Treze membros do Movimento Independentista de Cabinda (MIC) detidos no fim de semana começaram esta terça-feira a ser julgados sumariamente. Deputado Raul Tati diz que esta não é a solução para os problemas no enclave.
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Os membros do MIC, um novo movimento que visa a independência do enclave angolano e a defesa de forma não violenta dos direitos fundamentais do povo de Cabinda, foram detidos no sábado (11.08) por agentes dos Serviços de Investigação Criminal (SIC), sob a alegação de atos preparatórios contra a segurança do Estado e instigação à violência.
As detenções foram feitas na residência do presidente do MIC, Maurício Gimbi, momentos antes de um encontro para apresentação pública da nova organização independentista de Cabinda.
Os 13 ativistas começaram a ser julgados esta terça-feira (14.08) pelo Tribunal Provincial de Cabinda e incorrem em crimes que vão até 12 anos de prisão.
A acompanhar o assunto está Raul Tati, ativista de Cabinda e deputado da União Nacional para a Independência Toral de Angola (UNITA), o maior partido na oposição.
"Segundo as fontes policiais, os jovens terão sido persuadidos a não fazer o encontro e teriam registado alguma resistência, incorrendo naquilo a que eles chamam de instigação e desobediência à autoridade. Os jovens dizem que não foi exatamente o que aconteceu. Quando eles preparavam a apresentação, a polícia veio e começou a prendê-los", conta em entrevista à DW África.
Raul Tati já visitou os detidos e diz que os jovens foram postos numa cela sem quaisquer condições. "O lugar onde estão não dá nem para animais, mete dó", lamenta. Revela ainda que os 13 jovens do MIC dizem temer pela vida.
Diálogo com João Lourenço
O deputado da UNITA deixa um apelo ao Presidente angolano, João Lourenço, para dialogar de forma aberta sobre os problemas de Cabinda, ao invés de dar continuidade à política do seu antecessor. Deve "sentar-se com os cabindas e encontrar uma modalidade política e administrativa que possa ser aprovada pelos cabindas", defende.
Julgamento sumário em Cabinda de ativistas independentistas
"Se prender grupos e algumas personalidades de Cabinda, nunca vai resolver o problema. Eu não acredito que estes jovens, uma vez presos, desistam das suas convicções e daquilo que pretendem", afirma Raul tati.
À semelhança da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), movimento de guerrilha que há mais de três décadas vem exigindo ao poder político de Luanda a desanexação de Cabinda do território angolano, o novo movimento surge como os mesmos propósitos.
A DW África tentou, sem sucesso, ouvir a Procuradoria-Geral da República (PGR) e os advogados dos acusados.
Artivismo: a arte política de André de Castro
O papel político da arte é o mote de "Liberdade Já", a exposição do artista brasileiro André de Castro que lembra, entre outros ativistas, os presos políticos angolanos.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
"Liberdade Já" em serigrafia
A arte pode ter uma missão política - é o que prova esta exposição de André de Castro, a primeira mostra a solo do artista visual brasileiro na Europa. Este primeiro painel à entrada da exposição, em Lisboa, é um tributo aos presos políticos angolanos. O autor deu-lhe o título de "Liberdade Já", slogan que alimentou o movimento de solidariedade internacional pela libertação dos ativistas.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
Debate sobre política internacional
Tanto este projeto "Liberdade Já" (2015) como "Movimentos" (2013-2014) tiveram repercussão mundial. O artista brasileiro destaca, através das suas obras, os jovens presos políticos de Angola, libertados em 2016. As suas imagens acabam por incentivar o debate sobre acontecimentos políticos internacionais.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Os "revús" compõem o painel…
O artista compõe o painel com "monoprints" em serigrafias repetidas. Aqui podem ver-se alguns dos jovens angolanos presos em Luanda, em 2015, por discutirem um livro sobre métodos pacíficos de protesto. Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Nuno Álvaro Dala, Nito Alves, Benedito Jeremias e Nelson Dibango, entre outros, foram julgados pelo crime de atos preparatórios para a prática de rebelião.
