Jovens em Nampula combatem especulação nos preços dos chapas
Sitoi Lutxeque (Nampula)
1 de janeiro de 2025
A tarifa dos transportes semicoletivos em Nampula disparou para 20 meticais, mas um grupo de jovens está a mobilizar-se para travar a especulação de preços. As autoridades pedem que se denuncie cobranças abusivas.
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Em Nampula, um grupo de jovens está a combater a especulação de preços dos transportes semicoletivos urbanos, vulgo chapa-100, que duplicaram de valor atingindo os 20 meticais, cerca de 30 cêntimos de euro. Os transportadores escudam-se na escassez de combustível e na tensão pós-eleitoral para justificarem a mexida nos preços.
Arnaldo Pascoal é um dos cidadãos afetados pela subida de preços nos transportes semicolectivos em Nampula. À DW, mostrou-se admirado com a variação do custo de cada viagem nos últimos dias.
"De manhã, quando apanhei o chapa com destino ao hospital central, diziam que estava nos 20 meticais, mas ao descer alguns homens disseram que estava a 10 meticais, então fiquei sem saber qual era o preço real. Está muito difícil circular na cidade, porque os custos são muito elevados”, lamentou.
Ofélia Alexandre, outra cidadã de Nampula, confirma que também lhe foi cobrado um valor diferente do habitual durante uma viagem num desses semicolectivos que percorrem as ruas da cidade.
"Passei de manhã, mas os preços de chapa estavam a 20 meticais, mas surgiram alguns que estava a proibir [os chapeiros] de subirem o preço, para que permanecesse nos 10 meticais”, contou.
Apesar destas queixas, nos últimos dois dias o cenário de mexida de preços parece ter abrandado graças a alguns jovens que tomaram a iniciativa de desencorajar os chapeiros a mexerem nas tarifas das viagens, forçando-os a devolver aos passageiros os valores cobrados de forma ilegal.
"O chapa está nos 10 meticais e nós estamos a proibir a especulação. O presidente Venâncio já disse que o preço do chapa tem de voltar a ser praticado a 10 meticais, porque o combustível não subiu de preço, então porque é que estão a aumentar o preço?”, questionou um dos jovens.
Os chapeiros dizem que a escassez de combustível, nos últimos tempos, precipitou uma maior procura, o que esteve na origem da subida de preços. Contudo, dizem que a situação está controlada.
"Ficámos três dias sem combustível, mas já estamos a cobrar o preço de 10 meticais. Gostaria de apelar aos outros para reduzirem o preço, porque o valor do combustível já está normal”, exortou.
A DW contactou a edilidade de Nampula para comentar o assunto, mas até ao fecho desta reportagem a mesma não se mostrou disponível.
Entretanto, num comunicado que circula nas plataformas digitais da edilidade, o Conselho Municipal da Cidade de Nampula informa que "os preços dos chapas continuam inalterados e fixados em 10 meticais por viagem”.
A edilidades afirma ainda que qualquer cobrança acima deste valor deve ser imediatamente denunciada, através dos números de denúncias ou grupos de Whatsapp disponibilizados pelas autoridades municipais.
Transportes coletivos: Um perigo em Chimoio
Desde o "chapa" ao "my love", passando pelo autocarro: andar de transportes em Chimoio, província de Manica, centro de Moçambique, significa correr riscos. Viaturas em péssimo estado e falta de fiscalização são rotina.
Foto: DW/B. Jequete
Latas em trânsito
É uma visão comum nas ruas da cidade de Chimoio: os dedos das mãos não chegam para contar as viaturas de transporte de passageiros que deveriam estar fora de circulação há muitas inspeções atrás. Mas os residentes não têm grande escolha e vêem-se forçados a andar em mini-autocarros como o da imagem - conhecidos por "chapas" - com portas que não fecham bem, pneus em mau estado e luzes avariadas.
