O Presidente da República de Angola defende que o próximo Chefe de Estado deve ser um jovem, numa aposta semelhante à que levou José Eduardo dos Santos ao poder em 1979, quando tinha apenas 37 anos. A proposta de João Lourenço tem gerado debate sobre o perfil ideal do futuro líder angolano. Analistas ouvidos pela DW África entendem que nomes como Higino Carneiro não correspondem ao perfil traçado pelo actual Presidente, e apontam até para a possibilidade de surgir uma mulher como cabeça de lista do MPLAnas eleições de 2027.

Em entrevista à CNN Portugal, João Lourenço invocou o exemplo de José Eduardo dos Santos, conhecido por "Zé Dú”, que assumiu a presidência ainda jovem.

Em 1979, "Zê Du", como era conhecido, chegou ao poder aos 37 anos afirmando que não era "uma substituição fácil, mas necessária", declarou Lourenço.

Renovação geracional

Passados 46 anos, João Lourenço entende que uma nova aposta num candidato mais velho para liderar o país seria um retrocesso.

"Hoje temos igualmente, não um, dois, três... temos jovens que estarão, quando chegar o momento, em condições e preparados de todos pontos de vista a assumir as rédeas da governação de Angola", disse o Chefe de Estado.

A afirmação tem alimentado diversas interpretações e levantado questões pertinentes, como: houve retrocesso quando João Lourenço foi indicado em 2017?

A jornalista e socióloga Luzia Moniz, angolana a residir em Portugal — país que o Presidente visita esta semana — considera que a idade, por si só, não deve ser critério determinante.

"Quando José Eduardo dos Santos foi escolhido tinha um histórico dentro do MPLA, já tinha sido um dos fundadores da JMPLA, tinha feito já o processo de luta de libertação, já tinha sido vice-primeiro-ministro, ministro do Plano e ministro das Relações Exteriores. Tinha sido ele quem impulsionou adesão de Angola à Organização das Nações Unidas e não foi tanto pela idade", explicou Moniz. 

Também o jornalista José Gama interpreta as palavras de João Lourenço como um sinal de "renovação geracional” e uma mensagem clara aos pré-candidatos mais velhos do MPLA.

"Mas também transmite a ideia de que o MPLA e ele próprio têm o papel central em decidir quem o sucederá", considerou Gama.

Segundo o jornalista, o Presidente posiciona-se como "padrinho político” do sucessor.

"Quando João Lourenço faz declarações que condicionam o perfil do próximo Presidente, está a assumir o papel de um padrinho político que escolhe e legitima sucessores, uma prática muito atípica dos regimes autoritários", afirmou Gama.

Forte aposta feminina

Mas afinal, qual será o perfil do jovem Presidente desejado por João Lourenço?

O cientista político Eurico Gonçalves, em declarações à DW África, sugere que poderá tratar-se de uma mulher.

"João Lourenço atua com pensamento estratégico e não há espaço para uma lista para possíveis candidatos. Ou seja, nessa altura, há perfis jovens, pouco conhecidos com forte possibilidade de ser do género feminino. E realçar que o MPLA não antecipa e nem sequer prevê. O MPLA atua na hora certa e atuará na hora certa na escolha do cabeça de lista e Presidente da República", defendeu Gonçalves.

Na opinião do analista, as palavras do Presidente indicam também uma exclusão tácita dos nomes que já manifestaram publicamente ambições presidenciais.

"Higino Carneiro, António Venâncio entre outros interessados no poder, não estão dentro dos perfis", concluiu Gonçalves.

O Congresso do MPLA está agendado para 2026, ano decisivo para a escolha do cabeça de lista do partido no poder. As eleições gerais terão lugar em 2027.