António Zefanias diz estar a sofrer ameaças de morte, mas a polícia afirma que desconhece qualquer queixa relacionada com o caso.
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O jornalista António Zefanias afirma em entrevista à DW África que desconhece quem poderá estar por trás das ameaças de morte feitas por via telefónica, mas desconfia que alguns artigos publicados no jornal onde trabalha, o Diário da Zambézia, há já uma semana, estejam na origem dessas perseguições.
"Quando recebi telefonemas anónimos dizendo que estavam à minha procura para me matar, até pedi às pessoas que telefonaram para marcarmos uma conversa pessoalmente", explica Zefanias. "Do outro lado da linha, ninguém aceitou o meu convite".
O jornalista lembra que, nas últimas edições do Diário da Zambézia, publicou "notícias sobre o desmantelamento de uma rede de traficantes de drogas, num dos bairros de Quelimane". "Logo depois, comecei a receber chamadas telefónicas anónimas, algumas delas de pessoas que acredito serem muito importantes neste país", afirma António Zefanias para acrescentar que "enviaram-me mensagens com fotos de armas, fotografias de pessoas supostamente mortas por eles, crivadas de balas, dizendo que podia apresentar queixa na polícia mas que não serviria para nada porque conhecem como funciona o sistema".
Na sequência destes telefonemas anómimos, o jornalista diz ter transmitido as informações "logo no dia seguinte" ao Comando Provincial da Polícia na Zambézia, para que o caso fosse investigado.
"Fui à polícia apresentei e foi registada a ocorrência, mostrei-lhes tudo que tinha recebido para que amanhã não seja dito que não informei. Garantiram-me que os agentes iam investigar, com vista a descobrir a proveniência desses telefonemas", explica Zefanias.
No entanto, confrontado com as declarações do jornalista, o porta-voz do Comando da Polícia na Província da Zambézia, Miguel Caetano, respondeu que desconhecia o caso: "Não temos conhecimento. Estamos neste momento a receber esta informação do senhor jornalista e a partir de agora vamos trabalhar no sentido de procurar perceber o que realmente está a acontecer". Diário da Zambézia mantém a sua linha editorial
Apesar desta situação, António Zefanias diz que não teme as ameaças e garante que vai continuar a exercer a sua profissão, mantendo a sua linha editorial de sempre no Diário da Zambézia.
"Quem não deve não teme. Emocionalmente, sinto-me bem e, como sempre, disposto a exercer como fiz até agora a minha profissão de jornalista. Não tenho medo de morrer", sublinha.
Para o representante do Instituto para a Comunicação Social da África Austral-MISA na Zambézia, Hamilton António, os autores das ameaças têm como objetivo intimidar e desencorajar os jornalistas.
"Pensamos que se trata de uma forma de impedir as pessoas de desempenhar a sua profissão: formar e informar no pleno exercicio de liberdade de imprensa", explica. "Isto não dignifica o Estado que estamos a pretender construiur, um Estado que prime por valores de paz, de solidariedade de concórdia e valores de entendimento mútuo. Este país não pode ser construído assim, só mancha toda a nação moçambicana. Se existe uma intenção premeditada é melhor que desistam e que deixem os jornalistas trabalhar". Ao mesmo tempo, Hamilton António deixou um apelo à polícia "para que investigue este caso".
29.11.2016 Jornalista de Quelimane-ameaçado - MP3-Mono
O Hotel Chuabo de Quelimane: uma surpresa
Na cidade de Quelimane, na província central da Zambézia, o Hotel Chuabo é uma referência histórica. Desenhado por arquitetos portugueses, o edifício de betão preserva um design único dos anos sessenta.
Foto: Gerald Henzinger
Fachada do Hotel Chuabo
No centro da cidade de Quelimane, em Moçambique, há poucos edifícios com mais de dois andares. Um deles é o Hotel Chuabo. A construção do edifício, um projeto da empresa portuguesa Monteiro&Giro, iniciou-se em 1954 e a inauguração teve lugar em 1966. Se a fachada de betão é pouco apelativa, no interior o visitante é surpreendido com o design único dos anos sessenta.
