Em entrevista exclusiva à DW África, Presidente angolano rejeita críticas de Isabel dos Santos de que país é pouco atractivo aos investidores e diz que Governo vai continuar imparável no combate à corrupção.
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O Presidente angolano, João Lourenço, terminou esta quinta-feira (23.08) a sua visita de dois dias à Alemanha. O chefe de Estado veio à procura de atrair mais investimentos para Angola.
Em entrevista exclusiva à DW África, João Lourenço afirmou que, em 11 meses de governação, fez mais do que era esperado com um "conjunto de medidas corajosas".
João Lourenço rejeitou as críticas de Isabel dos Santos de que o país é pouco atractivo para os investidores estrangeiros. Ao mesmo tempo, o Presidente garantiu que o Governo angolano vai continuar imparável no combate à corrupção, mas alertou que os cidadãos também têm um papel a desempenhar. "Sabe que nesta luta, há ações que dependem não apenas do poder político", afirmou.
DW África: Nesta visita, pediu aos investidores o fornecimento de embarcações de guerra para a marinha angolana e outros meios electrónicos. Será que a Alemanha vai ajudar, apesar de já ter havido críticas quanto a este assunto no passado?
João Lourenço (JLo): Eu estive aqui em 2014 na condição de ministro da Defesa. Nessa altura, procurávamos conseguir a aquisição dessas embarcações aqui a partir da Alemanha por razões de diversas ordens, sobretudo, quando da conjuntura interna alemã, a Alemanha não só e mesmo, digamos, a própria União Europeia.
João Lourenço diz que fez mais do que o esperado em Angola
Não foi possível naquela altura, mas nós estamos absolutamente convencidos de que agora os constrangimentos que existiam foram ultrapassados. A própria chanceler federal alemã, Angela Merkel, ontem (na quarta-feira) na conferéncia de imprensa depois do almoço de trabalho que tivemos foi referente a isso sem receio absolutamente nenhum das reações que a imprensa pudesse ter, o que significa dizer que os constrangimentos do passado estão ultrapassados e, sim, o Estado alemão vai, portanto, apoiar os estaleiros navais de Kiel, que em princípio serão os que vão fornecer as embarcações à Angola.
DW África: Falando do ambiente de negócios em Angola, a empresária Isabel dos Santos disse recentemente que Angola é pouco atrativa para os investidores estrangeiros e citou nomeadamente a falta de divisas. O que pensa sobre essa crítica?
JLo: Eu não queria entrar em mesquinhices deste tipo para uma cidadã que sendo nacional desencoraja o investimento para o seu próprio país. É o único comentário que eu tenho a fazer.
DW África:Disse no Parlamento Europeu em julho que Angola estava numa cruzada contra a corrupção e a impunidade. Quais serão os próximos passos nessa cruzada?
JLo: Os próximos passos é seguir a mesma trajetória que já foi delineada, que foi traçada. Sabe que nesta luta há ações que dependem não apenas do poder político. O poder político está a fazer a sua parte. Há outra parte que depende dos cidadãos, que devem denunciar, e há uma parte muito importante em qualquer democracia que depende da Justiça. E aí eu não posso interferir, eu não posso dizer exatamente o que a Justiça vai fazer. Só sei dizer que alguns casos já estão com a Justiça e qual será o desfecho daqui para frente só eles próprios poderão dizer.
DW África:O repatriamento de capitais já começou?
JLo: Não, nem podia ter começado, porque como sabe a lei estabelecia um prazo que só vence no final deste ano, creio que em dezembro. Portanto, antes desse período, não é de se esperar que comece.
DW África: Faz esta quinta-feira um ano que o MPLA venceu as eleições e que foi eleito como Presidente. Conseguiu fazer tudo o que queria fazer até aqui?
JLo: Em 11 meses, não é possível fazer-se o que deve ser feito num mandato de cinco anos. Eu considero, modéstia parte, que em 11 meses muito foi feito. Pode-se mesmo dizer que mais do que era esperado. Um conjunto de medidas corajosas que uma boa parte das pessoas pensava não ser possível fazer-se neste período inicial de arranque do meu mandato. E, talvez, esperassem que acontecesse para o terceiro ano do mandato, mas felizmente eu consegui fazer com sucesso nesses primeiros 11 meses.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.