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Jovens moçambicanos retomam poesia de combate da independência

23 de outubro de 2012

Ideia é contestar desigualdades sociais (foto), políticos e doadores estrangeiros, responsáveis por mais da metade do orçamento moçambicano. Durante luta pela independência, poesia combatia colonialismo português.

Mural sobre Samora Machel em Lichinga
Mural sobre Samora Machel em LichingaFoto: DW/J.Beck

No último fim de semana (20.10), o Instituto Cultural Moçambique Alemanha (ICMA) realizou uma "Noite de Poesia" em Maputo. Muitos jovens apresentaram poesias de combate, retomando uma fórmula encontrada pelos guerrilheiros da FRELIMO (partido que hoje governa Moçambique) contra o colonialismo português, antes da independência do país, em 1975.

Agora, a poesia de combate serve para transformar em palavras o combate à pobreza e promover o desenvolvimento político e sociocultural do país.

No Instituto Cultural Moçambique Alemanha, o poeta Tchaka declamou na língua local e criticou a ganância dos políticos, "aqueles que se agarram ao poder por causa do dinheiro, e que nada fazem para o povo".

Também a criminalidade e as desigualdades sociais entre o campo e a cidade fazem parte das críticas de Tchaka. O seu sonho é "ver mais chuva no lugar das lágrimas", declara.

Poço de cultura

Além das críticas, o poema estimula o reconhecimento e a importância da preservação dos valores ancestrais. "Busca-se um bocado da mescla, da mistura, daquilo que era a poesia tradicional no tempo passado e daquilo que é a poesia atual. Bebemos um pouco daquilo que é o poço da vida cultural, mas também com as inovações, com a mudança. Então é essa contemporaneidade dentro do texto", explica Tchaka.

Os novos poetas têm uma visão crítica aos doadores, países desenvolvidos responsáveis por mais de metade do orçamento de Estado de Moçambique, como se pode depreender na poesia de Nhezi Nhenhele em "A Voz de Um Africano":

Não me venha com histórias de que me queres ajudar
Porque se na verdade queres não me encha os bolsos de tantos donativos,
Ensine-me, sim, a conquistá-los, para abrir escolas, matar a fome e acabar com essa doença de macacos que em mim semeastes
Que não fosses promotor de hostilidades no meu continente
Que não nos enchesses de escolas falsas e evitasse o nível de aproveitamento
Porque tornas-nos autênticos intelectuais analfabetos
E sempre que de casos sérios tratar-se
Pagar-se o teu serviço


Retorno às origens

Pela poesia, os jovens que apresentaram suas obras no ICMA pareciam impelidos a não só contestar a realidade em que vivem, mas também a retornar às suas origens, respeitando e aceitando a sua cultura.

Pelo fato de o falecido presidente Samora Machel ter defendido que a juventude é "a seiva da nação", o poeta King tenta perceber o silêncio que paira sobre a morte de Machel [num acidente de avião em 1986 – mas há vozes que especulam que a morte não tenha sido acidental].

Khufa (...)
Lágrimas de exéquias se espraiam no rosto
Doeu ser eu, tão pouco sinto o gosto
Reagrupam-se apenas almas incandescidas
Já que os corpos eram pretos, tão pretos
Daí, outrora, esfolados
Restos mortais hoje
E, para sempre, trancafiados em uma estrela em planos térreos supervigiados


O evento organizado pelo ICMA, Instituto Cultural Moçambique Alemanha, atraiu muitos jovens que sonham em ser grandes poetas como Noémia de Sousa, José Craveirinha, Rui Nogar, Rui de Noronha e outros.

Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Renate Krieger/Marcio Pessôa

Volta às raízes: poeta lembra Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique após a independênciaFoto: AP
A barragem de Cahora Bassa, na província de Tete, um dos megaprojetos moçambicanos, que recebem críticas de jovens poetasFoto: DW/M. Barroso

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