Joseph Kabila no leste da RDC: Pacificador ou traidor?
6 de junho de 2025
Joseph Kabila encontra-se atualmente em Goma, a capital da província de Kivu do Norte que, desde janeiro deste ano é controlada pelos rebeldes do M23. O ex-chefe de Estado diz ter viajado para o leste da RDC para dar o seu contributo para "pacificar a região".
Mas para o governo do Presidente Félix Tshisekedi, a visita de Kabila é uma provocação. Kinshasa acusa o ex-Presidente de, com esta deslocação, estar a legitimar o M23, apoiado pelo Ruanda, e pela Aliança Rio Congo (AFC-M23), uma coligação de grupos armados e atores políticos à qual, segundo o governo, o próprio Kabila pertence.
Isto mesmo diz à DW, Christian Lumu Lukusa, membro do partido da União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), do Presidente Félix Tshisekedi.
"Ele é o fundador e financiador da AFC. O M23 é uma organização terrorista. O próprio Kabila lutou contra este movimento em 2013. O que mudou para, de repente, eles sejam agora considerados a voz do povo? Conhecemos muito bem os seus planos e estamo-nos a preparar para eles", lembra.
Perda de imunidade e julgamento
Desde que Kabila regressou do exílio, em abril, a situação política na RDC tem estado tensa. O Senado retirou-lhe entretanto a imunidade parlamentar, o que abriu caminho para um julgamento num tribunal militar. É acusado de traição, participação em crimes de guerra e crimes contra a humanidade e apoio a um movimento insurgente.
Em Goma, Joseph Kabila apresenta-se como um mediador do conflito, tendo-se reunido, recentemente, com representantes religiosos, políticos e militares.
Em declarações à imprensa, após um encontro entre o ex-Presidente e líderes religiosos locais, o presidente da Plataforma das Comunidades Religiosas, Joel Amurani, disse que "o ex-Presidente expressou o seu desejo de trazer a paz de volta" ao país.
Opiniões dividem-se
Os cientistas políticos estão divididos. Há quem veja a iniciativa de Kabila como uma ameaça ao Governo. Mas há também quem acredite no diálogo. É o caso de Nkere Ntanda, professor da Universidade de Kinshasa.
"Não vejo necessariamente a sua presença em Goma como uma provocação ou manobra militar para pressionar o regime atual. Não vejo a situação dessa forma. É perfeitamente possível que as suas iniciativas demonstrem boa vontade", diz.
Ao mesmo tempo que sobem de tom as críticas do Governo à presença de Kabila no leste do país, piora a situação humanitária na região. Não há um fim à vista para a violência.