Foto: DW/B. Jequete
Sentar é arriscado
No interior dos veículos, o cenário é idêntico. Os assentos em grande parte dos chapas já viram melhores dias. Além do desconforto, a situação chega a colocar os passageiros em risco: há mini-autocarros em que vão sentados em ferros, mesmo em viagens mais longas. E subir e descer dos transportes é muitas vezes sinónimo de chegar ao destino com a roupa rasgada devido às más condições dos bancos.
Foto: DW/B. Jequete
Famoso...e empoeirado
Além do risco de acidentes, há também ameaças à saúde dos passageiros. Em muitos chapas, as janelas deixaram de ser de vidro há vários quilómetros. A fita-cola usada para "remediar" não é suficiente para travar a poeira e a poluição. E as viagens são feitas a respirar este ar impuro.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos também nos transportes públicos
Os autocarros geridos pela autarquia também precisam de manutenção. O material escolhido para substituir este vidro foi a fita-cola, que serve também para remendar tejadilhos. Andar de autocarro público em época de chuva pode significar chegar molhado ao destino. E os passageiros questionam o trabalho de inspeção das autoridades, numa altura em que aumenta o licenciamento de viaturas obsoletas.
Foto: DW/B. Jequete
Uma frota degradada
Na paragem de transportes urbanos que fazem a rota Cidade-Bairro 5 e vice-versa, nenhum carro está em condições para o efeito. E todos passaram e passam de seis em seis meses a inspeção de viaturas e circulam sob o olhar dos agentes reguladores de trânsito. Alguns passageiros preferem andar a pé em vez de correrem riscos a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Verificar condições antes de arrancar
Os passageiros que continuam a arriscar viajar nos chapas degradados verificam as condições dos veículos antes de subirem a bordo. Se não oferecerem condições mínimas - especialmente no caso dos assentos - desistem e esperam pela próxima viatura.
Foto: DW/B. Jequete
Viagens de risco nos "my love"
Por falta de transportes em algumas rotas na cidade e na província, as viaturas de caixa aberta também fazem transporte de passageiros - uma atividade ilegal. Os chamados "my love" foram concebidos para o transporte de mercadorias. Não há qualquer tipo de segurança para as pessoas a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Sem condições? Sem problema
Engane-se quem pensa que não há fiscalização. Nenhuma viatura que faz o serviço de transporte de passageiros escapa às rondas dos agentes reguladores de trânsito. Mas a polícia fecha os olhos às más condições dos veículos e deixa passar os chapas, gerando muitas críticas entre a população, que questiona os critérios das autoridades. Em vez de sanções, só há extorsão, dizem os residentes.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos para todos os gostos
São inúmeras as soluções encontradas pelos proprietários para manterem os chapas em funcionamento: se os fechos já não funcionam, usam-se cordas, arames ou correntes - mas há casos em que as portas caem nas vias, impedindo a circulação. Se o veículo já não tem ignição, faz-se uma ligação direta, contrata-se alguém para empurrar ou estaciona-se numa rampa - colocando os passageiros em risco.
Foto: DW/B. Jequete
Novos autocarros são gota no oceano
O Ministério dos Transportes acaba de alocar para a província de Manica dez autocarros para o transporte público. Destes, apenas três vão para Chimoio, uma cidade com 33 bairros e mais de 300 mil habitantes.
Foto: DW/B. Jequete
Ministro promete mais
O Ministro dos Transportes, Carlos Mesquita, viaja com o governador de Manica, à direita, e o presidente da autarquia de Chimoio, à esquerda, momentos depois de fazer a entrega dos autocarros às empresas privadas que gerem os transportes. Mas não há lugares para todos nesta viatura com capacidade para 88 passageiros. O ministro promete mais autocarros para a província de Manica.
Foto: DW/B. Jequete
À espera de novas viaturas e novas regras
Além de mais veículos, o Governo promete outras medidas para regular o setor. Até lá, os "my love", os chapas e os (poucos) autocarros - mesmo degradados - são a solução possível para os residentes de Chimoio e da província de Manica.