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Jovem que teve rosto cortado denuncia homofobia em Bissau

20 de julho de 2020

Marçalino Gomes publicou uma foto com o rosto cortado para protestar contra a agressão e a discriminação que os homossexuais sofrem na Guiné-Bissau. Após ser espancado mais uma vez, o jovem resolveu falar.

Guinea-Bissau
Foto: Privat

O guineense Marçalino Baldé Gomes, de 20 anos, diz ser vítima de discriminação desde a infância.

Os ataques não são somente verbais. Ele frequentemente é alvo de agressões físicas pelo fato de ser um gay a viver na Guiné-Bissau. Neste domingo (19.07), ocorreu mais um capítulo desta história de humilhações e preconceito. Gomes conta que foi agredido por um desconhecido numa rua da capital guineense.

Cansado da violência, Marçalino decidiu romper o silêncio e recorrer às redes sociais, onde publicou fotos com sangue a correr pelo seu rosto após a agressão. Em entrevista à DW África, o jovem denuncia que isso não ocorre somente com ele. Os gays são constantemente agredidos nas ruas de Bissau.

"Há muita discriminação contra os homossexuais na Guiné-Bissau. Mesmo [se tu não tens] problemas com uma pessoa, ela vai agredir-te. No domingo, fui fazer xixi, um rapaz veio ter comigo. Ele partiu a garrafa e cortou o meu rosto. Não o conheço de lado algum", lembra. 

Agressões não param

Gomes conta que não foi a primeira vez que o agressor e seu grupo o atacaram. Certa vez, conta que foi espancado a pauladas até desmaiar, caindo dentro de um canal de água à beira da estrada, no bairro de Ajuda, em Bissau. O jovem diz que sempre teve medo de denunciar as agressões por achar que a perseguição poderia piorar. "Se denunciares, és esfaqueado do nada. Insultam-te no meio da rua, atiram pedras contra ti. Escondem [as pedras] num cantinho e, quando passas, atiram pedras".

Jovem que teve rosto cortado denuncia homofobia em Bissau

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O jovem de 20 anos diz que até familiares e policiais são cúmplices e, de certa forma, apoiam os agressores.

"Se fores à polícia apresentar a queixa, ficas até envergonhado. Porque os próprios agentes da polícia riem-se de ti, gozando com a tua situação. Alguns familiares disseram-me que não querem nada comigo até a morte. Depois desta agressão diz-se que me falharam, que deveriam bater-me ainda mais", lamenta Marçalino. 

Discriminação impediu a educação

Para o Gomes, a discriminação é gritante na Guiné-Bissau. Mesmo nas discotecas as pessoas são barradas, não podem frequentar certas festas e têm medo de andar pelas ruas de Bissau sozinhas ou mesmo usar o transporte público.

O jovem salientou que concedeu a entrevista em crioulo porque não foi tão longe na escola devido aos maus tratos. "Desde criança que sofria de discriminação na escola e parei logo de estudar. Eram só de agressões, brigas, suspensões, gozos, e professores que não ligavam absolutamente nada [para isso]. Preferi ficar assim..." 

Neste domingo, Gomes resolveu falar. Fez um texto no Facebook comentando a última agressão. No relato emocionado, levantou  várias questões à sociedade guineense: "Por quê tudo isso contra os gays? Ser gay é ser um lixo, é ser tambor? Por que não há justiça? Por que o silêncio dos defensores dos direitos humanos? Gay é um extraterrestre?" 

A DW África tentou sem sucesso contatar a Liga Guineense dos Direitos Humanos e a polícia para uma reação sobre as denúncias de Baldé. Até ao momento do fecho desta reportagem, não houve qualquer resposta. 

Discriminação contra LGBTs no banco de sangue

01:39

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