Keita eleito Presidente do Mali com esmagadora maioria
15 de agosto de 2013Já foram divulgados os resultados oficiais da segunda volta das eleições presidenciais malianas. Os resultados confirmam o ex-primeiro-ministro Ibrahim Bubakar Keita (IBK) como novo Presidente do Mali. Keita conquistou 77,6% dos votos, contra 22,4% do adversário, Soumaila Cisse, segundo dados divulgados pelas autoridades eleitorais esta quinta-feira (15.08).
De certa forma, este anúncio é redundante. No início da semana, sem esperar pela proclamação oficial dos resultados da segunda volta, Cissé deslocou-se com a sua família à residência de Keita para reconhecer a sua derrota e felicitar o vencedor – um gesto considerado sem precedentes nos anais políticos do Mali e que foi saudado pelos malianos como um sinal de maturidade política. Muitos temiam uma crise pós-eleitoral na qual uma contestação dos resultados poderia mergulhar o país no caos.
IBK deverá tomar posse como Presidente do Mali em Setembro. Para já, pode começar a trabalhar nos preparativos para gerir os enormes desafios que o aguardam.
MNLA espera diálogo "franco e justo"
Estas foram as primeiras eleições no Mali depois do golpe de Estado de 22 de março de 2012 e de meses de ocupação do Norte por combatentes tuaregues e islamitas. A ameaça de ataques durante as eleições não passou disso mesmo, de uma ameaça. Milhares de soldados africanos e franceses garantiram a segurança durante os escrutínios.
No Mali, muitos interrogavam-se como os tuaregues do Movimento Nacional de Libertação da AZAWAD (MNLA) iriam receber o anúncio oficial da vitória de IBK.
"Esperamos que o novo Presidente possa trazer justiça aos malianos, principalmente àqueles que vivem no norte do Mali", sublinhou Moussa Assarig, porta-voz do MNLA na Europa, em declarações à DW África.
"Que o novo Presidente possa realizar connosco negociações francas, justas e principalmente equitativas e que esse diálogo permita ao povo da AZAWAD, em toda a liberdade, obter justiça e assim gerir o seu território com a maior autonomia possível", concluiu.
Políticos, diplomatas e analistas esperam que, com um mandato forte, Ibrahim Boubacar Keita possa negociar uma paz duradoura com os separatistas do MNLA, reformar o exército e atacar a corrupção, entre outras exigências dos malianos e da comunidade internacional. No ano passado, a economia contraiu 1,2%. As infra-estruturas no Norte foram destruídas pela guerra e a paz com os rebeldes ainda é frágil.
Antigo primeiro-ministro e presidente do parlamento maliano, IBK é considerado um político com muita experiência, capaz de inovar e desenvolver o país. Uma opinião partilhada pela comunidade internacional, como disse Richard Zink, que dirige a delegação da União Europeia (UE) em Bamaco.
"Os doadores conhecem-no porque sempre dialogou connosco, mesmo quando não ocupava cargos oficiais. Ele tem uma boa rede de contactos. Mas tem que ser capaz de constituir uma equipa sólida, rever a Constituição, as estruturas e tomar decisões importantes sem muita demora", explica Zink.
Eleições tranquilas
Cerca de 6,5 milhões de malianos foram chamados às urnas, no domingo passado (11.08), para a segunda volta das eleições presidenciais, depois de no primeiro turno (28.07) não ter havido um vencedor claro.
Agora, a escolha foi apenas entre dois candidatos: o antigo primeiro-ministro Ibrahim Boubacar Keita e o ex-ministro das Finanças Soumaila Cissé.
Keita foi sempre considerado favorito, depois de vencer na primeira volta com 39% dos votos. Na altura o adversário Soumaila Cissé convenceu apenas 19% dos eleitores.
No domingo, o escrutínio decorreu de forma tranquila, segundo Annette Lohmann, que chefia a Fundação alemã Friedrich-Ebert na capital maliana, Bamaco: "Tive uma impressão bastante positiva. A eleição decorreu de forma pacífica", disse.
Menor participação na segunda volta
Desta vez, o nível de abstenção foi ligeiramente maior do que na primeira volta, segundo os resultados oficiais. A participação na segunda volta foi de 45,7%, ao passo que, na primeira volta, tinha quase atingido os 49%.
Pouco depois do escrutínio, já se notava que menos pessoas tinham ido às urnas. Alguns observadores eleitorais disseram que muitos eleitores não foram votar devido ao mau tempo. Na manhã da eleição, choveu fortemente em muitas zonas do país. Isso terá dificultado bastante o caminho para os postos eleitorais.
Mas para Christopher Fomunyoh, da organização não-governamental norte-americana "National Democratic Institute", terão havido outros motivos: "Alguns dos apoiantes dos candidatos que não passaram à segunda volta preferiram ficar em casa a ir votar num outro candidato", observa.
Fomunyoh diz que este escrutínio foi melhor organizado que o primeiro. Há duas semanas, muitos malianos não sabiam qual era o seu posto eleitoral. Desta vez, encontraram-no mais rapidamente, afirma.
Apesar das eleições terem decorrido de forma pacífica, Annette Lohmann, da Fundação alemã Friedrich-Ebert, lamenta que os refugiados malianos quase não tenham podido votar. Segundo as Nações Unidas, devido ao conflito no norte do Mali, cerca de 200 mil pessoas tiveram de procurar refúgio nos vizinhos Burkina Faso, Níger, Mauritânia e Argélia.
(Artigo publicado a 13.08.2013 e atualizado a 15.08.2013)