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História

Josina Machel: A combatente pela liberdade de Moçambique

Glória Sousa | rl
23 de abril de 2018

Uma heroína da luta pela liberdade de Moçambique, Josina Machel lutou pela independência do seu país e pelos direitos das mulheres. Morreu aos 25 anos sem ver o seu sonho – Moçambique independente – tornar-se realidade.

DW Comic Republic - Josina Machel
Foto: DW

Quem era Josina Machel?

Josina Abiathar Muthemba, nome de solteira, nasceu a 10 de agosto de 1945 na província do sul de Inhambane. Ao contrário do que acontecia à maioria das mulheres africanas daquela época, a família de Josina encorajou-a a ir à escola e, em 1956, ela mudou-se para a capital, depois chamada Lourenço Marques, para frequentar a escola secundária. Lá, Josina Machel tornou-se politicamente ativa em grupos de estudantes clandestinos e tornou-se membro de uma célula secreta da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). O partido político atualmente no poder em Moçambique foi fundado na Tanzânia, em 1962, com o objetivo de lutar pela independência de Moçambique do domínio português.

Como contribuiu para a luta pela independência?

Foram precisas duas tentativas para que Josina Machel conseguisse chegar à sede da FRELIMO, na TanzâniaFoto: DW

Quando tinha 18 anos, Josina Machel decidiu fugir de Moçambique para se juntar à luta armada de libertação contra os portugueses. Na primeira tentativa, a jovem foi capturada naquela que era então a Rodésia do Sul (atual Zimbabué), enviada de volta para casa e detida por vários meses. Na segunda tentativa, Josina Machel conseguiu alcançar a sede da FRELIMO na capital da Tanzânia, Dar es Salaam - uma viagem de 3.500 quilómetros.

Porque é Josina Machel famosa?

Por causa da sua dedicação à causa da independência. Ela chegou a recusar uma bolsa para estudar na Suíça, preferindo ficar e continuar a lutar contra os portugueses. Josina Machel lutou ainda pelo direito das mulheres em participar na luta pela libertação do seu país, defendendo a intervenção destas na luta pela libertação e a sua participação ativa na política.

Era a única mulher a combater pela liberdade?

É verdade que outras mulheres também se envolveram na luta armada. Muitas delas foram encorajadas pelo sucesso de Josina no movimento de libertação. A mística em torno de Josina Machel pode ser justificada pela combinação do seu sacrifício pessoal, a sua morte precoce e o seu casamento com o homem que mais tarde se tornaria o presidente de Moçambique. Não é de admirar que o nome que herdou depois do casamento, e apenas durante dois anos, é aquele pelo qual ela é lembrada.

Qual o legado de Josina Machel?

O legado de Josina Machel é evocado todos os anos no dia da sua morte a 7 de abril. Neste dia, Moçambique comemora o Dia Nacional da Mulher, honrando o seu compromisso pela igualdade de direitos.

Foto: DW

Josina Machel foi uma mulher a quem os tiros não intimidaram. Foi das poucas jovens mulheres africanas que frequentaram a escola - um privilégio para quem nasceu em 1945. Depois de se mudar para a capital de Moçambique para frequentar a escola secundária, a jovem começou a frequentar grupos clandestinos de estudantes, tornando-se politicamente ativa. Estava determinada a juntar-se aos moçambicanos que viviam no exílio na Tanzânia e lutavam pela libertação do seu país.

Depois de duas tentativas para chegar à sede da FRELIMO, na Tanzânia, acabou por conseguir em 1965. Josina Machel desempenhou um papel bastante importante, tanto na luta pela liberdade, como pelos direitos das mulheres. 

À DW África, Egídio Vaz, historiador moçambicano, explica que à semelhança de Josina Machel, muitos outros moçambicanos fugiram para o sul do país naquela época com o mesmo intuito de se "engajar no movimento de libertação". "Qualquer um naquelas condições políticas, sociais e económicas tinha que fazer qualquer coisa". Na opinião de Egídio Vaz, "cada geração tem um desafio e eles compreenderam que aquela geração, naquelas condições, estava preparada para avançar para o processo de libertação nacional".

Mas então o que diferenciou Josina Machel? Isabel Casimiro, professora da Universidade moçambicana Eduardo Mondlane, não tem dúvidas de que foi a sua absoluta dedicação à guerra pela libertação. "Quando ela já está na FRELIMO em 1965, começa a participar, ela treina, faz parte do destacamento feminino. Em 1967, a FRELIMO oferece-lhe uma bolsa para ela poder ir estudar para a Suiça e ela rejeita achando que a melhor forma de acompanhar o desenvolvimento da luta era viver de perto os aconteimentos", lembra.

Direitos das mulheres

Josina Machel também acreditava fortemente que as mulheres tinham um papel a desempenhar na guerra pela libertação. Por isso, liderou o Destacamento Feminino da FRELIMO - uma unidade dedicada ao treino militar e educação política.  Ao longo dos anos, Josina Machel foi-se destacando nas fileiras da FRELIMO, tornando-se, em 1969, aos 24 anos, chefe do Departamento de Assuntos Sociais.

Isabel Casimiro lembra ainda que Josina Machel esteve fortemente ligada a várias "obras de carácter social, ligadas à mulher e às crianças". "Esteve muito envolvida na criação de orfanatos nas províncias do Niassa primeiro e depois Cabo Delgado", afirma esta professora, destacando ainda a sua entrega a outras causas como foram a "mobilização das mulheres, a sua formação e questões de unidade nacional".

Josina Machel liderou o Destacamento Feminino da FRELIMOFoto: DW

Motivada para a luta, Josina Machel, num discurso nas zonas libertadas, pediu às mães que deixassem os filhos estudar nos centros de educação da FRELIMO. "A FRELIMO tem uma grande responsabilidade sobre a educação destas crianças, porque nós sabemos que eles vão continuar a lutar. Estas crianças estudam não para as suas mães, mas para servir o país desenvolvendo neste momento de luta e também depois da independência".

"Josina é igual a trabalho"

A saúde de Josina Machel atraiçoou-a. A lutadora ficou doente e o seu estado debilitou-se muito rapidamente. Ainda assim, continuou a trabalhar incansavelmente para construir uma nova sociedade. Egídio Vaz afirma que "se fosse para definir Josina" diria que ela "é igual a trabalho. Um trabalho sem olhar muito para o que se ganha com isto, mas sim olhando para o lado humano, as vidas que se salvam, os progressos que se fazem, a sociedade que se tem de construir, coesa, solidária, que promova a interajuda”, explica.

Em 1969, Josina Machel casou com Samora Machel, que viria a ser o primeiro presidente de Moçambique independente em 1975. Josina Machel não viu o seu sonho tornar-se realidade: a independência de Moçambique. Morreu em 1971 num hospital na Tanzânia.

Hoje, a data da sua morte, 7 de abril, é celebrada como Dia da Mulher em Moçambique.

O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

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