SADC: João Lourenço quer plano de ação contra o terrorismo
Lusa | tms
18 de agosto de 2018
Em encontro com líderes da África Austral, o chefe de Estado angolano pediu que a comunidade aplique rapidamente a Estratégia e Plano de Ação para o Combate ao Terrorismo na região.
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Ao discursar na abertura da 38.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que começou na sexta-feira (18.08) em Windhoek, na Namíbia, João Lourenço destacou como "urgente e imperiosa" a necessidade de se "tornar exequível" o Fundo de Paz da organização, de forma a garantir "respostas imediatas às reais e potenciais ameaças à paz e estabilidade na região".
Lourenço discursava também na qualidade de presidente cessante do Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança da SADC, entidade que fiscaliza a manutenção da paz, segurança e estabilidade, bem como tem um papel fundamental no fortalecimento da democracia e das boas práticas de governação na África Austral.
"No que ao combate ao terrorismo diz respeito, a SADC desenvolveu durante a Presidência de Angola o roteiro de implementação de uma estratégia e de um plano de ação com vista a prevenir e combater esse flagelo, que afeta não apenas a nossa região, mas o mundo inteiro", realçou o chefe de Estrado angolano.
Nesse sentido, e a título de exemplo, João Lourenço recorreu às "notícias preocupantes" que chegam de alguns Estados-membros, como o mais recente caso de Moçambique junto à fronteira com a Tanzânia, "que se tornaram alvo de agressões de grupos terroristas com perigosas conexões externas".
"Atos de barbárie"
Outro exemplo avançado pelo Presidente angolano é o caso da República Democrática do Congo (RDC), com ações na fronteira com o Uganda, onde se assiste, sublinhou, a "atos de barbárie contra populações civis praticados pelo grupo ADF.
Além do apelo à execução "integral" da Estratégia de Combate ao Terrorismo" e ao apoio ao Fundo de Paz", João Lourenço expressou "indignação e uma condenação veemente" a todos os atos de terrorismo praticados regional, continental e mundialmente.
João Lourenço falou também sobre as eleições recentes no Zimbabué, que "expressaram de forma livre a vontade do povo zimbabueano e mereceram a apreciação positiva por parte da comunidade internacional", mas lamentou os incidentes pós-eleitorais, "com a perda de vidas humanas".
"Acreditamos que se abre uma grande oportunidade para o aprofundamento da democracia e com ela o desenvolvimento económico e social do Zimbabué.
Dia da Libertação da África Austral
Também no primeiro dia da cimeira da SADC, a proposta apresentada por Angola para a instituição do dia 23 de março como Dia da Libertação da África Austral foi aprovada por unanimidade dos 15 Estados-membros da organização regional.
O "23 de março" marca a data da batalha do Cuito Cuanavale, na província do Cuando Cubango (sul de Angola), o maior conflito militar da guerra civil angolana, que decorreu entre 15 de novembro de 1987 e aquele dia de 1988.
O conflito opôs os exércitos das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), apoiado por Cuba, e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), com apoio da África do Sul.
O fim da batalha marcou um ponto de viragem decisivo na guerra, incentivando paralelamente um acordo entre sul-africanos e cubanos para a retirada de tropas e a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, que deram origem à aplicação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, levando à independência da Namíbia e ao fim do regime de segregação racial que vigorava na África do Sul.
Outra proposta apresentada por Angola e que ainda vai a votação é a transformação do Fórum Parlamentar da SADC em Parlamento Regional, trabalho feito pelo Presidente da Assembleia Nacional (AN) angolana, Fernando Piedade Dias dos Santos.
Quais as motivações dos ataques armados em Cabo Delgado?
Há mais de nove meses que o norte de Moçambique tem sido palco de violentos ataques armados. Suspeitas há muitas e até já há um estudo, mas até hoje não está claro quem são os atacantes e nem o que os move.
Foto: Privat
Mocímboa da Praia: Era uma vez um lugar pacato...
Até 5 de outubro de 2017 a província de Cabo Delgado vivia na tranquilidade, pelo menos aparentemente. Mas desde essa data tudo mudou quando cerca de 30 homens armados desconhecidos atacaram três postos da polícia do distrito de Mocímboa da Praia, matando cinco pessoas, entre elas polícias, e ferindo mais de dez. Na altura a Polícia disse que estava a investigar o caso.
Foto: DW/G. Sousa
O alastramento dos ataques
Dois meses depois Mocímboa viveu novos ataques e desde essa altura os ataques armados têm vindo a alastrarar-se muito rapidamente para outros distritos. Palma começou a ser alvo a partir de janeiro de 2018.
