Celebra-se este domingo (12.08) o Dia Mundial da Juventude. Na província moçambicana de Inhambane, muitos jovens lamentam a falta de oportunidades antes e depois de concluírem os estudos.
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Devido à falta de oportunidades, os jovens de Inhambane buscam diferentes meios para a subsistência. Há mais de dois anos que o Governo não tem disponibilizado fundos para iniciativas voltadas a esta grande parcela da sociedade, mas garante estar a par dos problemas.
A DW África conversou com alguns jovens e constatou que as dificuldades são muita e podem divergir, de acordo com o sexo. No caso das jovens, para conseguir algum rendimento, acabam por abandonar os estudos para se dedicar à prostituição. É o caso da jovem V.M., natural da província de Maputo, que vive agora em Inhambane com a irmã mais velha. Ambas desistiram de frequentar a escola para se prostituírem.
V.M. lamenta o facto de que muitos jovens estejam nesta situação. "Tem aqueles que conseguiram se salvar, mas a maioria está perdida na prostituição, droga e bebida. O dinheiro é que nos induz, por isso estamos a fazer isso. Minha irmã também é prostituta. O arrependimento vem no dia que não bebemos e fumamos, porque pensamos nas consequências e no futuro", relata a jovem.
Apesar disto, V.M. apresenta uma solução para ultrapassar estes problemas. Para ela, "devia existir alguém com iniciativa para incentivar jovens a criarem clubes sociais com vários projetos positivos".
"Oportunidades não vêm, mesmo depois de formado"
Álvaro Joaquim formou-se no ensino técnico, mas, ainda assim, não consegue oportunidades melhores para garantir boa assistência à sua família. Atualmente, ele vive na base da pesca em pequena escala, porque não tem emprego.
"Estudei para nada. Hoje em dia vivo no mar a pescar para conseguir dinheiro, não consigo ter oportunidade de nada", lamenta Álvaro Joaquim que, entretanto, diz que "o Governo devia pensar melhor o destino da juventude".
O Governo de Moçambique distribuía fundos reembolsáveis para financiamentos de projetos da juventude principalmente nas áreas de agricultura, pecuária, criação de frango, serralharia, carpintaria, entre outros. Mas há cerca de dois anos o dinheiro não chega aos distritos.
Samuel Jeremias é licenciado em Geografia, mas, por causa do desemprego, tem pronto um projeto para a prática de agricultura sustentável. Devido à falta de financiamento, nada avançou até o momento.
"Estou a vender recargas de telemóveis para poder comprar açúcar, arroz, óleo, sabão e outras coisas para minha esposa e filhos. O Governo devia continuar a ajudar a idealizar e não apenas dizer que os jovens devem trabalhar sem nenhum incentivo. Tenho campo agrícola e projeto desenhado, mas não consigo materializar porque há dois anos estou a espera os fundos da juventude", afirma Jeremias.
Falta habitação
Além da falta de oportunidades de emprego e financiamento, a juventude na província de Inhambane debate-se com a falta de habitação. Apenas os que possuem um emprego formal têm acesso ao financiamento dos bancos para a construção de residências. Os desempregados, que são a maioria, continuam a viver nas casas dos seus pais juntos com esposas e filhos.
Para resolver o problema da falta de habitação, o Governo provincial distribuiu cerca de cinco mil Direitos do Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT) a igual número de jovens desde o ano passado, mas muitos deles esbarram na burocracia e não conseguem todos os documentos exigidos pelas autoridades.
Celso Colege, porta-voz da Direção Provincial da Juventude e Desporto em Inhambane, disse à imprensa que o Governo está ciente dos problemas dos jovens. Segundo o porta-voz, o Governo já conseguiu "distribuir cinco mil DUAT aos jovens, mas alguns não têm conseguido legalizar os seus talhões e acabam entregando a um terceiro em troca de dinheiro".
Moçambique: As peixeiras de Inhambane
Em Inhambane, Moçambique, mulheres de várias idades vendem peixe para sustentar a família. Mas "as peixeiras" têm diversos desafios como a falta transporte e saneamento, que põem em risco a saúde pública.
