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"O que raciocina não é o cabelo, é o nosso cérebro"

9 de maio de 2021

Na província angolana do Bengo, jovens que resolvem criar cabelo queixam-se de discriminação. E não é tudo, dizem que são impedidos de frequentar algumas instituições públicas.

Angola | Diskriminierung von Jugendlichen an Schulen | Moises Miguel
Moisés Miguel, jovem de Caxito, AngolaFoto: Antonio Ambrosio/DW

Jovens angolanos denunciam estarem a ser intimidados em estabelecimentos públicos por terem os cabelos compridos. Alguns rapazes reclamam que não têm mais acesso às salas de aula e percebem a rejeição dos funcionários das escolas.

Geralmente, os jovens ouvem comentários estereotipados, alusivos a condutas sociais com as quais não se identificam. É o caso de Gregório Bambi, de 25 anos. O estudante diz que tem sido impedido de entrar na escola desde que decidiu criar cabelo.

"Só neste momento eu não sou permitido entrar na escola só por ter cabelo grande. Não vejo motivo de nos chutarem só por ter cabelo grande, até porque o que raciocina não é o cabelo é nosso cérebro", argumenta. 

Gregório Bambi, jovem angolanoFoto: Antonio Ambrosio/DW

Moisés Miguel, de 26 anos, é outro residente de Caxito que se sentiu obrigado a desistir da escola por causa da discriminação a que foi alvo em diferentes instituições públicas.

"Tem sempre aquela tendência de falar: jovem é gatuno, é bandido", apela o jovem. 

Obedecer "medidas higiénicas”

Entre as instituições públicas mais citadas pelos supostos discriminados, as escolas aparecem na linha da frente. Arlindo Paulo é gestor escolar e reconhece que tem havido excesso por parte de alguns responsáveis dos estabelecimentos de ensino.

Sobre os jovens que decidem criar o cabelo, entretanto, Paulo diz que "o aconselhável é que o estudante - ao apresentar-se com um cabelo relativamente maior do que o dos demais - obedeça as medidas higiénicas".

Sobre o assunto, o jurista e coordenador da Comissão de Direitos Humanos, Samora Neves, lembra que impedir um aluno de participar das aulas só por este ter cabelo grande é crime.

Samora Neves, jurista e coordenador da Comissão de Direitos HumanosFoto: Antonio Ambrosio/DW

"Não há problema nenhum, principalmente, do ponto de vista legal, que alguém decida criar o cabelo, agora o que as escolas devem, de facto, empenhar-se, é quando estamos a falar de cabelo desorganizado, alguém que já não quer lavar o cabelo, chega um ponto que o cabelo vai trazendo mau cheiro…", afirma. 

"Não fica bem"

Já a inspetora provincial da Educação no Bengo, Maura da Purificação, justifica a medida adoptada pelas escolas com questões de estética. 

"Se ele não for de uma comunidade "rasta", se não tiver um documento fundamentado, não fica bem um homem ter cabelo, por uma questão de estética, e que ate certo ponto a criação de cabelo pode atrapalhar no conflito escolar", justifica Purifcação. 

Os jovens que alegam ser vítimas de discriminação dizem que não há quem os defenda.

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