Jovens temem doenças e gravidez com soldados estrangeiros na Guiné-Bissau
28 de agosto de 2012 A Missang, missão de cooperação militar angolana na Guiné-Bissau, saiu do país ocidental africano em junho deste ano, após o golpe militar de 12 de abril, que destituiu o então primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e o presidente interino, Raimundo Pereira. Um dos motivos citados pelos militares para realizarem o golpe foi a suposta ameaça de um golpe que seria realizado pelos cerca de 200 soldados angolanos da Missang, cuja presença no país gerou controvérsias.
Durante a estadia da Missang, teriam sido registrados vários casos de gravidez precoce e também incidência de doenças sexualmente transmissíveis, como infecção pelo vírus HIV, no seio da camada juvenil feminina. Segundo a DW África apurou em Bissau, a vila de Cumeré, no setor de Nhacra (região de Oio, norte do país) é a zona de maior incidência desses problemas.
O Fórum Nacional da Juventude e População (FNJP) da Guiné-Bissau teme que o fenômeno se repita com a atual presença dos cerca de 600 soldados vindos do Senegal, do Togo, do Burkina Faso e da Nigéria, que constituem a força da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e que foram enviados para assegurar o processo de transição.
Por isso, durante a primeira semana de setembro, o FNJP, cujo foco principal é a saúde sexual reprodutiva, vai realizar uma campanha de sensibilização sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) nas regiões onde estão estacionados os soldados estrangeiros.
"Meninas vulneráveis"
"Uma situação como essa poderia acontecer com outro grupo de estrangeiros [não necessariamente militares]", explicou à DW África Silvino Mendonça, secretário executivo do FNJP. "Os militares estão aqui num número alto e com certos meios financeiros, e o nosso país é um país pobre, onde a camada feminina é bem vulnerável e facilmente se entrega a um homem que pode dar algo em troca", constatou Mendonça. Isso poderia aumentar a propagação de DSTs e ampliar a incidência da gravidez precoce.
Uma jovem que não se identificou, entrevistada pela DW África numa região de presença dos soldados estrangeiros disse que "não podemos evitar um relacionamento entre os jovens, sabendo que, quando uma força estrangeira já reside na nossa terra, há aquela grande guerra entre as raparigas, entre 'quem vai namorar ou não'. E, para isso, é importante prevenir".
Outro jovem que não se identificou afirmou que "creio que, de qualquer forma, na Guiné-Bissau os jovens estão em risco de serem contaminados pelo HIV/Sida. Por isso, o Fórum achou por bem realizar uma sessão de formação para capacitar os seus pares e para dotar os jovens e adolescentes de ferramentas que vão lhes servir de método preventivo".
Autor: Califa Soares Cassamá (Bissau)/RK
Edição: António Rocha