Jovens angolanos vão protestar apesar do não da polícia
17 de setembro de 2013 Numa inédita reunião, no início da noite de segunda-feira (16.09), a polícia de Luanda chamou o grupo de jovens que pretende sair à rua esta semana em protesto contra o presidente de Angola para anunciar o seguinte: “Já não há manifestação e, se houver, a polícia vai tomar as medidas necessárias”.
As palavras não convenceram os jovens que afirmaram à DW que, mesmo assim, com intimidações, vão levar a cabo a marcha. Entretanto, continua na cadeia um jovem manifestante de 17 anos anos acusado pela polícia de incitamento à guerra.
Jovens prometem: "Vamos elevar níveis de luta"
O comandante provincial da polícia nacional, Comissário António Maria Sita, disse a oito membros do Movimento Revolucionário que, por ordens superiores, a manifestação está cancelada. Os motivos são "a não legalização dos promotores, a hora e o local da sua realização".
No fim deste encontro, em que a imprensa foi convidada a retirar-se, um dos membros do movimento, Gaspar Luamba, disse à DW que a solução é enveredar por vias alternativas. Ou seja, manifestações constantes, durante este mês de setembro, mesmo sem autorização oficial. "O aspeto principal da nossa luta é a injustiça que há no nosso país", explica Luamba. "E vamos seguir por outras vias. De certeza que vamos elevar os níveis de luta", garante.
As reivindicações são as mesmas, mas alguns dos atores são diferentes. Segundo a organização, a manifestação será pacífica e muitos dos intervenientes pretendem levar inclusivé as suas crianças. Uma carta será publicada, cujo destinatário é o presidente José Eduardo dos Santos.
Os seus 34 anos no poder, a serem completados no próximo dia 21, a alegada corrupção, falta de apoio às vítimas da seca, a repressão policial e muito mais fazem parte do rol de preocupações.
Caça aos membros do Movimento Revolucionário
Numa conferência de imprensa, ainda antes da reunião com a polícia, os manifestantes afirmaram que há uma autêntica “caça às bruxas” nos bairros periféricos de Luanda. Alguns deles estão a ser vigiados por elementos à paisana e outros terão recebido algumas chamadas à Direcção Nacional de Investigação Criminal para prestarem declarações, num clima de autêntico medo em Luanda.
"O regime de José Eduardo dos Santos, com a cumplicidade do ministro do Interior, está a agilizar um plano macabro - que já começou, com a detenção do Nito Alves - de sequestrar alguns membros do Movimento Revolucionário, três dias antes da realização da manifestação", afirma Gaspar Luamba, acrescentando que "também se vai cadastrar, perseguir e criar obstáculos a jornalistas que fizerem a cobertura do protesto".
A manifestação prevista para o dia 19 de Setembro tem ainda como base o lançar de um alerta ao mundo, sobre as situações que Angola vive, nomeadamente a pobreza, numa altura em que milhões de dólares são gastos para a competição.
Tortura e negação de advogado no caso Nito Alves
Num desenvolvimento paralelo, continua sob custódia policial o menor de 17 anos detido sexta-feira (13.09) por ter mandado imprimir duas camisolas que seriam utilizadas na manifestação do dia 19 de Setembro contra o presidente da Republica, José Eduardo dos Santos. Nas camisolas brancas podia ler-se “Quando a guerra é necessária e urgente” e “Ditador nojento”. A DW apurou que o rapaz, conhecido por NIto Alves, sofreu maus-tratos no fim-de-semana. Esta segunda-feira, foi-lhe negada qualquer visita de um advogado.
O porta-voz da polícia nacional, Comissário Aristófanes dos Santos, disse à imprensa pública que os dizeres são imperdoáveis, pois visam promover a guerra em Angola, considerando que "uma pessoa que utiliza estes dizeres que atentam contra o mais alto magistrado da nação, é uma pessoa que comete atos de delinquência".