Foto: DW/J. Carlos
… e multiplicam-se pelo mundo digital
O luso-angolano Luaty Beirão foi escolhido como símbolo do ativismo político, dando força à exposição, com a curadoria da Muxima. Os retratos multiplicaram-se no mundo digital, foram reproduzidos em t-shirts e posters. A venda das serigrafias expostas em mostras coletivas em Lisboa e Nova Iorque, em 2016, reverteu integralmente a favor das famílias dos presos políticos angolanos.
Foto: DW/J. Carlos
Além de Angola...
Em dezembro, André de Castro comemorou com as irmãs a abertura da exposição em Lisboa, que também apresenta rostos de ativistas como José Marcos Mavungo, advogado e ativista de Cabinda. Além de Angola, o artista desafia os visitantes a revisitar o movimento da Primavera Árabe. Dá a conhecer as pessoas e as suas lutas, propondo um ângulo mais pessoal e humano na narração do momento histórico.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Arte como ator social
No interesse do público e das comunidades, o artista brasileiro assume ser um promotor social. "Ao expor 'Movimentos' e 'Liberdade Já' juntos, a mostra permite um recorte da arte como ator social, questionando intenção, receção, apropriação e estética nas ruas e na internet", afirma André de Castro. É o que mostra a coleção "Movimentos", colocada na outra parede da sala.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Coragem para mudar o mundo
Nesta segunda parede, André de Castro imortaliza várias causas em diversas partes do mundo. São mulheres e homens que recusam aceitar a forma como são tratados pelos respetivos Estados. Acreditam, tal como o autor da exposição, que o mundo pode ser muito melhor. Por isso, com coragem, decidiram sair à rua.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Identidade política dos manifestantes…
Este primeiro projeto de André de Castro, em 2013, foi selecionado para a 11ª Bienal Brasileira de Design Gráfico e visto por mais de 40 mil visitantes, passando por Miami (2013), Nova Iorque (2014) e Brasília (2015). As serigrafias, que resultam de entrevistas realizadas através das redes sociais, retratam as identidades políticas dos manifestantes de diferentes países.
Foto: DW/J. Carlos
… e cultura das manifestações
Através das serigrafias, o artista procurou valorizar a força da ação individual dos manifestantes. Cada participante enviou uma foto de rosto, usando as redes sociais, e respondeu a uma série de perguntas sobre a sua identidade política. Assim, foram criados retratos políticos individuais que, em conjunto, formam uma mini etnografia da cultura material e imaterial das manifestações.
Foto: DW/J. Carlos
Do outro lado do mundo
Em Nova Iorque, no Zuccotti Park, a sugestão original foi ocupar Wall Street, símbolo dos capitais financeiros internacionais. Porque, afinal, foi a especulação de capitais que deu origem à crise que atormentou o mundo há anos. Questiona Daniel Aarão Reis, ao apresentar a exposição: "Como aceitar que os responsáveis não ficassem com o fardo principal das medidas de superação desta mesma crise?"
Foto: DW/J. Carlos
Novos dispositivos de mobilização
A arte política de André de Castro, que também evoca figuras como Ghandi e Martin Luther King, faz lembrar a tradição dos grandes movimentos dos anos 1960, que dispensava partidos e sindicatos. Ao invés disso, surgiram novos dispositivos de mobilização e de ação.
Foto: DW/J. Carlos
Espelho D’ Água valoriza as serigrafias
A exposição, que também será posteriormente exibida no Porto (a norte de Portugal), encontra-se no Espaço Espelho D’Água, em Lisboa. A calçada deste espaço, tipicamente portuguesa, foi construída com base numa obra do autodidata artista plástico angolano, Yonamine, que tem vivido em diversos países de África, Europa e América do Sul.