No livro "A Grande Corrupção", o jornalista Hélio Filimone conta a história do roubo de dinheiro em instituições do Estado envolvendo figuras influentes da sociedade moçambicana. Com prefácio do Presidente Filipe Nyusi.
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Além dos rombos financeiros mais mediáticos em Moçambique desde 2008, a obra também conta como funcionam os esquemas de corrupção e fala dos seus atores.
O autor do livro não tem dúvidas de que os altos responsáveis são os grandes corruptos e que usam os seus subordinados, sobretudo os que estão nos departamentos financeiros, para assinar autorizações de pagamentos indevidos.
"Estou a falar do caso FDA (Fundo de Desenvolvimento Agrário), estou a falar do rombo no Comando do Exército, estou a falar do caso Aeroportos de Moçambique, estou a falar do desvio de fundos no Ministério da Educação e outros", aponta Hélio Filimone.
Foram casos e julgamentos que o jornalista acompanhou e, por isso, decidou lançar o livro para "tentar moralizar a sociedade" moçambicana."Que façamos de tudo de modo a evitar o cometimento da corrupção, ou seja, o servidor público deve estar preparado para desempenhar a sua atividade de servir o cidadão e o cidadão não pode ter de desembolsar algum valor que é para obter algum serviço", defende.
Prefácio de Filipe Nyusi
O Presidente da República, Filipe Nyusi, que prefaciou o livro, reconhece que há muita corrupção no país: "Grande parte dos casos que estão a ser testemunhados não são casos de ontem nem do ano passado, são casos que vinham acontecendo. A nossa justiça está em cima desses casos todos e parece que há mais casos do que ontem e pode haver mais nos próximos anos."
Jornalista retrata a "grande corrupção" em Moçambique
Por isso, o chefe de Estado quer que o combate à corrupção envolva todos os setores da sociedade. "Não podemos ser todos comentadores. A corrupção não se combate a comentar ou a lamentar ou a culpar um ao outro, é fazendo para todos nos livrarmos disto", defende.
A FRELIMO, cujos membros influentes estão neste momento na barra do tribunal por causa das dívidas ocultas, quer que a corrupção seja reduzida, afirma o porta-voz do partido no poder. Caifadine Manasse diz que é preciso "olhar com muita seriedade" para a corrupção - "seja ela grande ou pequena" - e "combatê-la com energia suficiente" para que se acabe com "este modus operandi que pode perigar a construção do nosso estado democrático e o desenvolvimento do país."
Impacto da crise na vida dos moçambicanos
Trabalhadores em Maputo relatam as dificuldades que enfrentam todos os dias, com o país mergulhado numa crise financeira. Alguns ainda conseguem pequenos lucros, enquanto outros tentam estratégias para atrair clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Novos tempos, menos lucros
Ana Mabonze tem uma loja de gelados há pouco mais de sete anos e diz que os rendimentos não têm sido bons ultimamente. Por dia, lucra apenas o equivalente a cerca de dois euros. O negócio é feito na ponte cais, também conhecida por Travessia. Nestes dias, os lucros baixaram porque os automobilistas que iam de ferryboat para Katembe agora usam a nova ponte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"Boa cena"
O negócio de transferência de dinheiro por telefone conhecido por Mpesa está a alimentar muitas famílias. É o caso de Angélica Langane, que na sua banca "Boa Cena" diz ter clientes frequentemente, porque muitos estão preocupados em transferir dinheiro, seja para pagar dívidas, fazer compras ou apenas para ter a sua conta em dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
O dinheiro não aparece
Numa das ruas de Maputo também encontramos Dulce Massingue, que montou a sua banca de venda de fruta. Para ela, este negócio não está a dar lucros. Diz que o pouco que ganha apenas serve para pagar o seu transporte. Nestes dias de crise, Dulce pensa em mudar de negócio, mas tudo depende do dinheiro que não aparece.
Foto: DW/Romeu da Silva
Trabalhar para pagar o transporte?
O trabalho de Jorge Andicene é recolher garrafas plásticas para serem recicladas pelos chineses. Sem ter revelado quanto ganha por este negócio, Jorge diz que não chega a ser bom, porque o mercado está muito apertado. Os preços de vários produtos subiram, por isso também os lucros são apenas para pagar o transporte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"As pessoas comem menos na rua"
A dona desta barraca não quis ser identificada, mas confessa que por estes dias o negócio baixou bastante. Vende hambúrgueres e sandes. As pessoas agora preferem trazer as suas refeições de casa para poupar dinheiro, diz. O negócio rende-lhe por dia o equivalente a dois euros, dinheiro que também deve servir para comprar outros bens para as crianças.
Foto: DW/Romeu da Silva
Costureira também não vê lucros
O arranjo de roupas é outro negócio pouco rentável, mesmo nos tempos das "vacas gordas". É oneroso transportar todos os dias esta máquina, por isso Maria de Fátima decidiu ficar num dos armazéns na cidade de Maputo, pagando um determinado valor. São poucos os clientes que a procuram para arranjar as suas roupas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Negócio já foi mais próspero
Um dos negócios que tinha tendência de prosperar na capital era a venda de acessórios de telefones. Mas como há muitas pessoas que fazem este negócio, a procura agora é menor e o lucro baixou muito. O que salva um pouco estes empreendedores é o facto de cada dia haver novos tipos de telefones.
Foto: DW/Romeu da Silva
Poder de compra reduzido
Nesta oficina trabalham jovens mecânicos especializados na reparação de radiadores. Não quiseram ser identificados, mas afirmam que durante anos este negócio lhes rendia algum dinheiro para pagar a escola. Mas com a crise que se vive agora, a situação agravou-se. São poucos os clientes que os procuram e alegam que muitos moçambicanos perderam poder de compra.
Foto: DW/Romeu da Silva
Nada de brilho
O negócio de engraxador é outro que já não está a render, segundo os profissionais. Os únicos indivíduos que os procuram são estrangeiros de origem europeia, sobretudo portugueses. Os nacionais, diz Sebastião Nhampossa, preferem fazer o serviço por conta própria em casa. Com esta crise, é normal os engraxadores serem visitados apenas por um ou dois clientes por dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estratégias para atrair o cliente
Quando as atividades da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) trouxeram à tona a real situação de higiene nos restaurantes, muitos cidadãos passaram a não frequentar estes locais. Como forma de deleitar a clientela, o dono deste pequeno restaurante promove música ao vivo de cantores da velha guarda e ten uma sala de televisão para assistir a jogos de futebol.