Moçambique: Jovens marcham contra a falta de atenção estatal
Bernardo Jequete (Chimoio)
12 de agosto de 2017
Assinala-se este sábado (12.08) o Dia Internacional da Juventude. Em Chimoio, a data foi marcada por reivindicações. Falta de emprego e de políticas públicas para os mais jovens estavam entre as reclamações.
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Para marcar o Dia Internacional da Juventude, dezenas de jovens de diferentes agremiações e formações partidárias em Chimoio, capital da província de Manica, centro de Moçambique, marcharam este sábado (12.08) pelas ruas da cidade e cobraram do Governo políticas públicas que beneficiem esta camada da população.
Em Manica, a juventude queixa-se de múltiplas inquietações que partem desde a falta de emprego, habitação, e projetos de empreendedorismo em alternativa às escassas oportunidades do trabalho.
Entre as propostas defendidas pelos jovens está a alteração das políticas do Governo, visando criar mais postos de trabalho, para além de massificar as escolas profissionalizantes em todo o país.
Desemprego e pobreza
O jovem Ernesto Noé Elias, de 25 anos, que pertencente ao Parlamento Juvenil, disse que a juventude em Manica vive numa situação de extrema pobreza dada a falta de emprego.
"Gostaria que o Governo abrisse mais campos de trabalho para os jovens, pois o Estado deveria ser aberto e franco nas suas deliberações, visto que há também no seio da camada juvenil a falta de informação. E sendo hoje o dia da juventude, Governo deve tentar responder as preocupações que nos apoquentam", defendeu Elias.
Empregos públicos: jovens da oposição não têm vez
Há muitas outras preocupações entre os que estão em idade economicamente ativa. Segundo Jaime Nhanteme, que faz parte da liga da juventude do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em Manica, entre estas preocupações está a falta de inclusão dos jovens nos empregos públicos.
"O governo acaba só beneficiando apenas certos jovens, excluindo os de outras formações partidárias. Jovens que pertencem a uma formação política da oposição não têm facilidade de emprego e há muita barreira e intimidação também. Nós lamentamos este atitude", denuncia, ressaltando que "o Governo deve criar mais projetos nas províncias, de forma a empregar jovens residentes nas próprias regiões".
Nhanteme deixou uma exortação ao governo moçambicano no sentido de trabalhar pela inclusão. "Os jovens em Moçambique querem emprego, habitação própria, educação condigno, bolsas de estudos, formação profissional e outras coisas", disse.
Empreendedorismo como solução
Soares Juga Ferro, do Conselho da Juventude em Manica, aposta no empreendedorismo como chave para resolver a problemática da falta de emprego no país.
"Não podemos pensar apenas que o Estado é o exclusivo empregador, pois temos que ser a solução das preocupações que o próprio Estado também enfrenta para empregabilidade. Não é possível empregar a todos porque há muita mão-de-obra qualificada, mas com pouco emprego e para tal nós temos que ser autossuficientes ao podermos engajar no empreendedorismo", explicou.
Ferro também reconheceu que a juventude em Manica está preocupada com a falta de terra para habitação e financiamento para gerir seus projetos.
O representante do diretor provincial da Juventude e Desportos de Manica, Tito Tembo, abordado pela DW África, disse que a questão do emprego é um drama que abala não apenas Moçambique.
"Os jovens devem ser empreendedores. Penso que assim os jovens podem sair do abismo da falta de emprego. Os jovens devem aderir também em cursos profissionalizantes, para ser dotados de ferramentas básicas de saber fazer, visando o auto sustento enquanto aguarda da oportunidade de emprego no Estado", explicou o representante, sem avançar qualquer iniciativa por parte do Governo para a profissionalização juvenil.
Homenagem fotográfica aos albinos moçambicanos
Da autoria do fotógrafo brasileiro Davy Alexandrisky, a mostra "Preto Branco" é composta por 45 fotos e abriu ao público no início de agosto no Centro Cultural Brasil-Moçambique, em Maputo. Uma celebração das diferenças.
Foto: D. Alexandrisky
Celebração das diferenças
As fotos foram recolhidas em Moçambique pelo fotógrafo e artista visual brasileiro Davy Alexandrisky. A exposição procura mostrar o quotidiano dos albinos no trabalho, nos momentos de lazer e na vida privada, e sensibilizar para a luta pelos seus direitos. "A exposição é a celebração da vida plena a partir das diferenças", afirma Alexandrisky.
Foto: L. C. Matias
"Somos todos iguais"
Segundo Milton Munjovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida, parceira do projeto, a principal mensagem que se pretende transmitir é de igualdade entre todos, respeito pelos direitos e dignidade de cada um. Munjovo defende a implementação de medidas de proteção dos albinas, como o acesso à educação, saúde e emprego, para melhorar a condição destas pessoas.
Foto: L. C. Matias
Afetos sem fronteiras
O amor, o carinho e o afeto ao próximo são marcas dominantes nestas fotos. "Homens e mulheres, negros e negras, não deixam de o ser por falta de melanina no organismo", escreve o autor da exposição.
Foto: L. C. Matias
Sensibilizar para os direitos dos albinos
Visitantes posam ao lado das fotografias no Centro Cultural Brasil-Moçambique, num gesto de empatia e cumplicidade com a causa. Em alguns países africanos, há registo de raptos e assassinatos de pessoas albinas, praticados por indivíduos que acreditam que poções ou amuletos produzidos a partir de partes do seu corpo têm poderes mágicos.
Foto: L. C. Matias
Pele diferente, hábitos iguais
Em Maputo, o local da exposição, uma jovem albina recorre a um serviço ambulante de estética para envernizar as unhas. O objectivo da mostra é precisamente demonstrar que os albinos são iguais aos outros seres humanos, apesar de necessitarem de uma atenção especial para proteger a vista e a pele da radiação solar.
Foto: Davy Alexandrisky
Poses espontâneas
As 45 fotografias que compõem a exposição "Preto Branco" foram captadas espontaneamente. Cada um posou ao seu gosto, de acordo com o autor Davy Alexandrisky. Na imagem, um par de jovens - ela albina, ele não - distribui música e sorrisos.
Foto: D. Alexandrisky
Menos casos de raptos
Não tem havido raptos e assassinatos de albinos nos últimos tempos, contrariamente ao terror que se vivia nesta altura em 2016, afirma Milton Munjovo, vice-presidente da Associação Amor à Vida. Munjovo estima que se tenham registado 20 casos de raptos nos primeiros sete meses deste ano, contra cerca de 50 em igual período no ano passado.
Foto: D. Alexandrisky
Luta pelos direitos dos albinos
Moçambique tem cerca de 20 mil pessoas albinas, segundo dados oficiais. Estima-se que, deste número, 70% sejam crianças, adolescentes e jovens. A maior parte dos albinos vêm de famílias carenciadas e são vulneráveis. O país celebrou pela primeira vez o Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo em 2016 e aprovou um plano para combater a violência contra a pessoa albina.
Foto: Davy Alexandrisky
"Delicadeza impressionante"
Mussagy Jeichande, um dos visitantes, diz que a exposição consegue sensibilizar para o drama que os albinos sofrem em pleno século XXI. Considera que o fotógrafo conseguiu trazer a grande realidade de que o albino é um ser humano como qualquer outro. "A exposição revela, com profundidade, a sensibilidade do albino, do ponto de vista estético, de harmonia e da sensibilidade humana", afirma.