Rejeitada libertação sob fiança do ex-ministro moçambicano
Milton Maluleque (Joanesburgo)
15 de fevereiro de 2019
Juíza sul-africana, Sagra Subroyen, do tribunal sul-africana rejeitou pedido de libertação sob caução do ex-ministro das Finanças moçambicano Manuel Chang
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O tribunal sul-africano de Kempton Park, rejeitou esta sexta-feira (15.02.) o pedido de libertação sob caução do ex-ministro das Finanças moçambicano Manuel Chang, acusado de fraude e corrupção nos Estados Unidos da América.
"Conceder a liberdade não seria no interesse da justiça e da sociedade. O arguido permanece detido sob custódia pendente da sua extradição", disse a juíza no decorrer da leitura da sentença, que durou duas horas.
A juíza Sagra Subroyen alegou a não cooperação do requerente para com a justiça e afirmou ainda, que apesar do tribunal ter em sua posse os dois passaportes de Manuel Chang, diplomático e normal, não significa que o requerente de caução não pode fugir da República da África do Sul, isto devido ao dinheiro e contactos que tem.
Abordagem pouco transparente de Chang em tribunal
Borges Nhamire, pesquisador do Centro de Integridade Pública, CIP, que acompanha este caso, diz que a sua organização está feliz com o curso dos factos, dado que a recusa da caução, por parte do tribunal, a Chang é fundamental.
“Foi importante ouvir os fundamentos que o tribunal trouxe, por exemplo, que o ex-ministro não revelou dados importantes sobre as suas contas bancárias, que não revelou dados importantes sobre o seu património, que não revelou dados importantes sobre as suas viagens que foi efetuando e, que os pagamentos e as despesas dessas viagens não constam das suas contas bancárias. Isto mostra que ele não teve uma abordagem muito transparente em tribunal, como não teve em Moçambique”, argumenta o pesquisador do CIP.
Juíza sul-africana rejeita libertação sob fiança de Manuel Chang
Mineiros moçambicanos satisfeitos
E os mineiros moçambicanos filiados à organização Kulumane, que em português significa falem, vindos de Rustemburg, província do noroeste da África do Sul, foram impedidos de entrar na sala de audiências. Medida de segurança foram as justificações para a recusa.
Nem mesmo isso tira a satisfação de Elpídio Muthemba, presidente da organização Kulumane, em relação à condução do caso: “Pelo menos até agora podemos dizer que tudo foi satisfatório. É verdade que a maioria não esperava isto, mas pelo menos foi um exemplo para toda a comunidade em particular para a SADC [Comunidade dos Países da África Austral], para poderem entender que a justiça não está simplesmente nas mãos dos políticos.”
Chang, continuará detido e irá comparecer em tribunal de Kempton Park no dia 26 de fevereiro próximo para o inicio da audição relativa à extradição para os EUA.
Pedido de extradição de Moçambique ainda em "banho-maria"
Questionado acerca do pedido de extradição feito por Moçambique, que deu entrada semanas atrás na África do Sul, o General Zacarias Cossa, conselheiro da Polícia junto do Alto Comissariado de Moçambique na África do Sul e representante das autoridades de Maputo neste processo destaca que “o pedido do Estado moçambicano já foi recebido e está no Ministério da Justiça deste país, que seguidamente deverá notificar o Ministério Público local para os passos seguintes. Mas pelas informações a nossa disposição, até aqui, isso ainda não ocorreu. Esperamos que em tempo oportuno se dêm os passos que esperamos que ocorram.”
Manuel Chang foi detido a 29 de dezembro de 2018 no Aeroporto Internacional O. R. Tambo, em Joanesburgo, com base num mandado de captura internacional emitido pelos Estados Unidos a 27 dezembro.
Manuel Chang foi ministro das Finanças de Moçambique durante a governação de Armando Guebuza, entre 2005 e 2010, e é deputado da FRELIMO, o partido no poder.
Foi no mandato ministerial de Manuel Chang que o Executivo moçambicano da altura avalizou dívidas secretamente contraídas a favor de três empresas públicas ligadas à segurança marítima e pescas, entre 2013 e 2014, a Ematum, MAM e ProIndicus.
