João Lourenço: Oposição recorre à falsidade na caça ao voto
Lusa | tms
12 de agosto de 2017
Candidato do MPLA à Presidência da República diz que seus opositores só "apontam as faltas" do Governo e esquecem-se de trabalhar. Em discurso no Dundo, ele também prometeu investimentos na economia.
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O candidato do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) à Presidência da República criticou este sábado (12.08) as forças políticas concorrentes às eleições gerais que, segundo ele, procuram "cativar" o voto dos angolanos na base da "falsidade", limitando-se a "pôr em baixo quem governa neste momento".
João Lourenço discursou, mais de uma hora, na cidade do Dundo, capital da província angolana da Lunda Norte, no leste do país, para milhares de pessoas, a quem fez promessas de melhorias para os próximos anos de governação do partido, caso vença as eleições de 23 de agosto.
O vice-presidente do MPLA, candidato à sucessão de José Eduardo dos Santos, admitiu que "quem governa não é perfeito, todos têm imperfeições e todos cometem erros", mas "não há necessidade de procurar cativar o voto na base da falsidade, da mentira".
"Uma das coisas é que este governo não fez nada, nós não temos aqui espaço para montar uma exposição fotográfica grande para mostrar como era o país em 2002 e como é hoje", lamentou João Lourenço, referindo-se aos investimentos feitos nos últimos quinze anos em estradas, caminhos de ferro, aeroportos, os meios de comunicação importantes, para ligar o leste do país ao resto de Angola.
"Oposição só aponta as faltas"
"Em 15 anos, o executivo do MPLA fez muito mais do que muitos países que nunca conheceram a destruição que o nosso país conheceu, o nosso país foi bastante destruído, em apenas 15 anos fizemos o possível e impossível", disse ainda o político.
O dirigente do MPLA enumerou investimentos previstos para os próximos dias na Lunda Norte, ao nível da habitação, da saúde, do fornecimento de energia e água, entre outros.
Segundo João Lourenço, o "país beneficiou bastante com estes 15 anos de governação do MPLA", "mesmo assim", continua Lourenço, "aqueles que não fazem, não trabalham, nem deixam trabalhar, continuam a dizer que os que trabalham não fazem nada", criticou.
De acordo com o candidato, os partidos da oposição "não fazem absolutamente mais nada em prol deste povo, senão apontar as faltas daquele que verdadeiramente trabalha".
Investimentos
Para a Lunda Norte, o cabeça-de-lista do MPLA às eleições de 23 de agosto falou na diversificação da economia, mas alternativa à produção diamantífera. "Temos que mudar o quadro nas Lundas, em que temos basicamente dois empregadores, a função pública e a indústria mineira de exploração de diamantes, com agravante que é uma indústria que só explora, não transforma, e se o faz, não faz aqui, na zona de exploração", disse.
Nessa estratégia, a juventude vai ser chamada a passar de simples extrator mineiro, com a transformação dos diamantes na província, salientando que "alguns vão continuar a trabalhar nas minas – o trabalho mais duro de exploração –, mas depois de formação mais específica vão trabalhar na lapidação dos diamantes, na produção de joias".
Além da indústria transformadora de diamante, João Lourenço prometeu incentivar o surgimento de projetos agrícolas, industriais, para igualmente o incentivo do comércio fronteiriço.
Na sua intervenção, o candidato do MPLA a Presidente da República não deixou de referir o apoio prestado aos refugiados da vizinha República Democrática do Congo, realçando, que esse acolhimento não pode ser confundido com o fenómeno da imigração ilegal, um problema que o país enfrenta e o prejudica, sobretudo devido à exploração ilegal de diamantes.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.