ONGs moçambicana e britânica lançam petição internacional a exigir que autoridades britânicas abram processo-crime contra bancos envolvidos nas dívidas ocultas. A Jubilee Debt Campaign fala em prestação de contas.
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Em Moçambique, o Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO), composto por 21 organizações da sociedade civil focadas na gestão de finanças públicas, lançou uma campanha e petição internacionais a exigir que o secretário para a área de Economia e Tesouro do Reino Unido, John Glen, investigue os bancos que concederam os empréstimos ilegais para a criação da Ematum, MAM e Proindicus.
Jorge Matine é membro do FMO defende que "só com uma investigação minuciosa das autoridades moçambicanas, norte-americana, como aconteceu agora, e gostaríamos que as autoridades britânicas pudessem também fazer a investigação, poderemos ter a oportunidade de conhecer os contornos do caso e toda a informação que permite que as autoridades, com os tribunais e entidades reguladoras possam tomar medidas com vista a um desfecho que para nós seria o mais importante: que os moçambicanos não pudessem pagar as dívidas ilegais ou contraídas de forma odiosa e fraudulenta."
Esse é o objetivo final da campanha lançada em parceria com a organização britânica Jubilee Debt Campaign, em português Comité para o Jubileu da Dívida: livrar os moçambicanos de pagarem uma dívida de dois mil milhões de dólares que não beneficiaram o país e contraídas sem a anuência do Parlamento, numa clara violação da lei.
Há matéria para autoridades britânicas avançarem com processo-crime
Exige-se ação contra bancos envolvidos nas dívidas ocultas
A agência do Credit Suisse em Londres foi um dos bancos que emprestou parte do valor, num processo que terá sido manchado por corrupção e suborno.
Há matéria suficiente para que as autoridades do Reino Unido avancem com um processo-crime contra os bancos envolvidos?
Tim Jones, colaborador da organização, socorre-se da lei local para responder: "Acreditamos que as provas obtidas pelas autoridades norte-americanas mostram que uma investigação tem de acontecer, para saber se os bancos por detrás dos empréstimos moçambicanos violaram a lei no Reino Unido. E isso inclui a lei sobre suborno no Reino Unido, que exige que os bancos tenham procedimentos que previnam que esse tipo de transações aconteçam."
Autoridades britânicas fizeram ouvidos de mercador?
De acordo com a Legislação do Reino Unido, "conceder subornos ou comissões a funcionários públicos em outros países é crime". Os funcionários do Credit Suisse envolvidos nos ilícitos que violaram essa lei não foram alvo de nenhuma iniciativa das autoridades britânicas. A detenção de Andrew Pearse, Surjan Singh e Detelina Subeva foi a pedido da justiça norte-americana que solicitou igualmente a sua extradição para os Estados Unidos.
Sobre a responsabilização, Tim Jones defende que "os bancos envolvidos estão sediados em Londres, e são as autoridades do Reino Unido que devem implementar a lei aqui."
Terão as autoridades do Reino Unido feito ouvidos de mercador para o caso? Tim Jones responde: "Não sabemos porque até agora não agiram. Estamos a fazer uma campanha em parceria com a sociedade civil moçambicana para exigir que as autoridades do Reino Unido investiguem esses empréstimos e levem todos os indivíduos e empresas responsáveis a prestar contas."
Outra parte envolvida nos ilícitos são altos funcionários do Governo moçambicano que estão agora na mira da justiça dos EUA por terem violado leis suas. E as autoridades moçambicanas só depois desta iniciativa iniciaram as detenções dos altos funcionários e gente a eles ligada, quando já tinham dados suficientes há bastante tempo para encetar uma ação. O primeiro a ser detido a mando dos EUA foi Manuel Chang, deputado da FRELIMO e ex-ministro das Finanças de Moçambique. Chang foi o acelerador de todas as ações de última hora relativas ao caso das dívidas ocultas.
