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Junta Militar do Mali dissolve todos os partidos políticos

af | com agências
15 de maio de 2025

Medida ocorre após protestos por eleições e sequestros de ativistas; oposição fala em golpe à reconciliação e especialistas alertam para risco de maior instabilidade.

Mali Bamako 2023 | Verfassungsreferendum unter der Regierung von Putschführer Assimi Goita
Foto: AP Photo/picture alliance

A junta militar que governa o Mali anunciou, na terça-feira (14), a dissolução de todos os partidos políticos e organizações de carácter político no país. A medida foi comunicada ao país através da televisão estatal, com uma declaração lida pelo ministro das Reformas Políticas, Mamani Nassire.

"Os partidos políticos e as organizações de carácter político são dissolvidos em todo o território nacional. É proibido aos membros dos partidos políticos e das organizações políticas dissolvidas realizar qualquer reunião", declarou o ministro.

A decisão, que apanhou de surpresa a comunidade internacional, surge num contexto de crescente repressão contra vozes dissidentes no país. Nas últimas semanas, foram reportados vários sequestros de ativistas pró-democracia em Bamako, capital do Mali, ao mesmo tempo que se intensificavam os protestos que exigem a realização de eleições livres e multipartidárias.

Nas ruas, as reações dividem-se. Foto: AFP

Condenação da oposição e críticas públicas

Vários partidos políticos condenaram de imediato a decisão. Moussa Mara, antigo primeiro-ministro maliano, recorreu à rede social X (antigo Twitter) para expressar o seu descontentamento:

"Um duro golpe para o processo de reconciliação iniciado no ano passado.”

Nas ruas, as reações dividem-se. Ousmane, cidadão ouvido pela DW, mostrou-se crítico face à medida:

"Se estabelecemos a democracia, e também concordamos que o multipartidarismo faz parte da democracia, não percebo porque é que estamos a retirar uma parte da democracia."

Por outro lado, Niaré, outro entrevistado, defendeu que o problema reside nos próprios políticos e não na junta militar.

Coronel Assimi GoitaFoto: OUSMANE MAKAVELI/AFP/Getty Images

Especialistas alertam para agravamento da crise

O sociólogo Mohamed Amara alertou para o risco de uma escalada na tensão política, num país já fragilizado por uma grave crise de segurança:

"Dialogando entendemo-nos uns aos outros e criamos consenso das reformas e podemos reorganizar o cenário político com base na confiança entre as instituições.”

Amara apelou ao diálogo entre o governo de transição e os representantes da classe política, como forma de evitar um agravamento da instabilidade.

Contexto: golpes, adiamentos e desaparecimentos

Ocoronel Assimi Goita assumiu o poder após os golpes de Estado de 2020 e 2021. Prometeu eleições para fevereiro de 2022, mas estas foram adiadas, alegadamente por "motivos técnicos”. Desde então, nenhuma nova data foi fixada.

Em abril deste ano, ministros do governo de transição recomendaram o prolongamento do mandato presidencial de Goita até 2030 — uma proposta que gerou novas manifestações e protestos em todo o país.

No seguimento de um protesto agendado para 9 de maio, as autoridades militares suspenderam todas as atividades políticas. Desde então, vários ativistas desapareceram. A organização Human Rights Watch denunciou o desaparecimento forçado de dois líderes da oposição, ambos sequestrados no dia 8 de maio. 

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