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Junta militar do Mali desvaloriza retirada de tropas alemãs

Henry-Laur Allik
24 de novembro de 2022

A junta militar maliana não se mostra preocupada com a anunciada retirada das tropas alemãs e fala em decisão "mais sensata do que o esperado". Mas a partida de mais um aliado militar deixa a sociedade civil apreensiva.

Deutschland Bundeswehrsoldaten kehren aus Mali zurück
Foto: Moritz Frankenberg/dpa/picture alliance

Após dez anos a tentar ajudar a estabelecer a paz no Mali, a Alemanha anunciou esta semana que vai retirar as suas tropas do país da África Ocidental. A participação do exército alemão na MINUSMA – a missão da ONU no Mali – termina em maio de 2024 "de acordo com um plano muito ordeiro", disse a ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, em Berlim, na terça-feira (22.22). Lambrecht explicou que a retirada gradual foi concebida para manter algumas tropas no país durante as eleições marcadas para fevereiro.

As autoridades malianas reagiram calmamente ao anúncio. Fousseynou Ouattara, vice presidente do Comité de Defesa, Segurança e Defesa Civil da junta militar disse à DW que a decisão foi "muito mais sensata do que o esperado". A junta tinha assumido que a Alemanha iria "seguir cegamente a França", acrescentou. O exército francês concluiu a sua retirada em agosto.

Não deixando de sublinhar a importância da parceria alemã com o seu país, Ouattara frisou que o Governo maliano é contra "expandir de forma permanente uma presença militar estrangeira no seu território". O responsável aludiu à declaração do ministro maliano da Deefesa, Sadio Camara, de que o exército nacional é capaz de defender o seu próprio país.

Cada vez mais países planeiam retirar as suas tropas do MaliFoto: Ishara S. Kodikara/AFP/Getty Images

Sem surpresas

A posição é reforçada por Amadou Maiga, secretário parlamentar do Governo de transição do Mali. Em entrevista à DW, diz que a decisão alemã não foi uma surpresa: "Penso que vai apenas requerer uma reorganização das nossas tropas e talvez um pouco mais de logística. Mas vamos lidar com isso. Estávamos à espera disto".

Maiga tem o cuidado de frisar quão grato o Mali está pela ajuda da Alemanha: "Penso que a cooperação vai continuar a outros níveis, como o desenvolvimento e a segurança. Agradecemos-lhes e vamos enfrentar o nosso destino".

Souleymane Camara, presidente da organização de direitos humanos do Mali, está menos otimista: "A retirada das forças de países que vieram ajudar a travar os avanços dos jihadistas é muito preocupante, porque o Mali não tem os meios para lidar com a situação", afirmou, em declarações à DW.

A junta militar do Mali planeia recrutar 26.000 soldados este anoFoto: JOEL SAGET/AFP/Getty Images

Planos para recrutar 26.000 soldados malianos

Camara afirma que a junta militar tem planos para recrutar 26.000 soldados só este ano. "Mas é preciso anos para os treinar e destacar", alerta.

Encontrar outros países para ocupar o espaço dos que agora partem será difícil, especialmente porque há "uma crise de confiança entre o Governo e a MINUSMA". Segundo Camara, o vazio de segurança poderá beneficiar os jihadistas.

O exército chegou ao poder no Mali em maio de 2021, desmantelando um Executivo composto por civis e militares formado após um golpe anterior, em agosto de 2020. Os novos líderes suspenderam as eleições planeadas, levando a União Europeia a pôr fim à sua missão de treino no país cada vez mais desestabilizado por rebeldes radicais islâmicos.

Presença de mercenários russos no Mali preocupa a AlemanhaFoto: French Army/AP/picture alliance

Relação conturbada com a Alemanha

As relações entre a nova junta militar e a Alemanha deterioraram-se rapidamente. Depois de oito soldados alemães terem sido impedidos de abandonar o país, Berlim suspendeu temporariamente as suas operações militares em agosto. As patrulhas foram retomadas em setembro, mas, desde então, a urgência dos debates sobre a permanência no Mali acentuou-se na Alemanha.

A questão dividiu o Governo do chanceler Olaf Scholz. A ministra da Defesa não escondeu a sua convicção de que seria melhor a Alemanha retirar as suas tropas. Lambrecht acusou a junta de obstruir deliberadamente a missão da ONU, confiando em "forças russas", referindo-se ao Grupo Wagner, mercenários com ligações ao Kremlin, cada vez mais presente em África.

Berlim destacou cerca de 1.000 tropas para o Mali, a maioria perto da cidade de Gao, no norte, sobretudo em operações de reconhecimento para a MINUSMA. Depois da chegada das forças russas a Gao, Lambrecht levantou a suspeita de que estas tropas estariam envolvidas em abusos dos direitos humanos.

A ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, tinha já lançado o apelo para que o exército alemão se mantivesse no Mali para garantir a proteção da população civil. A ministra da Defesa defendia que, em vez disso, os militares alemães poderiam envolver-se mais no Níger, acrescentando que seria "irresponsável" abandonar a região do Sahel.

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