Impacto da crise na vida dos moçambicanos
Trabalhadores em Maputo relatam as dificuldades que enfrentam todos os dias, com o país mergulhado numa crise financeira. Alguns ainda conseguem pequenos lucros, enquanto outros tentam estratégias para atrair clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Novos tempos, menos lucros
Ana Mabonze tem uma loja de gelados há pouco mais de sete anos e diz que os rendimentos não têm sido bons ultimamente. Por dia, lucra apenas o equivalente a cerca de dois euros. O negócio é feito na ponte cais, também conhecida por Travessia. Nestes dias, os lucros baixaram porque os automobilistas que iam de ferryboat para Katembe agora usam a nova ponte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"Boa cena"
O negócio de transferência de dinheiro por telefone conhecido por Mpesa está a alimentar muitas famílias. É o caso de Angélica Langane, que na sua banca "Boa Cena" diz ter clientes frequentemente, porque muitos estão preocupados em transferir dinheiro, seja para pagar dívidas, fazer compras ou apenas para ter a sua conta em dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
O dinheiro não aparece
Numa das ruas de Maputo também encontramos Dulce Massingue, que montou a sua banca de venda de fruta. Para ela, este negócio não está a dar lucros. Diz que o pouco que ganha apenas serve para pagar o seu transporte. Nestes dias de crise, Dulce pensa em mudar de negócio, mas tudo depende do dinheiro que não aparece.
Foto: DW/Romeu da Silva
Trabalhar para pagar o transporte?
O trabalho de Jorge Andicene é recolher garrafas plásticas para serem recicladas pelos chineses. Sem ter revelado quanto ganha por este negócio, Jorge diz que não chega a ser bom, porque o mercado está muito apertado. Os preços de vários produtos subiram, por isso também os lucros são apenas para pagar o transporte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"As pessoas comem menos na rua"
A dona desta barraca não quis ser identificada, mas confessa que por estes dias o negócio baixou bastante. Vende hambúrgueres e sandes. As pessoas agora preferem trazer as suas refeições de casa para poupar dinheiro, diz. O negócio rende-lhe por dia o equivalente a dois euros, dinheiro que também deve servir para comprar outros bens para as crianças.
Foto: DW/Romeu da Silva
Costureira também não vê lucros
O arranjo de roupas é outro negócio pouco rentável, mesmo nos tempos das "vacas gordas". É oneroso transportar todos os dias esta máquina, por isso Maria de Fátima decidiu ficar num dos armazéns na cidade de Maputo, pagando um determinado valor. São poucos os clientes que a procuram para arranjar as suas roupas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Negócio já foi mais próspero
Um dos negócios que tinha tendência de prosperar na capital era a venda de acessórios de telefones. Mas como há muitas pessoas que fazem este negócio, a procura agora é menor e o lucro baixou muito. O que salva um pouco estes empreendedores é o facto de cada dia haver novos tipos de telefones.
Foto: DW/Romeu da Silva
Poder de compra reduzido
Nesta oficina trabalham jovens mecânicos especializados na reparação de radiadores. Não quiseram ser identificados, mas afirmam que durante anos este negócio lhes rendia algum dinheiro para pagar a escola. Mas com a crise que se vive agora, a situação agravou-se. São poucos os clientes que os procuram e alegam que muitos moçambicanos perderam poder de compra.
Foto: DW/Romeu da Silva
Nada de brilho
O negócio de engraxador é outro que já não está a render, segundo os profissionais. Os únicos indivíduos que os procuram são estrangeiros de origem europeia, sobretudo portugueses. Os nacionais, diz Sebastião Nhampossa, preferem fazer o serviço por conta própria em casa. Com esta crise, é normal os engraxadores serem visitados apenas por um ou dois clientes por dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estratégias para atrair o cliente
Quando as atividades da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) trouxeram à tona a real situação de higiene nos restaurantes, muitos cidadãos passaram a não frequentar estes locais. Como forma de deleitar a clientela, o dono deste pequeno restaurante promove música ao vivo de cantores da velha guarda e ten uma sala de televisão para assistir a jogos de futebol.