Foto: Gerald Henzinger
Um restaurante para todos
O interior de madeira escura é o original, o usado na época da construção. No piso superior do Hotel Chuabo situa-se o restaurante "Grill". Hoje, independentemente da cor da pele ou da origem, todos são ali servidos. Mas nem sempre foi assim. Durante a época colonial apenas o brancos ou os "assimilados" (negros considerados "equivalentes" aos europeus) podiam frequentar o "Grill".
Foto: Gerald Henzinger
Olímpio, o empregado leal
Manteve-se fiel ao Hotel Chuabo desde a inauguração. Olímpio já serviu políticos e personalidades africanas e internacionais com elevados cargos. Kenneth Kaunda da Zâmbia, Robert Mugabe do Zimbabué ou a rainha de Inglaterra foram alguns dos ilustres que serviu. "Não deves ter medo!", diz Olímpio.
Foto: Gerald Henzinger
Discoteca Malagangatana
Ao lado do restaurante "Grill" fica a discoteca Malangatana. Há muito que aqui não passa música, mas as paredes continuam a ostentar obras de pintores moçambicanos. O Hotel Chuabo foi desenhado pelos arquitectos portugueses Arménio Losa (1908-1988) e Cassiano Barbosa (1911-1998). E tem a curiosidade de ser o único edifício em Moçambique, da época, a ter persianas.
Foto: Gerald Henzinger
Escada em caracol
Do restaurante "Grill" parte uma escada em caracol que desce ao longo de vários andares. Também ela espelha o espírito dos anos 60. Quem não conseguir descer escadas pode apanhar o elevador, supostamente o único que funciona em toda a província da Zambézia.
Foto: Gerald Henzinger
Um quarto com charme
Depois da independência, em 1975, os 160 quartos do Hotel foram ocupados por militares e funcionários políticos da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Até 2005, o Hotel Chuabo foi gerido pela portuguesa Dona Amália. A sua gestão era feita com "mão de ferro".
Foto: Gerald Henzinger
Dormir aqui sai caro
Atualmente, o Hotel Chuabo é gerido pelo Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU) e serve para a formação de estudantes de turismo. O hotel não é barato. Quem quiser passar a noite nele terá de desembolsar 2500 Meticais (85 Euros).
Foto: Gerald Henzinger
Ar condicionado é só decoração
Nem tudo o que parece é e nem todos os interruptores funcionam no Hotel Chuabo. Quem rode o botão "Temperature Control" esperará em vão que o ar condicionado se ligue. O velho ar condicionado foi há algum tempo substituído por um novo.
Foto: Gerald Henzinger
Lavandaria do Hotel
A lavandaria do Hotel Chuabo situa-se no segundo andar. Dez empregados encarregam-se da limpeza da roupa de cama, toalhas e uniformes. A maioria das máquinas de lavar ainda é dos anos sessenta e precisam de ser travadas manualmente. Mas já existem também duas máquinas novas e a compra de outras está planeada.
Foto: Gerald Henzinger
Cozinhar é preciso
Na cozinha do restaurante "Grill" trabalham quatro cozinheiros. Recebem mensalmente 3500 meticais (120 euros). Valor que é cerca de um terço acima do ordenado mínimo moçambicano. O prato mais famoso do restaurante é o "Frango à Zambéziana" (frango assado no churrrasco coberto com leite de coco).
Foto: Gerald Henzinger
Os anos parecem não passar pelo candeeiro
Quando perguntam ao senhor Olímpio porque é que o Hotel Chuabo está em tão bom estado de conservação, a resposta sai pronta: "aprendemos com os portugueses a ter cuidado com as coisas".
Foto: Gerald Henzinger
Coco Bar
No piso térreo situa-se o "Coco Bar" com capacidade para mais de duzentas pessoas. O ambiente é semelhante ao do restante Hotel.