Foto: DW/Estácio Valoi
Marcha contra um "Islão que não existe"
Uma semana depois do primeiro ataque Mocímboa da Praia marchou pela paz. A iniciativa juntou líderes de diferentes religiões, cristã e muçulmana, estes últimos a maioria na região. Os atacantes, que se dizem muçulmanos, defendem uma visão radical do Islão. As autoridades do distrito consideram que esse é um "Islão "que não existe", e acusam "os bandidos" de usaram a religião como "capa".
Foto: Estácio Valoi
Os indícios que não terão sido tomados a sério
Já em 2016 supostos pregadores do Islão foram expulsos do país por estarem ilegais no país. Também já foi intercetado um angariador de crianças a cujos pais era prometida educação e bons tratos. Mas o destino, passando por Nampula, eram escolas corânicas com o fim de radicalização. Há também detenções de pessoas que propagam a insurgência contra as instituições do Estado.
Foto: Colourbox/krbfss
Detenções e excesso de zelo
Cinco dias após o início dos ataques, a Polícia já tinha detido 52 pessoas, o que assustou alguns líderes religiosos. Mas havia outros líderes que eram a favor, justificando a necessidade de denunciar malfeitores para "purificar fileiras", mesmo que isso leve a excesso de zelo. Mas a Polícia ainda não sabe dizer quem são os atacantes, justificando sempre que está a trabalhar no assunto.
Uma das maiores reservas de gás de mundo está em Cabo Delgado. Em Palma as multinacionais operam no setor. Em Mocímboa da Praia há minas de rubis que são bem cotados nos mercados internacionais. O IESE, MASC e um líder muçulmano realizaram um estudo na sequência dos ataques e concluiram preliminarmente que o objetivo dos atacantes é garantir o tráfico dos inúmeros recursos da região.
Foto: ENI East
Erik Prince, o salvador da pátria?
Empresário norte-americano na área de segurança tem interesses nas empresas envolvidas nas dívidas ocultas. Uma delas a Proindicus, criada para garantir a segurança nas águas moçambicanas. Por outro lado acredita-se que tenha criado uma empresa de segurança e estaria a contar como pagamento pelos serviços os dividendos do gás. Eric Prince já prestou serviços para o Governo dos EUA no Iraque.
Foto: Imago/UPI Photo
Deslocados internos: Existem ou não?
O medo dos violentos ataques fez com que a população fugisse. Mas as autoridades locais garantem que ela regressa às suas comunidades graças à patrulha feita pelo exército e afirmam que são poucas as deslocações. Entretanto, não há números exatos. Quem está a lidar com esses deslocados são as autoridades locais. Até ao momento nenhuma agência da ONU ou ONG humanitária foram chamados a intervir.
Foto: Privat
Participação das FDS na reconstrução
Embora as FDS, Forças de Defesa e Segurança, não consigam impedir as ações dos atacantes elas garantem o patrulhamento depois dos ataques. Também auxiliam diretamente na reconstrução das casas incendiadas pelos atacantes. Isso, segundo as autoridades, permite o retorno da população às suas aldeias.
Foto: Borges Nhamire
Participação das comunidades
Supõe-se que os jovens que integram os grupos armados sejam recrutados nas comunidades. As autoridades pedem, por isso, que as populações se mantenham vigilantes e denunciem qualquer ilícito ou movimentação suspeita.
Foto: Privat
Governador visita comunidades
Os assassinatos tornam-se cada vez mais bárbaros. Há decapitações com recurso à catanas e nem as crianças escapam. Na sequência do recrudescimento dos ataques e do nível de violência o governador da província de Cabo Delgado, Júlio Parruque, visitou familiares das vítimas.
Foto: Privat
Presidente de Moçambique em Cabo Delgado
A 29 de junho de 2018 o Presidente Filipe Nyusi esteve nos distritos alvo dos ataques. Pouco antes disso o estadista tinha sido criticado por alguns setores por nunca se ter pronunciado publicamente sobre os ações violentas. Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção contra ataques e mostrou abertura, convidando os atacantes para dialogar.
Foto: privat
Um mar de gente para ouvir Nyusi
Em Cabo Delgado, Filipe Nyusi foi ouvido por milhares de pessoas a quem exortou para que se distanciem de crenças religiosas que estariam na origem da instabilidade: "Estão a recrutar pessoas nos distritos costeiros. Estão a ir também a Nampula recrutar pessoas para vir morrer aqui. Não deixem que isso aconteça. Estão a semear luto nas vossas famílias. E são jovens que vocês conhecem, denunciem".