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Jovens que "abandonam" Angola não fazem falta?

Simão Lelo
25 de abril de 2025

Declarações da ministra da Educação sobre a emigração jovem geram críticas e pedidos de demissão. O Governo está a perder a confiança da juventude?

Consulado Geral de Angola em Lisboa
"Os jovens angolanos que saem do país não o fazem por falta de patriotismo, mas porque se sentem mais seguros e valorizados fora."Foto: João Carlos/DW

As declarações da ministra da Educação de Angola, Luísa Grilo — que afirmou que "jovens que abandonam Angola devido à falta de condições sociais e económicas não fazem falta” — geraram uma onda de críticas, especialmente por parte de jovens na diáspora.

As palavras da governante foram consideradas ofensivas por várias organizações e vozes da sociedade civil, que acusam a ministra de insensibilidade perante a realidade enfrentada por muitos jovens angolanos. Vários líderes juvenis defendem que Grilo deve retratar-se publicamente ou, inclusive, demitir-se do cargo.

Entre os críticos mais contundentes está Jeovany Ventura, Coordenador Geral do Núcleo dos Ativistas de Cabinda (NAC), que sublinha que "a juventude angolana faz muita falta ao país” e que o discurso da ministra "deveria envergonhar o Governo angolano”.

Ventura questiona a legitimidade moral da ministra, lembrando que "ela mesma é filha de imigrante” e que "qualquer jovem que tenha oportunidade de emigrar, vai sim fazê-lo”. Para ele, a decisão de abandonar Angola não é tomada de ânimo leve, mas por necessidade, dada a precariedade de condições sociais e económicas no país.

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"Ela mesma que falou isto é filha de imigrante. Tem origem não cem por cento angolana. Jovens que estão no exterior, que emigraram, fazem falta, sim, ao país. Qualquer jovem que lhe oferecem uma oportunidade para emigrar vai, sim, fazê-lo", referiu.

Falta de oportunidades

A realidade de muitos jovens angolanos, segundo Ventura e outras associações juvenis, é marcada por portas fechadas, desemprego, salários indignos e um ambiente onde criticar ou propor melhorias é motivo de perseguição. "Nenhum país proíbe os seus cidadãos de emigrar. Em Angola, não há condições para os jovens viverem, a não ser que sejam do MPLA”, afirmou Ventura.

A crítica é reforçada por várias organizações juvenis, que afirmam que o verdadeiro problema não são os jovens que saem, mas sim a ausência de políticas públicas eficazes que lhes garantam um futuro digno no país.

Um sinal de alarme

Samuel Massiala, 1.º Secretário Provincial da Juventude da FNLA (JFNLA) em Cabinda, lamentou a posição da ministra e disse que "os jovens angolanos que saem do país não o fazem por falta de patriotismo, mas porque se sentem mais seguros e valorizados fora”.

Manifestação de jovens angolanos em PortugalFoto: privat

Massiala apela ao Governo para que veja esta tendência como uma oportunidade de reformar o país e melhorar as condições de vida: "Deveria ser uma ocasião para criar mais empregos, oportunidades de habitação e melhorias na saúde”.

Contradição com discurso presidencial

As declarações da ministra da Educação contrastam com a posição recente do Presidente da República, João Lourenço, que afirmou querer contar com o apoio dos angolanos na diáspora. Vários jovens lamentam que a diáspora seja apenas valorizada durante períodos eleitorais.

Na sequência da polémica, um grupo de cidadãos da sociedade civil — incluindo juristas, académicos, ativistas e representantes juvenis dentro e fora de Angola — exigiu a demissão imediata da ministra Luísa Grilo.

O analista social Paulo Neves considerou a declaração uma ofensa à nação:

"É uma ofensa à Nação e aos cidadãos angolanos. Num país normal, a ministra deveria pedir desculpas e demitir-se no dia seguinte", concluiu. 

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