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Joaquim Chissano na Alemanha

17 de março de 2011

O ex-presidente moçambicano esteve em Colónia para participar num colóquio internacional sobre o diálogo no mundo dos negócios

Joaquim Chissano participou num colóquio organizado pelo OFW (Organisationsforum Wirtschaftskongress) - o maior congresso mundial sobre economia, da iniciativa de estudantes universitáriosFoto: OFW

A Deutsche Welle aproveitou o ensejo para colocar algumas questões ao estadista, que é experiente na mediação de conflitos no continente africano.

DW - Concorda com as críticas dirigidas à União Africana pela sua reticência em se pronunciar sobre crises como aquelas que presentemente se vivem na Costa do Marfim e na Líbia?

Joaquim Chissano - Não concordo com essa avaliação. O que se passa, penso eu, é que alguns sectores da comunidade internacional às vezes querem ouvir o que eles pensam, e não aquilo que a União Africana pensa. A UA trabalha com as comunidades regionais, e as comunidades regionais estão mais perto do conflito e têm a sua sensibilidade. Podemos citar o caso da Guiné-Conacry, onde tiveram um sucesso, e podemos citar o caso do Madagáscar, onde eu estou envolvido, e que está a levar o seu tempo, porque as situações de compreensão dos métodos de solução não são os mesmos.

O ex-presidente moçambicano tem tido uma atuação importante como mediador em diversos conflitos em ÁfricaFoto: OFW

Aumento do preço do petróleo

DW - Todas estas situações de crise, a económica, a no norte de África e outros factores conduziram a um aumento dos preços do petróleo e dos alimentos. Receia que isso leve a distúrbios como aqueles que ocorreram em Moçambique no ano passado por causa da subida dos preços?

JC - Distúrbios em Moçambique e em vários países da África pode ser que haja. Porque esse assunto de aumento de preços agora pode dizer-se que é por causa da Líbia, por causa do Egipto, mas começou antes, como acaba de referir. Quando se sabe que há uma crise internacional e que o povo está longe de poder compreender essa complicação das crises internacionais, e quando não há um apoio na explicação que vem de todas as partes, que se ouça na rádio e nas televisões, realmente qual é a situação? E se o povo não for chamado também a participar na busca de uma solução. O povo vai-se levantar contra os governos.

DW - O que é que os governos podem fazer para precaver uma deterioração da situação?

JC - Deve haver uma maior solidariedade. E neste caso não se deve olhar só para os países africanos, deve-se olhar para todos os países do mundo.

A fábrica de alumínio Mozal é o mais conhecido dos chamados mega-projectos em MoçambiqueFoto: BHP Billiton

Críticas aos mega-projetos

DW - Acha que uma solução, por exemplo para Moçambique, onde a aposta foi mais em mega-projectos como a fábrica de alumínios Mozal e outros, pode passar por um maior apoio aos pequenos agricultores que produzem para o mercado local?

JC - Há uma distorção da perceção da política de Moçambique. A política de Moçambique nunca foi uma política de promover as grandes indústrias. A política foi sempre de apoiar a agricultura. As grandes indústrias são oportunidades que aparecem. Por exemplo, quando se descobre gás em Moçambique, não se pode dizer que não, não se explora o gás porque seria uma grande indústria. A nossa política foi sempre a de apoiar em primeiro lugar o setor rural, porque nós estamos conscientes que temos 80% da população a viver no campo.

DW - O fenómeno de arrendamento de grande empresas, sobretudo estrangeiras é compatível com esse apoio dado aos pequenos agricultores locais?

JC - Posso dizer que não é incompatível, porque não se trata de tirar a terra aos pequenos agricultores, mas de utilizar a terra excedentária que não é utilizada. Nós no país temos milhões e milhões de hectares de terra, dos quais utilizamos apenas 15%. Com uma enxada de cabo curto, o camponês não vai produzir nesta terra toda. Precisamos de investimento.

Autor: Cristina Krippahl / Carlos Martins
Revisão: António Rocha