Dezenas de jovens saíram às ruas da cidade de Ndalatando para protestar contra o MPLA e pedir melhores condições de vida. A manifestação decorreu de forma pacífica, sem a intervenção da polícia.
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"MPLA, 45 anos é muito", "a polícia é do povo, não é do MPLA". Estas foram algumas das palavras de ordem que se ouviram esta quinta-feira (04.02) durante um protesto antigovernamental na cidade de Ndalatando, a capital da província do Kwanza Norte.
"Fomos à rua para exigirmos eleições livres, justas e transparentes", disse à DW Pascoal Ngola, um dos organizadores da marcha.
O protesto decorreu de forma pacífica. A polícia acompanhou os manifestantes de perto mas não interveio, ao contrário do que aconteceu noutra manifestação antigovernamental em Ndalatando, no passado 11 de novembro.
Jovens querem mudanças
Jaime Gonga, um dos residentes de Ndalatando que participaram na manifestação, pede melhores condições de vida.
"Eu participei porque eu vejo a situação em que o país está. Não é preciso ser chamado, é meu dever manifestar-me para que mude alguma coisa. A situação económica do país, assim como a falta de água e luz, são motivos que me levam a estar nessa manifestação", afirmou.
Em Angola, metade dos jovens está no desemprego. O manifestante Gomes da Conceição conta que há uma grande falta de perspetivas no país - foi por isso que saiu à rua no dia em que se comemoram os 60 anos do início da luta armada de libertação nacional.
"Nós somos uma juventude quase sem futuro. Medo nós não temos", disse Gomes da Conceição.
Cazengo: Moradores denunciam péssimas condições de habitação
01:14
"Se os heróis do passado tivessem medo, hoje talvez seríamos escravos - até os que estão a governar, talvez [o Presidente] João Lourenço seria um escravo também. Então, é preciso sair às ruas e lutar para não deixar para os meus filhos um país igual àquele em que eu vivo."
Protesto lado a lado com evento da JMPLA
A marcha começou no largo adjacente ao antigo cemitério do bairro Kipata, em Ndalatando, local que também foi escolhido pelo comité municipal da Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de Cazengo para realizar uma atividade cultural, assinalando igualmente o feriado de 4 de fevereiro.
Durante o evento, António Panzo, militante da JMPLA, garantiu que o partido maioritário em Angola não esquece os jovens: "Estamos aqui para realizar esta atividade para puxar mais a juventude e mostrar que o MPLA está aqui para ajudar a juventude", anunciou.
A DW África tentou falar com a JMPLA de Cazengo, mas o primeiro secretário municipal da organização recusou uma entrevista.
Mural da Cidadania imortaliza defensores dos direitos humanos em Angola
O Mural da Cidadania presta homenagem a defensores dos direitos humanos em Angola, uns vivos, outros já falecidos. Espaço no Mulemba Waxa Ngola, periferia de Luanda, chegou a ser vandalizado, mas já está como novo.
Foto: Manuel Luamba/DW
Rostos dos direitos humanos
O Mural da Cidadania é uma parede na periferia de Luanda onde se encontram desenhados alguns rostos de cidadãos, uns vivos e outros já falecidos, em gesto de homenagem aos defensores dos direitos humanos em Angola. Localizado no Mulemba Waxa Ngola, o espaço foi recentemente vandalizado por desconhecidos. Ativistas deslocaram-se, entretanto, ao local para proceder à limpeza do espaço.
Foto: Manuel Luamba/DW
Padre Pio Wakussanga
O padre católico Pio Wakussanga, responsável pela ONG Construindo Comunidades, é um dos rostos do Mural da Cidadania. Wakussanga é uma das vozes mais sonantes na luta contra a fome na região dos Gambos, na província da Huíla, onde a população é fortemente assolada pela fome e pela estiagem. Também tem estado a denunciar fazendeiros que desalojam camponeses na região.
Foto: Manuel Luamba/DW
José Patrocínio
Nasceu em dezembro de 1962 em Benguela e morreu em 2019, aos 57 anos. Fundador da ONG Omunga, José Patrocínio foi um dos mais conhecidos ativistas cívicos na luta pela proteção, promoção e divulgação dos direitos humanos em Angola. No dia da sua morte, a sociedade descreveu-o como um "grande combatente dos direitos humanos".
Foto: Manuel Luamba/DW
Carbono Casimiro
Dionísio Gonçalves Casimiro, também conhecido por "Boneira", foi um rapper e ativista angolano e um dos pioneiros e principais rostos das manifestações de rua que começaram em 2011, inspiradas na "Primavera Árabe", e que visavam lutar contra as más políticas públicas do Presidente José Eduardo dos Santos. Foi preso várias vezes pela polícia angolana. Morreu em 2019, vítima de doença.
Foto: Manuel Luamba/DW
Sizaltina Cutaia
É um dos principais rostos da luta pelos direitos das mulheres em Angola. A ativista é uma das mentoras da Ondjango Feminista e uma dos responsáveis da ONG Open Society. É conhecida pelas críticas contra a anterior e a atual governação. Comentadora do programa da Televisão Pública de Angola (TPA), Sizaltina Cutaia tem criticado os titulares de cargos públicos que desviaram fundos públicos.
Foto: Manuel Luamba/DW
Rafael Marques
O jornalista e ativista cívico angolano tornou-se conhecido pelas denúncias de corrupção no seu site Maka Angola, durante a governação do Presidente José Eduardo dos Santos. Foi muitas vezes levado às barras do tribunal. A entrada de Rafael Marques na lista de homenageados do Mural da Cidadania gerou controvérsia por, neste momento, estar supostamente mais próximo do atual governo.
Foto: Manuel Luamba/DW
Inocêncio de Matos
O estudante universitário Inocêncio de Matos foi morto pela polícia a 11 de novembro de 2020, em Luanda, quando participava, pela primeira vez, num protesto de rua. A sua morte gerou revolta popular e uma onda de indignação na sociedade. É descrito como um "herói do nosso tempo" pelos ativistas, que querem que a antiga Avenida Brasil, onde foi morto, seja baptizada com o seu nome.
Foto: Manuel Luamba/DW
Isaac Pedro "Zbi"
Isaac Pedro "Zbi" é um dos artistas que imortalizou no Mural da Cidadania os feitos de alguns defensores dos direitos humanos. Diz que o monumento da Mulemba Waxa Ngola tem três objetivos: "Valorizar o espaço", um dos poucos que há na periferia, "homenagear as pessoas" que se encontram aqui desenhadas e "tentar fazer perceber as pessoas o que é a arte urbana."
Foto: Manuel Luamba/DW
Hervey Madiba
Hervey Madiba é outro dos mentores da Mural da Cidadania, que foi recentemente vandalizado. O que se fez no espaço "é um exercício de cidadania", diz o co-fundador da Universidade de Hip Hop, que não entende os motivos e promete responsabilizar os autores. No domingo (10.01), começou a ser feita uma recolha de assinaturas para uma petição que será entregue ao Presidente João Lourenço.