Marromeu: Agressões a jornalistas na repetição das eleições
Arcénio Sebastião
23 de novembro de 2018
Jornalistas foram agredidos durante a repetição das eleições autárquicas em Marromeu, no centro de Moçambique. Mas, segundo as autoridades, a votação decorreu de forma "ordeira". RENAMO lidera a contagem de votos.
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A repetição das eleições autárquicas no município de Marromeu, na província de Sofala, em Moçambique, ficou marcada, esta quinta-feira (22.11), por uma série de agressões a jornalistas e também por detenções de apoiantes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, que teriam mais de um cartão de eleitor ou cartões falsos. As assembleias de voto fecharam a uma de madrugada sem sequer colar os editais nas paredes, segundo apurou o correspondente da DW África na região.
À DW, o jornalista do semanário Zambeze, Jordane Nhane, diz ter sido ameaçado por um grupo de fiscais da FRELIMO, ao princípio da noite. "Fui surpreendido com um grupo supostamente da FRELIMO, que estava a agredir aqui jornalistas. Eu não sou o primeiro caso. Aconteceu com o cinegrafista da STV e também com [o profissional] da Rádio Moçambique. Sou a terceira vítima no mesmo dia, em dois postos. Imagina se fosse um distrito todo", revelou.
Jornalistas agredidos na repetição das autárquicas em Marromeu
A equipa da Rádio Moçambique acabou abandonando o trabalho temendo represálias. O jornalista da televisão privada STV, Francisco Raiva, não aceitou dar entrevista, mas confirmou ter sido agredido por um alegado agente da polícia secreta, enquanto tentava reportar uma irregularidade.
Por seu lado, o mandatário da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), André Magibiri, apelou à calma aos seus fiscais e aos jornalistas que foram impedidos de ter acesso às salas de votação, por motivos não esclarecidos.
"Votação ordeira"
Entretanto, o diretor do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), Augusto Sande, considerou que a votação decorreu de forma ordeira. "O processo decorreu de uma forma ordeira e pacífica. Registamos muita afluência nas assembleias de voto até por volta das 12h, e no princípio da tarde voltamos a apanhar mais uma grande afluência. Até às 18h todas as mesas foram encerradas".
Para garantir que os tumultos registados na eleição de 10 de outubro não se repetissem nesta votação, os 56 membros das mesas de voto foram devidamente instruídos pelo STAE. Na primeira volta, os tumultos que envolveram membros e simpatizantes dos partidos políticos culminaram com a intervenção da polícia.
Ao longo desta quinta-feira, as várias equipas de observação que acompanharam o processo foram apontando alguns problemas, que mais tarde foram supridos.
Os eleitores de Marromeu foram de novo chamados às urnas, na sequência da anulação do escrutínio de 10 de outubro por ordem do Conselho Constitucional, que alegou a ocorrência de irregularidades que interferiram no processo de apuramento dos resultados. Entre as ocorrências, o alegado desaparecimento de urnas.
No processo de contagem escrutínio desta quinta-feira, que já havia sido concluído em cinco das oito mesas de voto, a RENAMO está na dianteira. Nas restantes três mesas a contagem foi paralisada. Não houve consenso entre os partidos, e o STAE, com o apoio da polícia, invadiu as salas, recolheu os kits e foi-se embora. Frustrada na tentativa de negociar com o STAE, a RENAMO apresentou queixa à polícia.
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.