Foto: DW/L. da Conceição
Todos os dias, na praia
As "peixeiras" da província de Inhambane estão na praia todos os dias para adquirir o peixe que vão revender nos mercados, dentro das vilas, nas cidades ou até mesmo para fora da região. O mais curioso é que muitas delas não possuem contas bancárias porque o dinheiro está em circulação devido às necessidades, e não chega para poupança.
Foto: DW/L. da Conceição
Quem dita os preços?
Os preços de cada qualidade de peixe têm provocado queixas. “Os pescadores decidem quanto pode custar [o peixe], dependendo dos dias e da quantidade. Quando é pouco, como nestes dias, o preço é alto”, dizem. Algumas vezes, os pescadores negam vender em pouca quantidade - principalmente o "carapau" moçambicano.
Foto: DW/L. da Conceição
“Estou feliz por ser peixeira”
Graça Malaquias reside no bairro Chicuque, nas redondezas da cidade de Maxixe. Ela diz que está satisfeita com seu trabalho, que pratica há mais de 8 anos. Compra peixe na praia da Chefine e revende no mercado local. A sardinha, o tsakanhane e o carapau são os mais comercializados pelas peixeiras da província de Inhambane.
Foto: DW/L. da Conceição
Longa caminhada pela praia
Conseguir uma bacia de peixe não é fácil para muitas vendedeiras de peixe em Inhambane. Elas têm que se deslocar em média 2 quilómetros pela praia devido ao distanciamento dos pontos onde se encontram os barcos. Mas afirmam “vale a pena caminhar para ganhar o dinheiro e sustentar a família”.
Foto: DW/L. da Conceição
Companhia das peixeiras
Muitas mulheres em Inhambane esperam longas horas pelos pescadores que voltam do mar com os peixes. Ao longo da praia, as vendedeiras são acompanhadas pelas senhoras que praticam pequenos negócios - também em busca do sustento familiar. Há pobreza nas comunidades, e a região não possui boas terras para a agricultura.
Foto: DW/L. da Conceição
Negócio para todas idades
O negócio praticado pelas peixeiras em Inhambane não tem idade entre as mulheres. Adolescentes submetidas ao trabalho acompanham as mães, e muitas desistem dos estudos. Grávidas precoces acabam virando “peixeiras com menor idade”, como são conhecidas nos diversos pontos.
Foto: DW/L. da Conceição
Trabalho infantil
A prática deste negócio, que garante o sustento de muitas famílias em Inhambane, também é caraterizado com trabalho infantil. Principalmente de meninos que ajudam a carregar bacias de peixes da praia até a paragem dos carros que os transportam para vários destinos. Muitos desses rapazes, menores de idade, já abandonaram a escola.
Foto: DW/L. da Conceição
Transporte precário
O peixe comprado ao longo da costa é transportado muitas vezes em carrinhas de caixa aberta, numa distância média de 7 quilómetros e em condições precárias para a saúde pública. As vendedeiras também correm riscos por falta da segurança rodoviária, mas não existem outras alternativas. Enquanto esperam melhores transportes, o cenário tem sido muito triste.
Foto: DW/L. da Conceição
Imundice no local da venda
Muitos mercados construídos pelo Estado não têm sido ocupados pelas peixeiras por falta de segurança, energia ou outras condições para o negócio, como nas localidades de Vilankulo, Massinga, Maxixe e Inhambane. São áreas caraterizadas pelo défice de saneamento do meio, que contribui para eclosão de doenças nas comunidades.
Foto: DW/L. da Conceição
Desistir?
As vendeiras de peixes interrogam-se a cada hora “por que não desistir desta atividade”? A resposta sempre está na ponta de língua: “Se desistir, o que vou fazer para o auto-sustento?". Mas elas acreditam que terão novas oportunidades dentro das comunidades, e pedem integração em projetos dos fundos pesqueiros financiados pelo Governo e ONG’s, dos quais a maioria é excluída.