Ibraimo Abu Mbaruco, da Rádio Comunitária de Palma, em Cabo Delgado, está desaparecido e incontactável desde terça-feira (07.04). A informação foi avançada por familiares e fonte do órgão de comunicação.
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Além das fontes ouvidas pela agência de notícias Lusa, o MISA Moçambique divulgou na quinta-feira (09.04) um comunicado no qual afirma que o jornalista terá sido sequestrado ao final da tarde em circunstâncias por apurar.
"Ao que o MISA Moçambique apurou, Ibraimo Mbaruco saiu de casa para a rádio por volta das 15h do dia 7 de abril, onde esteve a trabalhar até cerca das 18h", descreve o comunicado da organização de defesa da liberdade de imprensa. O que se passou depois é uma incógnita.
O MISA refere que Ibraimo terá enviado uma curta mensagem (SMS) a um dos seus colegas de trabalho, informando que estava "cercado por militares". No entanto, "uma breve investigação do MISA Moçambique conseguiu apurar que Ibraimo Mabaruco não se encontra no quartel de Palma", acrescenta o comunicado da organização.
Apelo às autoridades
O caso já foi relatado às autoridades locais, às quais o MISA apela no sentido de que "usem todos os meios para permitir que o jornalista seja restituído à liberdade".
A Lusa tentou obter esclarecimentos junto das autoridades policiais, mas ainda não obteve informação adicional.
Cabo Delgado, região onde avançam megaprojetos de extração de gás natural, vê-se a abraço com ataques de grupos armados classificados como uma ameaça terrorista, que já mataram pelo menos 350 pessoas nos últimos dois anos e meio.
Outros casos
Em 2019, dois jornalistas locais na região que cobriam o tema, Amade Abubacar e Germano Adriano, foram detidos e maltratados pelas autoridades durante quatro meses, sob acusação de violar segredos de Estado e incitar à desordem, num caso contestado pelas Nações Unidas e outras organizações. Durante os primeiros dias de cativeiro foram mantidos incomunicáveis.
"Atos de violência e detenções arbitrárias de jornalistas contrariam todos os princípios de uma democracia ancorada na supremacia da lei e no respeito pelos direitos humanos. Violam, de forma flagrante, todas as disposições da Constituição da República de Moçambique, no que diz respeito à liberdade de expressão e liberdade de imprensa", conclui o MISA Moçambique, no comunicado em que manifesta preocupação com o caso de Ibraimo Abu Mbaruco.
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.