Jomav: Coabitação com DSP não seria boa para a Guiné-Bissau
Lusa
8 de julho de 2019
Não foi pessoal, mas política a decisão de não nomear o líder do PAIGC para primeiro-ministro, garante o Presidente guineense. Chefe de Estado promete anunciar em breve se vai ser candidato às presidenciais.
Publicidade
O chefe de Estado da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, explicou que não nomeou Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, para o cargo de primeiro-ministro, porque a coabitação não seria boa para nenhum dos dois, nem para o país.
"Foi essa a preocupação tendo em conta a situação do povo, do país, os desafios, senti que a coabitação entre os dois não seria boa nem para mim, nem para ele, nem para o país. A política significa servir os outros, estamos aqui para servir o país, se não estamos aqui para servir o país e estamos para conflitos permanentes, significa que não vale a pena", afirmou José Mário Vaz, em entrevista à Lusa e à RTP.
Salientando não ter qualquer problema pessoal com o presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), José Mário Vaz disse que ficou preocupado com o aconteceu na legislatura anterior.
"Ele foi primeiro-ministro da Guiné-Bissau, as coisas não correram bem, porque não conseguiu resolver os problemas, os desafios que se colocavam ao país, e nem notámos algum sinal que pudesse contribuir para termos alguma esperança no futuro", afirmou.
Sem entendimento, país não avança
O Presidente guineense demitiu Domingos Simões Pereira do cargo de primeiro-ministro em 2015, alegando nepotismo e corrupção, depois de o PAIGC ter vencido as eleições legislativas de 2014, dando início a uma crise política no país, que levou ao encerramento do parlamento por três anos.
Para José Mário Vaz, aquela foi a base para a sua decisão e para não voltar a colocar o país numa situação difícil. "Não se trata de questões pessoais, trata-se de questões políticas", sublinhou.
O Presidente guineense alega também que outra razão para não ter nomeado Domingos Simões Pereira está relacionada com determinadas afirmações, que o deixaram um "bocado preocupado", referindo-se a um protesto que decorreu em Bissau e em que o presidente do PAIGC pediu aos militares para "abrirem alas" para as pessoas chegarem ao Palácio da Presidência.
"Os dois (chefe de Estado e primeiro-ministro) são importantes para o futuro do país e não havendo entendimento entre os dois torna-se difícil realmente fazer avançar o país", disse.
O PAIGC voltou a vencer as eleições legislativas realizadas em 10 de março e indicou o nome de Domingos Simões Pereira para o cargo de primeiro-ministro, mas José Mário Vaz recusou, alegando questões éticas.
O partido acabou por indicar o nome de Aristides Gomes, que já ocupava o cargo. Na sequência daquela decisão, o presidente do PAIGC acusou o Presidente de alegada tentativa de golpe de Estado. "Eu dar indicação para fazer um golpe de Estado. A quem vou dar um golpe de Estado?", questionou José Mário Vaz.
Questionado sobre se são os militares ou os políticos os responsáveis pela instabilidade na Guiné-Bissau, o chefe de Estado guineense salientou que chegou à conclusão que são os políticos.
"No contencioso ou nos problemas entre nós vamos buscar os militares para dirimir os conflitos. Os militares deram um exemplo. Os políticos estão na base de tudo isto e hoje depois de cinco anos do meu mandato com paz civil e tranquilidade interna ninguém vê os militares a andar com armas nas ruas e nós políticos é que temos problemas entre nós", afirmou.
Nova candidatura?
Entretanto, o chefe de Estado promete anunciar em breve se vai ser candidato às eleições presidenciais, marcadas para 24 de novembro. "Primeiro precisamos de fechar os ciclos. Foram as eleições, agora conseguimos realmente empossar o novo Governo, temos a assembleia, em princípio a funcionar em pleno, as instituições do Estado mais importantes já estão praticamente em funções e depois de tudo vou arranjar uns dias para refletir", afirmou, em entrevista à Lusa e à RTP.
O Presidente guineense terminou o seu mandato de cinco anos em 23 de junho, mas vai continuar em funções até à tomada de posse do futuro chefe de Estado.
"Às vezes tomar a decisão não depende só de nós, depende da família e de amigos próximos e irei refletir melhor nos próximos tempos e irei dar uma resposta. Dependerá também de muitos fatores e espero brevemente ter uma resposta", sublinhou.
Sobre os cinco anos do seu mandato, José Mário Vaz, que foi o primeiro Presidente do país a terminar um mandato, considerou que foram muito difíceis, com muitos desafios, mas "com determinação" conseguiu chegar ao fim sem golpes de Estado e sem refugiados políticos, com liberdade de imprensa e de expressão, legados dos quais se orgulha.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".