José Pierre Vunguidica, o angolano da terceira divisão alemã
7 de outubro de 2013José Pierre Vunguidica nasceu em Luanda, em 1990, mas vive na Alemanha desde os dois anos de idade. A guerra em Angola foi o motivo que levou os pais a mudarem-se para a cidade de Neuwied, no estado da Renânia Palatinado, onde já tinham pessoas conhecidas. “Não é uma cidade grande, mas as pessoas que saem de África ajudam-se, por isso viemos para cá”, diz o futebolista.
Como chegou à Alemanha em idade pré-escolar, José Pierre Vunguidica só aprendeu português em casa. Na escola, o alemão passou a ser a língua corrente, a mesma que hoje prevalece nos relvados. “Em casa falávamos português, mas esqueci muito porque não vivo mais com os meus pais”, explica.
O pai já jogava à bola, mas José Pierre Vunguidica foi o primeiro a tornar-se jogador profissional.
Tudo aconteceu por acaso, quando aos oito anos foi desafiado por um amigo para se juntar aos treinos. “Fui a um treino e gostei. A partir dali comecei a jogar à bola”, recorda.
O seu primeiro clube, o VfL Oberbieber, “era bem pequeno”, relata. Em 2005, com 15 anos, passou para os juvenis do FC Köln, equipa da cidade de Colónia que pertence à segunda Bundesliga alemã. E dois anos mais tarde, assinou o seu primeiro contrato profissional naquela mesma equipa. Vunguidica continuou a vestir a camisola do FC Köln, mas em 2011 foi emprestado ao Kickers Offenbach, e na temporada seguinte seguiu para o SC Preußen Münster, também a título de empréstimo. O jogador que tem dupla nacionalidade, angolana e alemã, foi contratado em 2012 pelo SV Wehen Wiesbaden, clube da terceira divisão da Alemanha, ao serviço do qual já marcou cinco golos nesta época.
Desporto exige “muita disciplina”
Após terminar a escola, Vunguidica dedicou-se inteiramente ao futebol. Os treinos diários, que podem chegar a dois por dia, não deixam muito tempo livre para outras atividades. “É preciso muita disciplina, mas é normal. É o meu trabalho”, justifica o avançado.
Nos tempos livres, o futebolista gosta de ir ao cinema e de tocar piano. José Pierre Vunguidica começou as aulas de piano há cerca de seis meses e entre as suas músicas preferidas está a Für Elise, do compositor Beethoven.
Futebol é “religião” na Alemanha
José Pierre Vunguidica esteve poucas vezes em Angola, mas vê muitas diferenças entre o país africano e a Alemanha, a começar nas infraestruturas desportivas. “Na Alemanha, quase todos os clubes a partir da terceira divisão já têm grandes estádios, têm muitos fãs, e também têm condições para treinar”, compara. Na Alemanha, continua Vunguidica, o futebol “é uma paixão nacional”. “É uma religião. Quase todos os miúdos querem ser grandes jogadores”, exclama.
O orgulho de jogar por Angola
José acompanha os jogos do campeonato angolano Girabola, tal como os seus colegas angolanos acompanham a Bundesliga alemã. E apesar de se sentir em casa a jogar no campeonato alemão, José Pierre Vunguidica recorda com orgulho as vezes que jogou pela seleção angolana. “Todos os jogadores gostam de jogar para as equipas da sua terra”, sublinha. Vestir a camisola de Angola foi também uma oportunidade de jogar com alguns futebolistas que admira. “Só Deus sabe se mais alguma vez me vão convidar para a seleção angolana”, deixa no ar.
José Pierre Vunguidica lamenta o facto de a seleção de Angola não se ter qualificado para o próximo Mundial de Futebol, a disputar no Brasil, no próximo ano. A equipa angolana disputou a Copa do Mundo 2006, uma participação que Vunguidica recorda com emoção, sobretudo o jogo Angola –Portugal, disputado na cidade alemã de Colónia. “Eu tinha 16 anos e estava lá fora, à frente do estádio”, relembra, entre risadas, ao explicar que não tinha bilhete para assitir ao jogo.
Conhecer África a jogar
José Pierre Vunguidica já teve oportunidade de vestir a camisola da seleção angolana por várias vezes. Ao serviço da equipa de Angola, o atacante visitou países como a Guiné-Bissau, a África do Sul, Nigéria e Zimbabué.
O futebolista teve ainda a opotunidade de visitar a família na sua terra natal, mas já habituado ao frio da Alemanha, José estranhou o calor angolano. “É muito quente e muito diferente da Alemanha, onde durante oito ou nove meses só faz frio”. José está há muitos anos longe de Angola, mas continua a apreciar a comida típica do seu país de origem. Nos pratos preferidos cita a feijoada e o funge, a que não resiste em casa da mãe.
Conselhos para os jovens
No desporto rei, José Pierre Vunguidica destaca Didier Drogba e Robert Levandowski como exemplos de grandes futebolistas da atualidade.
Para os jovens que queiram seguir a carreira de jogador, o jovem de 23 anos aconselha a “trabalhar bastante porque o caminho é muito duro”. Por outro lado, incentiva a não descurar os estudos, porque “além de jogar bem, é muito importante acabar a escola”. José Pierre Vunguidica diz ainda que para ser um bom jogador é preciso ter talento, além de força de vontade e trabalho. “Se você conseguir, felicidades”, remata.
Futuro pode passar por ser treinador
A rotina de treinos de José Pierre Vunguidica ainda vai continuar por muitos anos, mas ele já faz planos para a segunda fase da sua carreira. “Talvez fique treinador”, revela. É que é “muito difícil desligar do futebol para quem fez toda a vida na bola”, conclui o jogador do SV Weben Wiesbaden.