Angola: João Lourenço pede desculpas pelo 27 de Maio
26 de maio de 2021No seu discurso, esta quarta-feira (26.05), para anunciar os resultados da Comissão Reconciliação em Memória às Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), o Presidente João Lourenço reconheceu que a resposta do Estado ao que considerou tentativa de Golpe de Estado de 1977 foi desproporcional e vitimou, inclusive, inocentes.
O chefe de Estado angolano disse que o momento agora "não é de se apontar dedos". Volvidos mais de quatro décadas do massacre, o Estado quebra finalmente o silêncio e pede desculpas públicas às vitimas e aos seus familiares.
"Este pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras, ele reflete o nosso sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angustia que ao longo destes anos as famílias carregam consigo por falta de informação sobre destino dado aos seus ente-queridos".
João Lourenço encorajou, na ocasião, outros atores que participaram nos conflitos políticos a terem o mesmo procedimento.
"Este povo heróico e generoso que já deu provas de saber perdoar merece ouvir igualmente de quem tem a responsabilidade de o fazer, um pedido público de desculpas e de perdão pelas almas de Tito Chingunji, de Wilson dos Santos e respetivas famílias, das valentes mulheres das figuras da Jamba, dos passageiros do comboio do Zenza do Itombe, dos mártires da cidade do Cuito-Bié, do Huambo e de outros não citados aqui", enfatizou Lourenço.
Declaração de João Lourenço de "soberana e sublime"
Em reação, Eugénio Manovokola, figura histórica da UNITA, maior partido da oposição, diz não ser da competência do Presidente João Lourenço falar sobre os passivos do "Galo Negro". Contudo, classifica a declaração de João Lourenço de "soberana e sublime", mas lembra que há outras vitimas que devem ser incluídas nesse processo.
"Foi bom ter estendido essa iniciativa às vítimas do conflito de Luanda de 1992, [mas] muito mais do que isso. Há, por exemplo, as vítimas do Mutietie (Bie) que não estão incluídas", recorda Manovokola.
Também vai começar o processo de localização dos restos mortais de Alves Bernardo Nito Alves, Jacob João Caetano "Monstro Imortal", Cita "Vales", José Vieira Dias Vandu-nem, os músicos Urbano de Castro, David Zé e Artur Nunes, entre outros para exumação e entrega aos familiares.
Este processo estender-se-á também às vítimas do conflito de 1992, que vitimou figuras da UNITA, como Jeremias Chitunda, Elias Salopeto Pena e Mango Alicerces.
Esta quinta-feira (27.05), comemoram-se os 44 anos do massacre do 27 de Maio de 1977 e começam a ser entregues, simbolicamente, os certidões de óbito aos familiares dos milhares de vítimas.
Também haverá homenagem, no Cemitério da Santa Ana, em Luanda, afirmou o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos Francisco Queirós.
"Estaremos no dia 27 de maio para lembrar esse acontecimento para que nunca mais aconteça", prometeu Queirós.