Impacto da crise na vida dos moçambicanos
Trabalhadores em Maputo relatam as dificuldades que enfrentam todos os dias, com o país mergulhado numa crise financeira. Alguns ainda conseguem pequenos lucros, enquanto outros tentam estratégias para atrair clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Novos tempos, menos lucros
Ana Mabonze tem uma loja de gelados há pouco mais de sete anos e diz que os rendimentos não têm sido bons ultimamente. Por dia, lucra apenas o equivalente a cerca de dois euros. O negócio é feito na ponte cais, também conhecida por Travessia. Nestes dias, os lucros baixaram porque os automobilistas que iam de ferryboat para Katembe agora usam a nova ponte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"Boa cena"
O negócio de transferência de dinheiro por telefone conhecido por Mpesa está a alimentar muitas famílias. É o caso de Angélica Langane, que na sua banca "Boa Cena" diz ter clientes frequentemente, porque muitos estão preocupados em transferir dinheiro, seja para pagar dívidas, fazer compras ou apenas para ter a sua conta em dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
O dinheiro não aparece
Numa das ruas de Maputo também encontramos Dulce Massingue, que montou a sua banca de venda de fruta. Para ela, este negócio não está a dar lucros. Diz que o pouco que ganha apenas serve para pagar o seu transporte. Nestes dias de crise, Dulce pensa em mudar de negócio, mas tudo depende do dinheiro que não aparece.
Foto: DW/Romeu da Silva
Trabalhar para pagar o transporte?
O trabalho de Jorge Andicene é recolher garrafas plásticas para serem recicladas pelos chineses. Sem ter revelado quanto ganha por este negócio, Jorge diz que não chega a ser bom, porque o mercado está muito apertado. Os preços de vários produtos subiram, por isso também os lucros são apenas para pagar o transporte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"As pessoas comem menos na rua"
A dona desta barraca não quis ser identificada, mas confessa que por estes dias o negócio baixou bastante. Vende hambúrgueres e sandes. As pessoas agora preferem trazer as suas refeições de casa para poupar dinheiro, diz. O negócio rende-lhe por dia o equivalente a dois euros, dinheiro que também deve servir para comprar outros bens para as crianças.
Foto: DW/Romeu da Silva
Costureira também não vê lucros
O arranjo de roupas é outro negócio pouco rentável, mesmo nos tempos das "vacas gordas". É oneroso transportar todos os dias esta máquina, por isso Maria de Fátima decidiu ficar num dos armazéns na cidade de Maputo, pagando um determinado valor. São poucos os clientes que a procuram para arranjar as suas roupas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Negócio já foi mais próspero
Um dos negócios que tinha tendência de prosperar na capital era a venda de acessórios de telefones. Mas como há muitas pessoas que fazem este negócio, a procura agora é menor e o lucro baixou muito. O que salva um pouco estes empreendedores é o facto de cada dia haver novos tipos de telefones.
Foto: DW/Romeu da Silva
Poder de compra reduzido
Nesta oficina trabalham jovens mecânicos especializados na reparação de radiadores. Não quiseram ser identificados, mas afirmam que durante anos este negócio lhes rendia algum dinheiro para pagar a escola. Mas com a crise que se vive agora, a situação agravou-se. São poucos os clientes que os procuram e alegam que muitos moçambicanos perderam poder de compra.
Foto: DW/Romeu da Silva
Nada de brilho
O negócio de engraxador é outro que já não está a render, segundo os profissionais. Os únicos indivíduos que os procuram são estrangeiros de origem europeia, sobretudo portugueses. Os nacionais, diz Sebastião Nhampossa, preferem fazer o serviço por conta própria em casa. Com esta crise, é normal os engraxadores serem visitados apenas por um ou dois clientes por dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estratégias para atrair o cliente
Quando as atividades da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) trouxeram à tona a real situação de higiene nos restaurantes, muitos cidadãos passaram a não frequentar estes locais. Como forma de deleitar a clientela, o dono deste pequeno restaurante promove música ao vivo de cantores da velha guarda e ten uma sala de televisão para assistir a jogos de futebol.