Poesias postadas por Ernesto Moamba na rede social viram livro publicado por editora brasileira. O escritor apresenta o trabalho hoje (29.11) na sede da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), em Maputo.
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Ele tem apenas 22 anos e diz que nenhum "like” no facebook foi tão inesperado quanto o da esposa do editor brasileiro Evan do Carmo, o dono de uma editora que incentiva escritores que não teriam chance de publicar livros. Por acaso, Ernesto Moamba realizou um sonho.
"Foi uma grande surpresa. Eu escrevia. Eu tinha costume de escrever alguns escritos meus e publicar no Facebook. Quando um dia desses a esposa de um editor brasileiro entrou em contato comigo, eu achei interessante. Porque eu já tinha o livro escrito, faltava uma oportunidade”, disse o jovem de Maputo em entrevista à DW África.
O escritor foi encontrado nas redes sociais pela esposa do editor Evan do Carmo, dono da "Editora do Carmo", quem convidou Moamba a publicar o trabalho em versões impressas e digitais.
Poemas sobre a África
Os 90 poemas de Ernesto Moamba escritos desde 2008 retratam o cotidiano das tradições africanas e agora serão distribuídos nas 113 páginas do livro "Liberta-te Mãe África”. Porquê Moamba escolheu este tema para fazer a sua poesia?
"É como alguém que dorme saudável e acorda doente. A a primeira impressão é procurar um médico para diagnosticar. Assim aconteceu comigo. Vendo a cultura da África, as dores e o que nossos ancestrais passaram, isso criou-me uma pequena revolta e incentivou-me a escrever, a investigar mais sobre a escrita”.
Um grande trabalho para um escritor tão jovem. "Você se surpreende ao ler a poesia de um garoto de 22 anos como o Ernesto"; diz o editor brasileiro Evan do Carmo, quem decidiu publicar o livro do rapaz de Maputo.
Escritor precoce
Ernesto Moamba começou a escrever por volta dos 10 anos. Já participou de algumas antologias, porém nunca teve um trabalho publicado. Sua primeira formação foi contabilidade e em meio aos números nunca deixou de escrever. Uma paixão que surgiu em meio as lágrimas das histórias contadas pelos avós.
"Eu vivi com meus avós na infância. Eles me contavam histórias e acontecimentos do passado da escravidão. E, em cada história, era uma gota de lágrima que saía em mim. Por essa razão alguma coisa me motivava: - ‘Ernesto, você tem de escrever, dizer e transmitir isso'”.
O moçambicano sempre sonhou em publicar um livro, porém nunca teve chance. As dificuldades foram as mesmas enfrentadas por outros escritores, explica o editor brasileiro Evan do Carmo.
230.11.2016 Escritor - MP3-Mono
"As editoras são blindadas - elas raramente recebem autores novos”, diz o editor. Mas com a internet o contato entre as editoras e autores é rápido e direto. "Hoje, você pode ler um conto, poema, ensaio ou artigo e no mesmo momento definir se tem conteúdo para seguir em frente com a publicação”.
Pelo jeito, Ernesto Momba seguirá em frente com suas palavras no imenso universo da internet. Resta a dúvida se o jovem moçambicano formado em contabilidade deixará de vez o mundo dos números para mergulhar no mundo das palavras.
Crianças moçambicanas: um olhar de Albino Moisés
As imagens do fotógrafo moçambicano Albino Moisés mostram crianças moçambicanas em vários momentos do dia – entre o divertimento e o trabalho infantil – e em várias regiões do país – de Maputo a Mocuba.
Foto: A.Moisés
O sorriso largo das crianças de Moçambique
No terminal dos transportes coletivos "chapas", na Junta em Maputo, uma jovem vende a um menino viajante fósforos para serem usados no abajur tradicional da casa dos avós. Os sorrisos largos estampados no rosto das crianças fazem parte do trabalho do fotógrafo moçambicano Albino Moisés. Em 2013, as suas fotografias foram expostas em Belo Horizonte, no Brasil.
Foto: A.Moisés
Ousadia na diversão
Mesmo em dias sem sol, jovens encontram oportunidade para se divertir com ousadia, como aqui na praia da Costa do Sol de Maputo. Com muita criatividade, jogos artísticos são feitos sem pensar no que pode acontecer.
Foto: A.Moisés
Trabalho infantil
Meninos ganham a vida empurrando a "txova", um carrinho de boi, com produtos de pequenos comerciantes na periferia de Maputo. Ao final do trabalho, ganham um refrigerante, que é dividido para todos do grupo. "Ato que vira uma festa", afirma o fotógrafo Albino Moisés.
Foto: A.Moisés
Concentração na brincadeira
Em meio a construções inacabadas, por falta de recursos, os pequenos abandonados se divertem como podem na areia das obras. Até desanimadas, as crianças, encontram força para brincar. A foto do Bairro Guava, na periferia da capital moçambicana Maputo, data de 2007.
Foto: A.Moisés
Pensando em dias melhores
O pai, portador de deficiência, com a cabeça baixa, pensativo, na companhia da sua filha. Os dois vendem cigarros na baixa da cidade de Maputo para sobreviver. É uma das fotos selecionadas por Rosália Diogo, a curadora brasileira da exposição em Belo Horizonte. Quando viveu em Maputo para escrever a sua tese de doutorado, ela se incomodou com as condições em que vivem as crianças moçambicanas.
Foto: A.Moisés
Trabalho infantil como um dever
A população de Mocuba tenta construir as suas próprias casas. As crianças também participam na fabricação de tijolos para erguer os seus lares, usando enxadas. A imagem é uma das várias fotografias que Albino Moisés tirou na província nortenha da Zambézia e também fez parte da exposição em Belo Horizonte intitulada "Mwana-Mwana: pérolas do Índico".
Foto: A.Moisés
A vida sempre em construção
Jovens ajudam na construção do teto da casa em Mocuba, na Zambézia. Mesmo com todas as dificuldades no dia-a-dia, especialmente pela desigualdade social, o tom da vida, em Moçambique, segundo o fotógrafo Albino Moisés é: "A nossa casa, nós construímos todos juntos".
Foto: A.Moisés
Um olhar distante, mas de esperança
A província de Zambézia tem maior tradição no uso de bicicletas em Moçambique. Aqui na cidade de Mocuba, "o menino já sonha em aprender, desde cedo, a montar uma bicicleta", diz o fotógrafo Albino Moisés. "O olhar da criança é sim incerto, mas de esperança", confirma.