Marcha na província do Uíge para exigir alternância no poder
Lusa
6 de janeiro de 2021
Jovens ativistas e membros da sociedade civil marcham sábado (09.01), no Uíge, norte de Angola, para protestar contra as "dificuldades socioeconómicas" e exigir "alternância no poder no país", anunciou a organização.
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Segundo o ativista Jorge Kisseque, um dos organizadores da marcha, a manifestação "será pacífica" e visa "exigir a alternância no poder em Angola" por considerar que o "atual Governo constitui um obstáculo para a edificação de uma Angola inclusiva para todos".
"Impedindo desta forma a realização da vontade do povo soberano como é o caso da não-fixação da data das autarquias locais, a não mobilização de condições múltiplas para a criação de um sistema de saúde, educação, saneamento básico, acesso à água, ao emprego, aos transportes públicos e de qualidade", afirmou hoje Jorge Kisseque, em declarações à Lusa.
Angola: Polícia reprime protestos em Luanda
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A marcha agendada para o próximo sábado deve decorrer sob o lema "45 anos é muito, MPLA fora", porque, para o ativista, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975) "é o responsável pelos problemas básicos que afetam milhares de angolanos há 45 anos".
"Como está claro, com o MPLA no poder esses problemas básicos não serão resolvidos", argumentou, convidando os cidadãos das restantes províncias angolanas a se solidarizarem com a iniciativa.
"Alternância é a única opção"
Kisseque, que diz ter sido "baleado com sete tiros nos pés", em agosto de 2020, um dia antes de uma manifestação por si organizada, considera também que a "alternância ao poder é a única opção para que os angolanos tenham oportunidades iguais".
"E contribuam na edificação de uma Angola socialmente justa", notou.
De acordo com o ativista, o governo e o comando provincial da polícia no Uíge "já foram informados sobre a realização da manifestação" e uma reunião entre os organizadores da marcha e a polícia local está prevista para manhã de sexta-feira.
"Esperamos que polícia nacional assegure a nossa manifestação pacífica e pedimos à comunidade internacional e à Amnistia Internacional para que acompanhem no sentido de não acontecer o que se registou em agosto de 2020 quando fui baleado", concluiu.
No final do ano passado, Angola foi palco de protestos contra um crescente descontentamento com a governação do Presidente, João Lourenço, incluindo um a 11 de novembro, dia em que o país assinalou 45 anos de independência. Manifestações que foram dispersas pela polícia e em que vários ativistas foram presos.
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.