporcional e vitimou inclusive inocentes. Pediu desculpas públicas às vítimas e aos familiares e encorajou outros atores que participaram nos conflitos políticos a terem o mesmo procedimento.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Adiamento das autárquicas
Na primeira reunião do Conselho da República depois das eleições de 2017, João Lourenço levou a proposta aos conselheiros: realizar as primeiras eleições autárquicas do país em 2020. Mas tal não aconteceu e não existe, até então, previsão de uma data. Os motivos alegados vão desde a Covid-19 à falta de conclusão do Pacote Legislativo Autárquico. Analistas falam em falta de vontade política.
Foto: António Domingos/DW
Desemprego
A criação de 500 mil postos de trabalho foi uma das promessas eleitorais de JLo em 2017 e os angolanos não se esquecem disso. Apesar da aprovação, em abril de 2019, do Plano de Ação para Promoção da Empregabilidade, com um fundo de 58 milhões de euros, os números do desemprego no país geram descontentamento no povo que sai às ruas para exigir mais oportunidades e melhores condições de vida.
Foto: DW/M. Luamba
Envolvimento no caso "Dívidas Ocultas"
O Presidente viu o seu nome associado ao escândalo das "Dívidas Ocultas" de Moçambique pela EXX Africa. A consultora denunciou a alegada ligação entre a empresa Privinvest e o Governo de Angola quando João Lourenço era ministro da Defesa. O Ministério da Defesa de Angola terá feito um contrato de 495 milhões de euros para comprar barcos e capacidade de construção marítima à Privinvest.
Foto: Privinvest
"Exonerador implacável"
Na sua "cruzada contra a corrupção", João Lourenço ficou conhecido como o "exonerador implacável". Logo no primeiro de cinco anos de mandato, 2017, afastou governantes, chefias militares, gestores de empresas públicas e antigas figuras associadas ao anterior regime de José Eduardo dos Santos. Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos, filhos do antigo Presidente, foram dois dos muitos visados.