Na Guiné-Bissau, os jovens apostam na formação para aumentar as possibilidades de encontrar emprego. Mas entrar no mercado de trabalho é muito difícil.
Publicidade
Apesar dos esforços dos jovens que frequentam os centros de formação mesmo em tempos da Covid-19, o mercado de trabalho da Guiné-Bissau não tem praticamente capacidade para absorver todo o capital humano. E até os centros de formação começam a chegar aos seus limites. Mais de 500 pessoas concorreram para 63 lugares de licenciatura em língua portuguesa na Escola de Formação dos Professores "Tchico Té", em Bissau.
"Depois de terminar este curso, quero lecionar pelo menos três, quatro ou cinco anos, e depois ver como fazer outra formação superior", disse à DW África Fransual Cá. Abrão Nanque diz querer apenas o que todo o mundo quer: um emprego que dê para viver. "Espero concluir aqui, entrar no mercado do trabalho, para conseguir ter acesso à vida normal", revela Nanque. Um outro candidato ao estudos, Iancuba Baldé, afirma: "A expetativa é que, quando eu terminar aqui, entro no mercado de trabalho". Mas também Baldé planeia continuar a formar-se após a licenciatura.
Muitos jovens sem acesso ao mercado de trabalho
Há cerca de dez anos, o Estado introduziu uma lei para incentivar a integração de professores, médicos e enfermeiros nas suas fileiras. É por isso que estas áreas se tornaram um "refúgio" para milhares de jovens, até para aqueles que se formam noutras disciplinas. Quem tira um curso na área da saúde ou educação, tem praticamente emprego garantido.
Mas para muitos outros jovens, as portas do mercado de trabalho continuam fechadas. Não há números oficiais atualizados sobre a taxa de desemprego na juventude guineense, mas estima-se que a cifra seja elevada.
Publicidade
Empresários corruptos
Num mercado de trabalho difícil, como o da Guiné-Bissau, mesmo conseguir um estágio pode ser bastante complicado. Érica Mendes, da organização não governamental ESSOR, que promove a formação e inserção profissional dos jovens, explica que, muitas vezes, as empresas pedem contrapartidas.
"O que acontece muitas das vezes é as empresas perguntarem: estou a inserir este jovem e o que é que vou ganhar como retorno por parte do projeto [da ESSOR] e do próprio Governo? As empresas querem saber o que podem ganhar,” com a contração de jovens.
Por outro lado, segundo Érica Mendes, firmar parcerias com o Estado para integrar os jovens também tem sido complicado, devido à instabilidade política. "Nós já tentámos parcerias com as entidades que trabalham nessa área, como é o caso do Ministério da Função Pública. Mas as quedas e mudanças do Governo não ajudam muito," disse a ativista à DW África.
Inércia do Estado
Em janeiro, o Governo guineense criou a Agência Nacional do Emprego Jovem para acompanhar os recém-formados no ingresso no mercado de trabalho. Entretanto, a agência obteve uma nova designação e chama-se agora Agência de Empreendedorismo Juvenil. A DW África tentou contactar a instituição, sem sucesso.
A inércia das autoridades perante o problema do desemprego jovem preocupa a presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Aissato Forbs Djaló, deixa um aviso: "O Estado tem que levar em consideração que a juventude é o maior grupo populacional do país e uma das suas necessidades é o emprego. Quando o jovem não tem emprego é mais fácil entrar em delinquência, em questão de tabaco, droga e não poder ser útil para o país, mas sim um fardo para a economia."
Guiné-Bissau: um pequeno país de futebolistas gigantes
Os números falam por si. Em 2017, Bruma ruma para o Leipzig por 12,5 milhões de euros. E o talento guineense não se esgota aqui.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/O. Coban
Bruma
Bruma começou cedo. Deixou Bissau aos 12 anos para ir atrás do seu sonho em Portugal. Integrou a academia do Benfica e depois a do Sporting. Em 2013, o extremo alcançou a equipa principal dos verdes e brancos. Passou depois pelo Galatasaray e pelo Real Sociedad até chegar à Bundesliga, onde veste atualmente a camisola do RB Leipzig, que pagou cerca de 12,5 milhões pela sua transferência.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/O. Coban
Úmaro Embaló
Parecia ser a mais cara transferência de sempre de um jovem de Portugal para o estrangeiro. O nome de Úmaro Embaló, guineense de 16 anos, fez correr muita tinta nos jornais desportivos desde o início do ano de 2018, pois iria trocar a camisola do Sport Lisboa e Benfica pela do RB Leipzig, na Alemanha, por 20 milhões de euros. O negócio caiu no último dia do mercado de transferências europeu.
Foto: Imago/Newspix/K. Cichomski
Éder
Nascido em Bissau, em 1987, Ederzito, mais conhecido como Éder, passou de “patinho feio” a “ídolo” das Quinas depois de, no Euro 2016, ter marcado o golo decisivo que valeu a taça a Portugal. O avançado, que está atualmente emprestado pelo Lille (França) ao Lokomotiv Moscovo, começou a sua carreira nas camadas jovens da Associação Académica de Coimbra. Estreou-se pela Seleção Portuguesa em 2012.
Foto: Getty Images/AFP/F. Fife
Danilo Pereira
Foi também em Portugal que Danilo Pereira encontrou futuro. Da formação do Benfica, o jovem nascido em 1991 rumou para Itália para vestir a camisola do Parma, em 2010. Após algumas épocas emprestado, o médio assinou contrato com o Club Sport Marítimo. Em 2014, Danilo é considerado uma das revelações da I Liga e o FC Porto não o deixou escapar. A sua cláusula de rescisão é de 40 milhões de euros.
Foto: Getty Images/D. Mullan
Carlos Mané
É também na Alemanha, no Estugarda, que joga atualmente o luso-guineense Carlos Mané. Nascido em 1994, também este guineense cresceu nas escolas do Sporting, tendo integrado a academia dos verdes e brancos com apenas sete anos. O caminho até à equipa principal foi demorado mas, finalmente em 2014, o extremo estreou-se em Alvalade.
Foto: picture-alliance/Sport Moments/Schweizer
José Gomes
É considerado uma das promessas do futebol português. Nascido em Bissau em 1999, o avançado rumou para Portugal tendo sido recebido na equipa da Luz. Em 2016 fez o seu primeiro jogo pela equipa principal dos encarnados, tornando-se o terceiro jogador mais jovem a jogar pelas águias, com apenas 17 anos. Em 2015, José Gomes foi o melhor marcador e considerado o melhor jogador do Europeu Sub-17.
Foto: Imago/GlobalImagens
Pelé
Aos 25 anos, Pelé, de ascendência guineense, veste a camisola do Rio Ave. O médio defensivo iniciou-se no Belenenses, tendo depois passado pelo Olhanense, Arsenal Kiev (Ucrânia) e pelos sub-20 do AC Milan (Itália). Em 2015 chega ao Benfica. Uma lesão grave impediu-o de ir para o inglês Wolverhampton, um negócio de dois milhões de euros.
Foto: Imago/GlobalImagens
Yannick Djaló
Terminamos com Yannick Djaló. Natural de Bissau, Djaló, que é também um produto da academia do Sporting, estreou-se na primeira divisão em 2006. Seis anos depois assinou contrato pelo Benfica tendo sido, em 2014, emprestado ao San José Earthquakes. Seguiram-se o Mordovia Saransk e o Ratchauri Mitr Phol. Djaló regressou a Portugal e veste agora, com 32 anos, a camisola do Vitória FC.