Angola: Eduardo dos Santos fora da lista do MPLA às eleições
Lusa | gs
4 de fevereiro de 2017
O secretário-geral do partido no poder, António Paulo Kassoma, é o número três da lista de candidatos às eleições gerais, liderada por João Lourenço. O vice-Presidente Manuel Domingos Vicente desceu para 24.º lugar.
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O nome do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, não consta da lista de 130 efetivos e 45 suplentes de candidatos a deputados do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) pelo círculo nacional. A lista de candidatos às eleições gerais, previstas para agosto, foi aprovada, na sexta-feira (03.02), pelo Comité Central do MPLA.
O ministro da Defesa, o general João Lourenço, é o cabeça-de-lista, concorrendo para suceder ao atual chefe de Estado e presidente do partido. O número dois é o ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa, que assim concorre a vice-Presidente. Em terceiro lugar surge António Paulo Kassoma, secretário-geral do MPLA.
O vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, que foi número dois da lista do MPLA nas eleições de 2012, caiu para a 24º lugar, posição elegível para deputado.
Ana Afonso Dias Lourenço, antiga ministra do Planeamento e mulher do cabeça-de-lista João Lourenço, ocupa a 9ª posição da lista de candidatos a deputados do partido no poder.
O nome de Fernando da Piedade Dias dos Santos "Nandó", atual presidente da Assembleia Nacional, aparece em 11.º lugar da lista de candidatos pelo círculo nacional e vai recandidatar-se ao mesmo cargo.
A primeira-dama, Ana Paula Cristóvão de Lemos dos Santos, vem em 17.º lugar e é também elegível para deputada.
O único filho de José Eduardo dos Santos que surge na lista do MPLA é Welwitschia (Tchizé) dos Santos. A terceira filha mais velha do Presidente angolano figura no 80.º lugar. Ao contrário do que se especulava nos últimos meses, os dois filhos mais velhos do chefe de Estado, Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos, não constam das listas (círculos nacional e provinciais).
A Constituição angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90). Nas últimas eleições gerais, em 2012, o MPLA elegeu 94 deputados.
Governadores provinciais lideram listas do MPLA
Todos os primeiros secretários provinciais do MPLA que são simultaneamente governadores, vão encabeçar as respetivas listas candidatas a deputados pelos 18 círculos provinciais do país. Assim, o general Higino Lopes Carneiro, primeiro secretário provincial do partido e governador de Luanda, encabeça a candidatura de deputados pelo círculo provincial da capital angolana.
João Bernardo de Miranda lidera a lista provincial do Bengo. Em Benguela é Isaac Maria dos Anjos. Álvaro Manuel de Boavida Neto encabeça a lista do Bié. Em Cabinda a número um é Aldina da Lomba Catembo; no Cuando Cubango, Pedro Mutindi; no Cuanza Norte, José Maria Ferraz dos Santos; e no Cuanza Sul, Eusébio de Brito Teixeira.
Kundi Paihama chefia a lista no Cunene. João Baptista Kussumua lidera a lista de candidatos do MPLA na província do Humabo, posição que é ocupada por João Marcelino Tyipinge na Huíla. O número um do partido no poder na Lunda Norte é Ernesto Muangala e na Lunda Sul, Cândida Maria Guilherme Narciso. Norberto Fernandes dos Santos "Kwata Kanawa" encabeça a lista do MPLA em Malange. No caso do Moxico, o primeiro nome da lista de candidatos é João Ernesto dos Santos "Liberdade", no Namibe surge Rui Falcão, no Uíge Paulo Pombolo e na província do Zaire José Joana André "Joanes".
"Esta lista foi preparada pelo Bureau Político em conformidade com o estatuto do partido e tendo em conta a contribuição dos escalões intermédios e da bancada parlamentar do partido, assim como do secretariado do Bureau Político. Foram observados tanto os princípios da renovação e continuidade, como os critérios da representatividade das mulheres e jovens e de outros extratos sociais definidos pelo Comité Central e pelo congresso do partido", afirmou o líder do partido e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, na reunião do Comité Central do MPLA.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.