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Joice Mujuru: "Mugabe é um espírito vivo"

Privilege Musvanhiri / Abu-Bakarr Jalloh / ms8 de março de 2016

A ex-vice-presidente do Zimbabué criou um partido para enfrentar Robert Mugabe. Numa entrevista exclusiva, mostra-se perplexa por a acusarem de querer matar o Presidente zimbabueano. "Temos sorte" por estar vivo, diz.

Foto: Reuters/P. Bulawayo

Joice Mujuru fez parte do Governo do Presidente Robert Mugabe durante mais de 30 anos. Mas, no final de 2014, foi afastada do cargo de vice-presidente. Depois de rumores de que estaria a conspirar contra o chefe de Estado, também foi expulsa do partido no poder, a União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF, na sigla em inglês).

Agora, Mujuru criou o partido "O Povo do Zimbabué Primeiro" (ZPF, em inglês), com que pretende fazer oposição ao Governo.

"'O Povo do Zimbabué Primeiro' percebeu que as aspirações das pessoas não estão a ser concretizadas por causa da forma como o Estado de Direito está ser destruído", afirma Mujuru numa entrevista exclusiva à DW África. "A revolução foi esquecida, enterrada e os combatentes da liberdade estão irritados com isso."

ZPF terá hipótese?

Joice Mujuru (esq.) e Presidente zimbabueano, Robert MugabeFoto: Getty Images/J. Njikizana

Mujuru, de 60 anos, defende que é preciso acabar de vez com o "flagelo da corrupção" após fazer parte de um sistema que agora diz ser injusto.

"Quando se faz parte de um Governo, isso não significa que concordamos com tudo o que acontece", refere. "Passei por uma curva de aprendizagem. [Quando comecei], era uma pessoa jovem. Mas quando aconteciam coisas más, percebi que isso não era bom. Agora, quero ver coisas boas a acontecerem no partido 'O Povo do Zimbabué Primeiro'."

A antiga vice-presidente planeia concorrer às eleições gerais no Zimbabué, marcadas para 2018. Joice Mujuru chegou a ser considerada a favorita na sucessão de Mugabe e ainda hoje é uma figura popular no país. Mas, num cenário político dominado pelo partido no poder, não deverá ser uma tarefa fácil impor o ZPF.

"O tempo dirá", diz Mujuru laconicamente. "Este não é o meu partido. É o partido do povo. É composto por antigos membros do partido da oposição Movimento para a Mudança Democrática, ex-membros da ZANU-PF, pessoas que nunca fizeram parte de nenhum partido e jovens que só votaram duas ou três vezes. Eles juntaram-se a este partido porque nos entendemos uns aos outros."

"Temos sorte" por Mugabe estar vivo

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As vozes mais críticas dizem que Joice Mujuru está a cometer um erro tático ao adotar o que chamam de "postura suave" em relação ao seu antigo partido e ao Presidente Mugabe, de 92 anos, que controla o país com mão de ferro há mais de três décadas.

Mas a antiga vice-presidente esclarece que o espírito do partido é outro. "Não promovemos o discurso do ódio e não retaliamos. Na minha cultura, não se levanta a mão contra um homem ou uma mulher com a idade da nossa mãe ou do nosso avô. [Mugabe] é um espírito vivo e temos sorte por estar vivo", afirma Mujuru. "Por vezes, pergunto-me como é que este país quase acreditou que eu o queria matar."

Críticas

Quando confrontado com as palavras de Mujuru, já publicadas no site da DW África em inglês, o partido no poder atacou a ex-vice-presidente. O governante zimbabueano Jonathan Moyo escreveu na rede social Twitter que, "sem o nome do falecido general Mujuru [marido da líder do ZPF] e o Presidente Mugabe, Joice não seria ninguém politicamente".

Caesar Zvayi, editor do jornal "The Herald", detido pelo Governo, disse que os comentários de Joice Mujuru eram uma ofensa ao Governo.

"Não se pode dizer que Mugabe é um espírito enquanto ele está vivo", comentou Zvayi em entrevista à DW África. "Na nossa tradição, só nos tornamos espíritos quando morremos."

Mas Eddie Cross, membro do Movimento para a Mudança Democrática, não estranha os ataques a Mujuru, que a ZANU-PF vê como ameaça. Ser opositor no Zimbabué "não é muito agradável", diz Cross, que já foi detido e espancado: "Já me tentaram matar três vezes."

O opositor considera que, se Mujuru levar a melhor na contra-ofensiva ao partido no poder, poderá conquistar uma posição de peso nas próximas eleições presidenciais. Mas a líder do ZPF tem de se preparar para o confronto, alerta Cross.

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