Jornalista Rafael Marques condecorado por João Lourenço
gcs | Lusa
7 de novembro de 2019
Jornalista e ativista dos direitos humanos Rafael Marques foi condecorado pelo Presidente angolano, João Lourenço. Marques recebeu medalha de mérito pelo seu combate contra a corrupção em Angola.
Foto: Maka Angola
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Rafael Marques foi uma das cerca de 70 personalidades e instituições condecoradas esta quinta-feira (07.11) pelo chefe de Estado angolano, João Lourenço.
O jornalista é o fundador do portal online Maka Angola, especializado em investigações sobre corrupção, e foi detido várias vezes durante o mandato de José Eduardo dos Santos, uma delas por escrever num artigo que o ex-Presidente era um "ditador".
"Angola vive os ventos da mudança"
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Ao receber agora a medalha de mérito das mãos de João Lourenço, Rafael Marques disse estar "bastante satisfeito", porque já foi chamado de "vende pátria" e agora é "patriota".
O jornalista e defensor dos direitos humanos elogiou ainda a iniciativa de João Lourenço, por ser "uma atitude de inclusão de todos os angolanos que muito têm feito para o desenvolvimento de Angola, mas nunca foram reconhecidos", afirmou Marques ao Novo Jornal.
Os condecorados foram desportistas, empresários e membros da sociedade civil, como o jornalista Sousa Jamba ou o músico Eduardo Paim.
Em setembro, numa entrevista à agência de notícias Lusa, Rafael Marques elogiou o "maior espaço de liberdade de expressão" em Angola, desde que João Lourenço é Presidente, tal como o "fim da ideia de impunidade" no país.
Presidente angolano, João LourençoFoto: picture alliance/dpa/R.Jensen
Apelo à luta contra a corrupção
Durante a cerimónia de entrega das condecorações, no Palácio Presidencial, e a poucos dias da comemoração de 44 anos de independência, a 11 de novembro, o chefe de Estado João Lourenço elogiou todos aqueles que, ao longo dos anos, não baixaram os braços, apesar das dificuldades.
"Bravos são aqueles que ao invés de se lamentarem internamente das dificuldades existentes fazem delas oportunidades para vencer na vida, arregaçam as mangas e vão à luta pelo pão para as suas famílias sem dependerem necessariamente de um patrão", disse João Lourenço, citado pela agência noticiosa angolana Angop.
O Presidente angolano apelou ainda a um país unido no combate à corrupção. Elogiou quem "desde cedo" teve a coragem de o fazer. E admitiu que a homenagem desta quinta-feira pode ter uma "leitura e reações díspares, a julgar pelos estereótipos criados ao longo do tempo, quando a corrupção era encarada como algo normal".
No entanto, opinião diferente sobre esta homenagem terá uma "grande maioria" do povo angolano e da comunidade internacional, rematou Lourenço.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.