Com medo, John Chekwa fugiu de casa e está em parte incerta. Os seus filhos já foram espancados e raptados. O coordenador da Rádio Comunitária de Catandica é acusado de ser responsável pela derrota da FRELIMO.
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É mais um caso de ameaças à liberdade de impressa e expressão em Moçambique. John Chekwa contou à DW África que homens armados alegadamente das Forças de Defesa e Segurança invadiram a sua casa, recentemente (08.12), tendo espancado dois dos seus filhos. Um outro filho terá sido raptado e libertado mais tarde noutro ponto da vila-sede de Catandica, província de Manica, centro do país.
O filho do jornalista que foi raptado disse que na mesma viatura estavam debaixo dos bancos mais pessoas, que se supõe serem membros ou apoiantes da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o maior partido de oposição, que também teriam sido raptados no distrito de Barué.
O rapto "foi uma tentativa de acabar com a minha vida”, afirmou John Chekwa. “Falharam a missão, mas continuo a sentir-me muito ameaçado”, desabafa o jornalista moçambicano. Neste momento, Chekwa encontra-se refugiado fora da vila de Catandica temendo novos incidentes.
Tentativas de contactar a polícia no distrito de Barué foram infrutíferas. O comandante distrital da Polícia da República de Moçambique em Barué prometeu pronunciar-se oportunamente
Voz incómoda
John Chekwa, que é também agente facilitador do Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil, não tem dúvidas sobre o que poderá estar na origem das ameaças: "Tenho certeza que isto tudo é o resultado do meu trabalho, sobretudo na defesa da causa pública, justiça social e da boa governação".
Além disso, "sou considerado responsável pela derrota do partido FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique] em Barué, na província de Manica”, explica o jornalista e coordenador rádio comunitária de Catandica.
15.12.2016 Rádio Comunitária Catandica - MP3-Mono
John Chekwa terá convidado para os programas da rádio pessoas bastante críticas à governação da FRELIMO. Por outro lado, a Rádio Comunitária de Catandica e o seu coordenador são acusados de terem sido os responsáveis, nos últimos três anos, pelas quedas do administrador, do secretário permanente e do primeiro secretário da FRELIMO, no distrito de Catandica. O que terá acontecido na sequência do jornalista ter denunciado, em 2013, o esquema do desvio de fundos de Estado para financiar a campanha eleitoral do partido FRELIMO.
Assim, John Chekwa e a Rádio Comunitária de Catandica passaram a ser vistos como instrumentos da oposição. E no contexto de instabilidade político-militar, o jornalista passou a integrar a lista de alvos dos chamados "esquadrões de morte", revelou o Instituto de Comunicação Social para África Austral, MISA-Moçambique.
Entretanto, num comunicado divulgado recentemente (08.12), o MISA-Moçambique considerou que "a vandalização, roubo de bens, tortura aos filhos e ameaça de morte ao jornalista são atos graves que atentam contra o direito à liberdade de imprensa e de expressão".
No documento, a organização pede aos órgãos governamentais e da justiça que "levem a sério, não só estes actos, como também todo o tipo de violações ou tentativas de violação da liberdade de imprensa e de expressão no país". O MISA-Moçambique apela ainda à Polícia e à Procuradoria-Geral da República que investiguem, identifiquem e responsabilizem os autores desta ameaça.
Há cada vez mais deslocados no centro de Moçambique
Cerca de 6.000 pessoas estão alojadas em centenas de tendas distribuídas por quatro centros de acomodação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG) nos distritos de Gondola, Vanduzi, Mossurize e Báruè.
Foto: DW/B. Jequete
Fugir à guerra
Mais de mil pessoas chegaram em setembro e outubro de 2016 ao novo centro de acolhimento de Vanduzi, na província de Manica, onde se avolumam as queixas. Fogem do conflito que opõe as forças governamentais aos homens armados da RENAMO, por medo de serem atingidas pelas hostilidades. Dezenas de cidadãos ficaram sem casa na sequência de incêncios provocados por grupos rebeldes.
Foto: DW/B. Jequete
Deslocados de todas as idades
As autoridades abriram o centro de acolhimento de Vanduzi recentemente face ao número crescente de ataques armados na região. Aqui, vivem adultos, idosos, jovens e crianças que foram obrigados a abandonar a escola. Feniasse Mateus está a faltar às aulas. "Viemos para aqui com a família, estou há um mês sem estudar", lamenta.
Foto: DW/B. Jequete
Sem água potável
Em Vanduzi, onde foi acolhida, Fátima Saíde queixa-se das fracas condições, nomeadamente pela inexistência de água potável. "Estamos a sofrer por causa da água, estamos a beber água suja, cheia de capim e de bichos. Têm-nos dado cloro para pormos na água e bebermos". Segundo esta deslocada, a água é retirada de furos tradicionais e charcos.
Foto: DW/B. Jequete
Risco de doenças
A falta de água própria para consumo a somar à falta de condições de higiene preocupa estes milhares de deslocados. Fátima Saíde, teme por exemplo, a eclosão de doenças como a cólera e os surtos de diarreia aguda. Por outro lado, a seca na região agrava as dificuldades.
Foto: DW/B. Jequete
Mais de uma centena de famílias deslocadas em Vanduzi
Os deslocados do novo centro de Vanduzi, criado no início de outubro inicialmente com 125 famílias, são provenientes de Nhamatema, Punguè Sul, Chiuala, Honde, Guta, Mucombedzi, Pina, cruzamento de Macossa, Mossurize, Dombe e Chemba, zonas críticas e agora despovoadas, onde são frequentes relatos de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
Foto: DW/B. Jequete
Uma fuga pela defesa e segurança
Joaquim Abril Jeque condena o clima de terror no centro do país que, na sua opinião, é culpa dos homens armados da RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana). "Achámos conveniente fugir à procura de defesa", conta este deslocado. Segundo ele, as ameaças da RENAMO são constantes. "Ameaçam-nos com armas, matam os nossos animais, levam a nossa comida, agridem as nossas mulheres", exemplifica.
Foto: DW/B. Jequete
"Toneladas" de bens de apoio a caminho
Cremildo Quembo, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), diz que as autoridades estão a ajudar como podem as famílias deslocadas, em Vanduzi. "De salientar que este processo de assistência às famílias é contínuo e já estão a entrar toneladas [de bens de apoio] para todos os distritos afetados", garante o responsável.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de espaço
Devido à insuficiência de tendas, duas ou mais famílias são obrigadas a conviver na mesma barraca de seis metros quadrados. Rostos tristes e lábios rasgados denunciam a pobreza e a fome. A maioria destes deslocados dependem apenas da distribuição de alimentos do INGC, que definem no entanto como "irregular".
Foto: DW/B. Jequete
Faltar à escola
Para além do trauma e do medo constante, a escalada do conflito interno em Moçambique terá outras consequências no futuro das crianças do centro do país. Chinaira José é uma de várias centenas de estudantes que ao serem obrigados a sair da sua zona de residência têm de faltar às aulas, pondo em risco a sua formação escolar.